Capítulo XIX

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O caminho de volta ao castelo fora, literalmente, congelante. O maior motivo para isso foi ter estado no cavalo sozinha, haja vista que Apolo aparentemente decidira em sua consciência que manter a distância de mim era necessário.

O tempo não havia melhorado, e mesmo com dificuldade, ele guiou o cavalo seguindo a pé, fingindo agir como um guarda inacreditavelmente resistente ao frio e ao cansaço.

Quando chegamos ao palácio, a pouca claridade indicava que o sol já deveria estar nascendo. Me passei novamente pela Rayana e entrei a passos rápidos até meu quarto, esperando que ninguém houvesse percebido a minha falta.

Minhas esperanças foram quebradas quando abri a porta e vi mamãe sentada em minha cama de braços cruzados.

— Olhe só quem apareceste com o raiar da manhã.

— Eu posso explicar...

— Sabe, imagine a minha reação ao vir dar um beijo de boa noite em minha filha, e não a encontrar. Tola como sou, imaginei que estava com suas irmãs e fui dormir. Nesta manhã, as criadas apareceram com uma carta destinada a ti, e pensei: eu mesma a entrego. Nunca passo tempo com Cecília, ela é mais apegada ao pai, esta é a minha chance de termos uma aproximação de mãe e filha.

— Mamãe...

— Com quem e aonde você estava Cecília? Só lhe darei uma chance para me dizer a verdade antes que eu relate tal fato ao seu pai.

— Por favor, o papai não pode saber de nada disso. — digo ouvindo o próprio desespero em minha voz.

— Você saiu do castelo? Passaste a noite com um homem? Por favor me diga que a sua honra...

— A minha honra está intacta, mamãe. O que pensas de mim? Me conheces tão pouco a tal ponto? — a olho magoada.

— Então me dê um motivo, Cecília. Um, que me convença que não é completamente e inteiramente inadequado uma princesa passar a noite fora de seu quarto.

— Só lhe conto se a senhora prometer guardar segredo.

— Isto não é uma negociação. Eu sou a sua mãe!

— E eu sou a sua filha. Onde está a confiança em mim? — digo alto sentindo uma lágrima descer e a vejo soltar os ombros. Ela olha para baixo e engole uma saliva, segurando firme as próprias mãos.

— Não contarei. Onde estava?

— Aprendendo a lutar. — confesso e a vejo arregalar os olhos. — Eu quero aprender a me defender, que mal há nisso?

— Essas coisas não combinam com você, Cecília. Isso é mais cara de sua irmã.

— Será que por um segundo a senhora poderia parar de me associar com a Violetta? — sorrio sem humor, me levantando da cama. — É por isso que nunca nos aproximamos, mamãe. A senhora sempre culpou as atitudes erradas de Vi e me comparava a todas elas, como se eu tivesse que me lembrar constantemente de nunca falhar e ser uma rainha a sua altura, mas parece que nunca é suficiente.

— Isso não é verdade, filha...

— Sim, é verdade, e a senhora sabe disso. Estou farta de tentar alcançar um padrão perfeito que não existe.

— E é saindo de madrugada para se arriscar com armas que pensa que irá me punir?

— Eu não a estou punindo, eu estou tentando me sentir forte e capaz sem sentir medo a todo tempo!

— Querida, quem lhe disse que você não é forte e capaz? — ela me surpreende segurando meu rosto e enchendo os olhos de lágrimas. — Filha, sei que possuímos uma relação imperfeita, mas eu tenho tanto orgulho de você. Tanto orgulho, Cecília.

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