Capítulo XXXII

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A fortaleza sangrenta já estava coberta com a população de Beaumont. O local, criado desde o início da formação do reino, era aderido ao palácio e aberto a cada quatro estações para o julgamento de todos os criminosos e traidores, a fim de obter justiça.

Mesmo após dezesseis séculos, a pena de morte ainda era o meio mais eficaz segundo a nobreza para isso, e mesmo que tal evento nunca tenha sido exatamente correto diante de meus olhos, os costumes históricos eram explicitamente difíceis de serem quebrados. O povo gritava da plateia como se estivesse assistindo a um grande espetáculo de diversão.

Os corpos conforme enforcados iam sendo jogados as carroças como se não passassem de restos de lixo, e os nobres ao meu redor, sentados em suas cadeiras cobertas de madeira e partes de ouro, assistiam solenes comendo suas frutas e bebericando vinho.

Estávamos em uma espécie de camarote, envolto em uma tenda de seda e separados a uma distância considerável (e guardas a postos) dos presos e da população que gritava por justiça.

Desde criança, eu nunca gostara de vir aqui. Viro o rosto e olho para meu pai, que diferente dos outros nobres não demonstrava nenhuma expressão. Seu maxilar cerrado e olhar fixo apenas encaravam toda a cena como se fosse ensaiada, uma obrigação que ele tinha que cumprir.

Lembro-me de questioná-lo sobre tudo isso quando pequena com Violetta, e a resposta que ele nos deu nunca saíra de nossa memória:

— É o nosso dever dar ao povo a justiça que eles querem. A maioria desses homens que estão sendo enforcados mataram muitas famílias, destruíram a vida de várias crianças e estupraram inúmeras mulheres. Os outros reinos usam da tortura para acabar com os criminosos, consegui que isso não fosse feito por aqui. Os que tiveram crimes pequenos passam o resto da vida nos calabouços do castelo. Esses são realmente perigosos. Não fico feliz em executar pessoas, minhas filhas, mas por obrigação devemos nos sentar e torcer para que acabe logo.

Foi o que eu fiz. Engoli em seco a cada grito que escutava, e a cada cena violenta que via. Queria que tudo acabasse o mais rápido possível. Os homens da fila andavam devagar como ovelhas indo para o matadouro, e o cheiro de tomates e frutas podres jogadas pelas pessoas no centro de execução invadiu o ambiente. Uma mão segurou meu braço com força, e não me surpreendi ao ver que era Arabella.

— Ai que horrível! Detesto vir a esse lugar. — ela diz baixo tapando os olhos com a outra mão.

— Eu não me importo. Prefiro que morram. — diz Violetta, mordendo uma maçã.

— Não sei como consegue dizer algo assim irmã. — digo sentindo minhas mãos suarem. Eu estava nervosa. Tentava com todas as minhas forças manter a face serena como a de papai, mas não sabia até quando iria aguentar.

— Está vendo esse homem que o carrasco está arrastando agora? — Vi aponta, recebendo um olhar desaprovador de mamãe. — Ele abusou de cinco crianças e depois as cortou em pedaços e mandou para os pais.

— Para, não quero ouvir. — diz Bella, tirando a mão de meu braço e tapando os ouvidos.

— E aquele ali com uma cicatriz no rosto? Foi ele que atacou tio Oliver no dia da invasão ao castelo. O único que não deveria estar aqui é...

Violetta não precisou terminar. Meu coração disparou quando reconheci o rosto de Apolo aparecendo na fila. Tudo ao meu redor pareceu me esmagar como se eu fosse ser a próxima executada na fila a caminho da forca.

Minha respiração parou por completo e mesmo envoltos por uma multidão enfurecida, nossos olhos se encontraram. Minhas irmãs seguraram simultaneamente a minha mão, de cada lado, e eu me arrependi amargamente de estar ali.

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