- Rômulo, espere! - disse Lotus.
O ptofessor passou as mãos no seu cabelo grisalho e indagou:
- Mas o que houve?
- peço a você que não use o jardim na aula de hoje.
- Mas qual o motivo?
- Sr Rômulo, de professora para professor, eu sei o que estou fazendo. Acredite.
Rômulo se virou para os alunos ainda desordenado com a situação:
- Bom, eu tenho uma aula que necessita de espaço.
- Use o pátio. Acredite, eu sei o que estou fazendo.
O homem de cabelos grisalhos retorna para o caminho osposto do jardim mas interrompe seus passos:
- Meus alunos, - disse ele - vão na frente, eu logo chegarei lá.
Os alunos seguem em direção ao pátio e Rômulo pede satisfações a Lotus:
- Eu planejei uma aula ao ar livre para os alunos, aula essa que você acaba de cancelar. Portanto explique-me, por gentileza, o que está acontecendo. - disse Rômulo.
- É por causa do aluno.
- O escolhido?
- Exatamente. Não acha arriscado deixar ele exposto com aquelas ameaças pela cidade.
- O Sr Ethan se dedica todos os dias para proteger a escola criando aquela barreira de defesa.
- Mas e se não for suficiente? Ethan está velho e cansado.
- Ainda sim eu duvidaria que alguém quebrasse a sua barreira. Mas vamos chamar Amélia ainda hoje para falar sobre isso, concordo em termos cautela. Com licença.
Rômulo se retira, enquanto Lotus o observa com seus olhos serenos e seu corpo imóvel.Entre um dos andares de um prédio abandonado da Vila Verde, estava Kage com uma agulha apontada para Shizen, aflito e intrigado por não ver o garoto sair. O homem colocava apenas um dos olhos por uma janela destroçada mais uma vez, quando vê a se mesmo. Ele já sabia quem estava por perto.
- Pode explicar o quê aconteceu? - perguntou Kage.
- Não podemos matar o garoto. - Lotus respondeu subindo uma velha escada.
Os dois barbonos ficaram frente a frente:
- Como assim "não podemos"?
- Descobri algo importante que Aikuma deve saber, vá até a mansão e avise que eu tenho novidades.
Os dois descem da construção, ele antes dela para não chamar a atenção. Lotus segue o caminho de volta para Shizen quando se depara com a cigana Idalina:
- Teu coração é gelado, não deixe que as mágoas do passado destruam o que há de bom em você, o pouco que resta.
- Você não sabe nada sobre mim, é uma cigana fraudulenta que vive de enganar pessoas blefando sobre seus destinos. - respondeu Lotus.
- Não, jovem mulher, eu conheceu um coração machucado quando vejo um olhar como o teu.
Lotus não retrucou, continuou seu destino à escola, deixando a cigana mais uma vez para trás.
Enquanto Lotus subia os degraus do morro de Shizen, a cigana lhe fitava e ditava palavras em latim:
- illuminatio et mundaret.Lotus chega à porta, onde Leon a esperava:
- Faz mais de dez minutos que o teu horário começou, professora Lotus.
- Tive um imprevisto.
- Sempre tem. Bom... os teus alunos estão te esperando na sala 12. Mas o que aconteceu hoje não poderá se repetir.
- Está me dando ordens? - Lotus perguntou com sarcasmo.
- É tua obrigação de professora é estar na sala antes dos alunos.
- Não se preocupe, vice diretor Leon, isso não se repetirá. Agora ouça: eu não admito que alguém, não importa quem seja, se refira a mim dessa forma. Agora já estou indo. Com minha licença.
Ao passar ao lado, Leon sentiu mais uma vez uma energia pesada emanando de Lotus.
- Há algo de errado Lotus. Há mais de três anos você não é mais a mesma de antes, se tornou arrogante e ausente. Será que não percebe o quão estamos desconfortáveis com esta tua personalidade de intimidação?!
Lotus para, virasse:
- A única coisa de errado aqui é você se metendo em minha vida, uma coisa que não lhe diz respeito. Abaixe o tom, seu cargo de vice ainda não foi efetivado.
Surgiu-se ali um embate, Leon se sentiu desrespeitado:
- Eu não vivo de exibir cargos, vivo por amor à magia, eu não sou como você que vive de aparências. Agora eu é que não admito ser definido dessa forma por você. Isso não tem a ver com cargos, tem a ver com ética e moral pessoal.
Lotus o encarou de frente e expressou apenas uma palavra antes de se virar:
- Ridículo.
A mulher saiu em direção à sala 12. Leon respirou fundo e abaixou o rosto sobre a mão. Professora Lívian se aproxima:
Em um pátio, Rômulo prepara sua aula para os alunos. Piso de pedras cinzas e rachadas. Trepadeiras com flores brancas e vermelhas se estendiam nas paredes. O professor se posiciona sobre um pequeno tablado de madeira. As pálpebras caídas de Rômulo mostrava uma serenidade em sua personalidade e seriedade no que faz. O homem passa as mãos na barba antes de dar suas primeiras palavras:
- Bom dia a todos vocês, sejam bem vindo a aula de história da magia. Falaremos hoje sobre a origem do misticismo.
Os alunos estavam de pé, enquadrados no centro do pátio. Rômulo bate palmas e um grande livro surge em sua frente. Sem nem mesmo tocá-lo, o professor faz o livro abrir, fazendo mecher todas as páginas e o compactando em uma página específica. Rômulo começa a ditar as frases da página:
- A magia surgiu desde o princípio do nosso mundo, presente em todos os ambientes, a magia é uma força natural na qual podemos obter dons. Em 1472, um grande mago chamado Renatus Modotte, descobriu um dom chamado Luxissismo, o ato e dom de projetar ou manipular a luz em prol do equilíbrio da vida. Renatus tinha um irmão mais novo chamado Orfeu Modotte, que aprendeu a arte da invocação. Renatus e Orfeu criaram um espelho, o espelho de linfos, o qual tinha a função de prender almas malignas ou selar poderes das trevas. Mas Orfeu passou a gostar das artes das sombras, e decidiu ajudar seu irmão usando-as. O Conselho de magia da época atentou aos irmãos quanto a isso, disse que manipular as trevas era algo muito perigoso que poderia acabar possuindo o corpo do executor da magia. Quatro anos, depois, aconteceu o esperado. Orfeu se perdeu para si mesmo, fazendo as trevas o controlar, chegando a matar seu irmão.Com um estalar dedos, Rômulo fez o livro fechar, causando um grande estrondo sonoro e o guardando em uma bolsa.
- Então, - disse Rômulo - O que eu quero dizer a vocês é que no mundo da magia você tem duas escolhas, sendo uma delas muito penal.
- Mas por que Orfeu fez isso com o próprio irmão, porquê não soube conter a sua magia? - perguntou Dinho.
- Aí é que está, meu caro aluno. Assim como a gente pode controlar a magia, ela pode fazer o mesmo conosco. - explicou o professor olhando para Augusto. - Nunca deixe a magia dominar vocês.
Sem nem mesmo perceber, o nariz de Augusto começa a sangrar:
- Professor, - disse o garoto com a mão no rosto - preciso ir ao banheiro.
A roupa de Augusto estava tingida de gotas vermelhas:
- Alguém acompanhe ele. - falou Rômulo.
Dinho se voluntariou e foram ambos juntos.Durante o caminho, Dinho encontra Érica:
- o que houve com ele? - Perguntou a garota.
- Ele está sangrando pelo nariz.
- Venha, venha, - disse ela - vamos para a enfermaria.
Ao chegar na enfermaria, o lugar estava vazio. Augusto se sentou em uma maca, branca como todas as outras. Clara chega com uma garra de soro e um pedaço de algodão:
- Vamos, deixe-me passar isto em você. - disse a garota para o limpar o rosto de Augusto.
A porta da enfermaria se abre, era o professor de Érica, Sr Raffaelo:
- O que está acontecendo?
- Este aluno professor, - Érica explicou - ele chegou com nariz sangrando.
- Deveria ter me chamado.
Raffaelo percebeu que o sangue de Augusto era mais escuro do que o normal e olhou nos olhos do garoto.
- Muito bem, rapaz, vamos dar um jeito nisso.
Raffaelo tinha um forte dom de regeneração e cura. Acalmou o jovem e disse que não tivesse medo. Com seu dedo, o professor criou um arco de luz na frente do rosto do garoto e o sangramento parou.
Raffaelo estranhou a aura de Augusto, algo parecia pesar e encarando o jovem ele perguntou:
- Sei que todos nós temos segredos, mas sinto que algo está fazendo mal para o seu corpo. Você tem algo para me dizer?
Augusto nem se quer pensou e negou qualquer coisa que sentia. No mesmo instante aparece Rômulo procurando saber como estava o seu aluno.
Todos os professores já sabiam da presença de Augusto e quem ele era, até o velho Ethan.
- Sugiro que não faça esforço hoje - sugeriu Raffaelo.
Rômulo explica que aula é leve mas que se for necessário não há problemas em deixar o aluno faltar.Enquanto isso, no centro urbano Kage chega à mansão de Aikuma pronto para explicar o ocorrido, o qual fica ansioso para saber o que de fato está acontecendo.
- Só pode ser algo muito importante, Kage. Lotus deve ter uma boa razão para proteger o garoto, e eu espero isso dela.
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Shizen
RandomEm séculos atrás, a luz e a escuridão se espalharam pelo mundo após um ato covarde. Nos tempos atuais, os dois poderes voltarão em busca de um receptáculo humano. Um grupo de magos tentarão se apossar do jovem que possuir um dos poderes. É nesse mom...