você está viciado em mim

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Eu acordo e percebo que minha cabeça dói. Como sempre, cambaleio pela casa e entro no banheiro. Eu dormi no chão e minha cara está toda amassada. Consigo me lembrar da noite anterior, amém. Sinto vergonha de ter chamado Yeonjun de pão, espero que ele não tenha pesquisado.

Me arrumo, bebo café e saio. Me surpreendo ao dar-me conta de que ontem não havia fumado. Isso me surpreende, realmente. Toco no meu bolso para checar se ainda tenho cigarros e dou-me conta de que minha caixa não está comigo, nem o isqueiro. Acho que estou em completo desespero e procuro em todo canto dessa rua, vai que caiu no chão. Não, não, não. Droga, vou ter que comprar outro.

— Bom dia — cumprimento o pessoal do restaurante com a cara fechada. Vou logo me trocar.

Ao sair do vestiário dou de cara com Yeonjun. Ele está usando máscara e o cabelo ainda está molhado, só que jogado para trás. Me curvo para cumprimentá-lo, ele faz o mesmo.

— Bom dia, Soobin — ele bagunça o próprio cabelo para secar. Acho que acordou atrasado — Você esqueceu sua jaqueta aqui ontem.

— Uh, sério? — assim fico mais feliz. Meus cigarros devem estar lá.

Ele assente com a cabeça e some por uns minutos. Estou amarrando meu cadarço quando de repente ele aparece com a peça de roupa.

— Obrigado — agradeço e vou logo checando os bolsos. Não estão em lugar algum. — Droga.

— Hum? Falou comigo?

— Hã... Nada, não — balanço minha mão para que ele esqueça do assunto.

Seu celular começa a tocar, ele pede licença e se afasta. Saudades de ter um celular, estou sentindo falta. Não quero comprar mais nada parcelado ou vou enlouquecer. Honestamente, o capitalismo em si me enlouquece e tudo isso é uma grande porcaria. Quando se está na merda e desejando um determinado produto, você enfim consegue entender o porquê dos ladrões.

Yeonjun atende em francês. Sei disso porque a pronúncia é única e eu tenho aprendido algumas coisas. No metrô estive lendo e praticando, ao máximo tentando evitar os olhares alheios. Ele é muito fluente. Se eu fosse fluente assim como ele, eu seria um nojo de pessoa. Agora eu entendo por que aquele cara me mandou para onde o céu não toca. Eu faria o mesmo se soubesse francês.

Me saio antes de ficar esperando que nem um otário essa ligação terminar. Daqui a pouco o expediente vai começar, é melhor eu ficar preparado. Me encosto no balcão e fico de bobeira.

— ... França, idiota — estou escutando a conversa de outros garçons. Não gosto de fofoca, mas hoje não tenho nada de interessante para fazer.

— Mas ele estava conversando em inglês — um outro homem responde.

— Vocês são burros? Vejam aqui, está no Instagram! — uma moça mostra o celular para os dois. Eu não me lembro o nome de ninguém — França! E é daqui a duas semanas, presença confirmada.

— Ai, eu queria ir... — um deles sonha acordado.

— Eu só me interesso pela comida que vai ter e o discurso de Yeonjun — a mulher comenta e isso chama a minha atenção.

França? Daqui a duas semanas? Discurso? É uma pena eu não estar com meu celular, caso contrário eu mesmo checaria a veracidade da informação apresentada. Óbvio que tudo está pela metade e eu não estou entendendo nada, mas não quero me meter na conversa. Não tem muitas pessoas por aqui que gostem de mim.

— É um evento só para gente elegante e refinada, criatura — pela voz desse cara, ele bem parece poc — Credo, vocês não sabem de nada mesmo. Vai durar uma semana, ou seja, uma semana sem Yeonjun no nosso pé.

café et cigarettes; yeonbin⚣Onde histórias criam vida. Descubra agora