Capítulo 3

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Isaac

Elisa me encarava como se eu fosse a encarnação do mal. Tornei-me uma bactéria em um microscópio, sendo vigiado de perto. Em sua elegante sala de cores claras e formas geométricas em tons de rosa pastel, que ficava ao lado da do marido, batucou os dedos contra a mesa polida. Fugindo de seu olhar questionador, espiei a paisagem atrás dela, as luzes da cidade que insistiam em brilhar contra a noite escura.

Um som de pigarro me fez voltar a atenção para a mulher à minha frente.

— Não tem nada a declarar?

— O que você espera que eu diga? — retruquei em tom igualmente hostil.

Nunca achei que os Schmidt tivessem problemas comigo, mas tanto ela quanto Dante estavam na defensiva em relação à minha presença naquela noite.

— Imaginei que muitas coisas poderiam acontecer esta noite e tentei me adiantar a qualquer contratempo. Você, entretanto, nunca entrou na equação.

Recostei-me na cadeira, ficando mais à vontade. Não seria intimidado por uma morena, por mais estonteante que ela fosse.

— Sério? — falei com desdém. — Que grande mal fiz além de dar um lance em um leilão?

Ela sorriu, mas não havia humor em suas delicadas feições. Os astutos olhos azuis pareciam capazes de ler minha alma e antes que sua boca se abrisse, eu sabia que não poderia enganá-la.

— Serei bem sincera com você, Isaac. Não gostei da ideia do leilão desde o momento em que Letícia me abordou. Apesar de entender os motivos dela, não concordo com eles. Sei que uma pessoa pode ser empurrada até certo ponto antes que quebre e ela estava à beira de um colapso. Está confusa e não vou permitir que você bagunce a cabeça dela ainda mais. O que foi esse lance?

Fiquei impressionado com a fúria contida em cada palavra. Dante uma vez comentou como ela era protetora com os filhos, nunca achei que seria assim com alguém fora da família também.

Relaxei, abandonando a pose defensiva. Estava claro que eu tinha duas opções com Elisa: transformá-la em inimiga ou aliada.

— Também não tenho certeza.

Ela bufou, pouco impressionada com a minha sinceridade.

— Devo acreditar que você deu um lance de três milhões pela virgindade da sua ex-cunhada sem querer? Talvez tenha sido um lapso? — desdenhou. — Me poupe, Isaac! Qual a sua real intenção? Se vingar de sua ex ou humilhar Letícia?

Meu queixo caiu, impressionado com o rumo que a imaginação dela havia seguido.

— Confesso que nenhuma das duas possibilidades me ocorreram. Não sou um vilão, Elisa. Não tenho motivos para desejar uma vingança contra minha ex, ela é a mãe do meu filho e nossa separação foi amigável. Tampouco desejo que Letícia seja humilhada, eu nunca nem tive muito contato com ela, tendo entrado na vida de Maitê daquele jeito.

Ela parou de batucar e se inclinou para a frente, mais interessada no que eu tinha a falar.

— E o que você quer, então?

— Ela é tia de Renato e eu me senti na obrigação de colocar algum juízo na cabeça dessa menina!

Os lábios de Elisa se inclinaram para cima e, desta vez, o sorriso alcançou os seus olhos. Inimiga? Jamais...

Eu tinha conquistado uma aliada.

*****

Letícia

(AMOSTRA) O professor CEO e a virgem que quer se venderOnde histórias criam vida. Descubra agora