Letícia
— Posso lamber? — a menina pediu com os olhos brilhando, entreguei-lhe a colher para ela raspar o resto de leite condensado da caixa quase vazia.
Maria de Lourdes tinha seis anos e os cabelos cacheados um tom mais escuros que os meus. A pele branca estava escondida atrás de um leve bronzeado. Afinal, havíamos ido à casa de Elisa pela manhã, para que ela brincasse na praia com a filhinha dela. Os olhos verdes que carregavam um conhecimento maior que sua idade, me encararam com agradecimento.
Sentada na bancada da pia com as perninhas roliças balançando, se lambuzou toda com o doce. Evitei olhar para a coxa esquerda, onde uma fina marca de cicatriz era visível por causa do short curto. A sua jovem vida foi difícil, perto dela os meus problemas eram ínfimos. Assim como eu, foi abandonada com o pai pela mãe. No entanto, as semelhanças paravam por aí.
O senhor Cavalcanti poderia ser omisso e não ausente, porém, nunca me bateu. Lourdinha, como todos a chamavam, não teve tanta sorte e o conselho tutelar precisou intervir quando ela tinha apenas dois anos de idade. Pelo que eu ouvi falar na Casa de Acolhimento onde me voluntariei para dar aulas de reforço, o pai foi preso por abandono de incapaz e a garota entrou no sistema, com os assistentes sociais tentando reintegrá-la a alguém da família.
— Vai querer brigadeiro branco ou preto? — Peguei um guardanapo para limpar a ponta de seu nariz, suja de leite condensado. — Podemos fazer meio a meio, se quiser.
— Preto!
Seu sorriso brilhante sempre me cativava. Apaixonei-me pela menina assim que a vi. Dentre tantas crianças que chegavam na casa administrada pela prefeitura, que antigamente alguns chamariam de orfanato, foi ela quem roubou meu coração. Eu a teria adotado, se pudesse. Mas, tendo apenas dezoito anos e morando de favor na casa do meu pai, o máximo que consegui foi me candidatar a "madrinha". Muita gente não sabia, mas era possível apadrinhar crianças e levá-las para passear e ter um pouco de diversão fora da casa de acolhimento.
O fim de semana estava chegando e eu planejei cinema, brigadeiro e pipoca no meu quarto para o fim de sábado e mais praia para o domingo. Estava prestes a começar a mexer a panela, quando o meu celular vibrou com uma mensagem de texto de Isaac.
Estranho...
Fiquei desconfiada! Era um convite animado para um churrasco em sua casa no dia seguinte. Piscina, carne, cerveja e alguns amigos. O vídeo durou uns cinco segundos e não tinha som, apenas copinhos de bebida balançando e uma churrasqueira dançante com a data e local da festa. A arte devia ter sido feita por Renato, será que foi ele que me enviou também? Nunca aconteceu antes.
"Este convite é para mim ou foi engano?", respondi sua mensagem.
A réplica veio alguns segundos depois:
"Chegou no seu celular?"
Fiz um som de muxoxo, sabia que havia sido um engano! Larguei o aparelho ao lado de Lourdinha e comecei a misturar o achocolatado em pó ao leite condensado. Sempre que levava minha pequena convidada, eu me permitia consumir cada uma das deliciosas calorias de um bom brigadeiro. Dona Graça, a funcionária, foi à padaria comprar pão e eu aproveitei para fazer o doce sem ser interrompida, uma vez que não tinha um fogão em meu quarto. Ela não gostava que ninguém mexesse em sua cozinha e se estivesse aqui, me faria sentar e esperar enquanto preparava a guloseima por mim.
Meu celular vibrou de novo.
"Chegou ou não?"
Com uma mão, mexi a colher na panela e com a outra digitei o que ele queria ouvir.
VOCÊ ESTÁ LENDO
(AMOSTRA) O professor CEO e a virgem que quer se vender
ChickLitLIVRO PUBLICADO NA AMAZON, AQUI É APENAS A AMOSTRA! Isaac Sobral é um homem de privilégios. Milionário, lindo e inteligente, fazia o que mais gostava: ser professor de literatura. Quando ele se vê obrigado a assumir o cargo de CEO nos negócios da fa...