Entrelacei os dedos em cima do meu colo. Borboletas dançavam na minha barriga e eu estava agitada. Mamãe prometeu que haveria uma grande surpresa naquele dia e ela me arrumou para parecer uma boneca. Prendeu parte dos meus longos cachos no topo da minha cabeça com um lindo laço rosa. Não queria usar aquilo, tinha oito anos e não cinco! Não precisava mais me vestir como uma menininha.
Minha reclamação resultou em um puxão de orelha e baixei a cabeça, as lágrimas piorando a minha visão embaçada. Quem era eu para achar que tinha alguma opinião? Por isso, alisei uma pequena ruga na saia do vestido branco rendado com apliques de flores rosas na barra, da mesma cor do laço.
Precisava ser a menina mais bonita da festa, todos iriam olhar para mim, afinal, seria a primeira vez que conheceria meu pai e irmãs!
Esperei por isso desde o dia em que vi a foto deles pela primeira vez. O meu pequeno coração bateu acelerado, era como se ele quisesse saltar pela boca, correr mais rápido do que o carro e chegar lá antes de mim. Mamãe se virou no banco do passageiro para me dar um sorriso tranquilizador:
— Não se preocupe, eles vão querer você.
Balancei a cabeça para cima e para baixo, animada, porém, preocupada.
— Cadê os meus óculos? — perguntei de novo, na esperança de que ela os devolvesse para mim. — Quero ver minhas irmãs direito.
— Já disse que estão na bolsa, você tem que estar linda e ninguém gosta de quatro-olhos — repreendeu-me.
Eu me encolhi, ficando mais encostada na porta do carro. Pablo, o namorado dela, riu da minha cara e tirou os olhos da estrada para me encarar pelo retrovisor. Eu não gostava dele. Uma vez ele esmagou a cabeça um rato com um pisão e eu achei muito nojento!
Naquele dia, ele olhou para mim do mesmo jeito que encarou o rato.
— Desculpa, mãe.
— Quantas vezes preciso repetir a mesma coisa, Letícia? — exclamou e recebeu um aceno de aprovação do namorado. — Você não presta para nada, só serve para me dar trabalho. A sua única obrigação é fazer o que eu mando sem questionar. Deu para entender ou é burra demais para que entre na sua cabeça?
Queria abrir a boca e dizer que a tia da escola elogiava minhas tarefas, mas e se estivesse enganada? Ela podia dizer aquilo só da boca para fora! Podia ser igual a Pablo, que na frente de outras pessoas dizia que gostava de mim como uma filha, mas em casa eu servia apenas para pegar a cerveja na geladeira. E levava um tapa na orelha se fizesse algo errado.
Isso iria acabar! O meu pai verdadeiro ia me proteger!
Todas as noites eu me ajoelhava ao lado do colchão frio e rezava para papai do céu me abençoar e permitir que eu fosse uma boa garota, que merecesse conhecer o resto da minha família.
Me forcei a sorrir e segurar as lágrimas, mamãe não gostava quando eu chorava e era um dia feliz. Deus ouviu as minhas preces.
— Vou estudar mais e me esforçar — prometi para minha mãe.
Queria ter visto o rosto dela com mais nitidez, lembrava de seu sorriso satisfeito, porém, embaçado por causa da minha visão ruim. Eu não sabia que aquela seria a última vez que eu a veria sorrir.
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Beijinhos,
Aretha V. Guedes
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(AMOSTRA) O professor CEO e a virgem que quer se vender
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