Capítulo 2

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Letícia

O que estou fazendo da minha vida? Abri e fechei a mão em punhos, para que parassem de tremer tanto. Eu me olhei no espelho e não reconheci a mulher refletida ali. Quem era a garota de cabelos lisos, maquiagem pesada e roupa justa?

Sequei a palma suada no vestido, dei três passos à frente, grudando a ponta do nariz ao espelho. Assim, pude enxergar os pontos castanhos-dourados no verde de meus olhos.

— Você está treinando beijo com o próprio reflexo? — Elisa, a esposa do CEO do Mundo, me assustou ao entrar no quarto que eu tinha transformado em camarim.

— Não — me afastei e coloquei os óculos de grau. Minha miopia não me permitia enxergar com clareza mais do que trinta centímetros além dos meus olhos —, só estava checando uma coisa.

Elisa meneou a cabeça, fazendo seus longos cabelos negros balançarem para cima e para baixo. Gostaria de ter a confiança daquela mulher, não havia um frequentador assíduo do Mundo que não soubesse quem ela era. Semanas atrás, quando tomei a decisão de leiloar minha virgindade, foi ela quem procurei. Não sabia a quem pedir ajuda e, sem dúvidas, era menos intimidante do que o seu marido.

Parecia improvável que uma nerd inexperiente como eu se tornasse amiga de alguém como Elisa, porém, havia acontecido.

— Sabe que ainda dá tempo de desistir, né?

Por ela, o leilão jamais teria sido organizado. Elisa tentou me dissuadir da ideia por semanas, mas eu estava decidida demais para abandonar meus planos. Ela terminou concordando, sabendo que se não fosse ali, eu terminaria procurando outro clube qualquer.

Era a primeira vez que eu tinha tomado uma decisão por conta própria, sem me questionar um milhão de vezes ou esperar a aprovação de outros. Era uma ideia de merda, mas eu não ia ficar repensando.

Elisa pegou o batom vermelho e passou por meus lábios, retocando a maquiagem que já estava perfeita. Era mais um gesto nervoso do que a necessidade de me arrumar mais. Pedi a ela que me deixasse diferente do meu eu usual e conseguiu. Não me reconhecia direito, mesmo de óculos.

— Vou até o fim... — Tirei a armação do rosto, detestava lentes de contatos. A ideia de colocar algo na minha íris me dava agonia e eu queria estar sexy para aquela noite, não a "quatro-olhos". — Tem gente no salão?

Na noite anterior tive pesadelos, imaginando que ninguém apareceria e eu seria humilhada. Não deveria ser um problema, né? Fui rejeitada tantas vezes ao longo da minha vida, que deveria estar acostumada com isso.

— Lelê, não precisa ficar ansiosa e sabe que posso parar tudo agora, sem custo nenhum.

Entrelacei os meus dedos, algo que costumava fazer quando precisava me acalmar.

— Se pelo menos um cara topar essa loucura, eu terei grana para colocar em prática o meu sonho, Eli!

Ela fez um som de muxoxo e eu podia sentir sua reprovação de longe.

— Nós duas sabemos que este não é o motivo real. — Ela ajeitou uma mecha de meu cabelo. — Se a questão for o dinheiro, posso te dar os duzentos mil, até mais se precisar.

Abracei Elisa, era uma doçura que oferecesse tanto dinheiro. No entanto, estava cansada de sempre depender dos outros. Não queria ser o peso inútil que a minha família costumava me acusar. O único bem que consegui conquistar com o próprio suor foi o meu carro velho.

O leilão era um atalho no novo percurso que decidi tomar em minha vida.

— Amo você por cogitar a ideia, mas, por favor, não me trate como um caso de caridade. Não preciso de sua pena.

(AMOSTRA) O professor CEO e a virgem que quer se venderOnde histórias criam vida. Descubra agora