Capítulo 7

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Letícia

Desliguei o carro na vaga do canto da garagem. O meu gol branco de oito anos atrás ficava ridículo ao lado do importado de Malu. Ela ganhou da mãe no último aniversário. Era sempre assim quando se tratava de presentes caros, todos vinham da célebre doutora Mônica Álvares Cavalcanti, cirurgiã plástica. Quanto a mim, não pedi ajuda de meu pai. Juntei a grana da bolsa de monitoria e economizei o que consegui em algumas aulas de reforço que ministrei para financiar a minha menina de quatro rodas. Era o meu maior (e único) bem e eu me orgulhei de tê-lo adquirido com o meu suor.

Criei coragem para encarar meu reflexo no espelho retrovisor, não dava para ver direito que havia algo errado com a coloração da pele ao redor do olho. A minha sorte era que por passar o dia todo fora, eu carregava um mini kit de maquiagem e pude disfarçar o arroxeado. Senão, jamais teria convencido Isaac a me deixar acompanhá-lo ao hospital para ver o aluno que tinha se machucado.

O rapaz era da minha idade e estava com o rosto parcialmente queimado. Meu coração se partiu por ele, aquilo deixaria marcas. Ao menos, Isaac tinha se comprometido a indenizar a família e custear o tratamento, inclusive a plástica. Me perguntei se ele pediria para a doutora Mônica cuidar do caso. Estava achando Isaac um cara honesto e digno, até ele me revelar que sua intenção era impedir um processo judicial e evitar que a confusão atingisse a grande mídia. Ou seja, o que ele fazia era colocar panos quentes no problema.

Isaac também me levou para a faculdade, era um pouco menor do que a universidade pública em que eu estudava, mas não menos impressionante. Eu amava dar aula, porém, me encantava com todos os setores da educação, inclusive o administrativo. O senhor Arrematador de virgindade era até fácil de se conviver, quando não tentava me dissuadir a manter o contrato.

Chiei ao tocar na pele levemente inchada. Se não bastasse as olheiras por ficar horas sem dormir direito, uma vez que eu passava muitas madrugadas estudando, agora teria aquilo.

A casa do meu pai era uma mansão de três andares. Originalmente só tinha dois, entretanto, o meu cantinho no topo foi o presente que pedi aos quinze anos. Ao invés de uma grande festa como as das minhas irmãs, pedi que construíssem o que seria a minha torre no alto do castelo. O acesso era pela área externa que dava na garagem, cinquenta e quatro degraus que me levavam para o sossego do isolamento.

Mais do que um quarto, era um pequeno flat. Assim que entrava, o guarda-roupa ficava à direita e a porta do banheiro à esquerda. O pequeno corredor levava para o espaço principal. Também à esquerda foi instalada uma pia de mármore com armários cheios de utensílios domésticos, comidas industrializadas, chás e lanches. Prateleiras com sanduicheira, Airfryer, microondas e um forninho. O frigobar não me permitia estocar muita comida, mas o suficiente para eu não precisar fazer todas as refeições na casa principal. Geralmente, a funcionária separava marmitas para eu esquentar no microondas quando chegava em casa.

A minha cama de casal se encontrava entre a pia e a mesinha de cabeceira. Do outro lado tinha uma escrivaninha e uma minúscula estante de livros que só cabia os favoritos e os da universidade, a maioria permanecia guardado em um baú. Uma televisão ficava na parede em frente à cama e, por fim, uma varanda que mal cabia uma cadeira dava para os jardins frontais da mansão do meu pai.

Aqueles vinte e cinco metros quadrados eram o meu lar.

Larguei minhas coisas em cima da mesa e fui direto tirar a maquiagem. Na primeira passada do demaquilante, fiz uma careta. Meu Deus! Eu parecia um pirata dos livros clássicos que lia quando mais nova.

Era uma marca de guerra.

Depois de me ajeitar e colocar um vestido confortável, joguei-me na cama e questionei como iria fazer para quebrar a carapaça de Isaac. Mandei uma mensagem para Elisa.

(AMOSTRA) O professor CEO e a virgem que quer se venderOnde histórias criam vida. Descubra agora