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"Eu quero esconder a verdade
Eu quero proteger você
Mas com a fera dentro
Não há onde nos escondemos"

Demons — Imagine Dragons

Já era noite quando resolvi descer para a sala de estar

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Já era noite quando resolvi descer para a sala de estar.

Depois que cheguei em casa fui para o meu quarto e fiquei ali até ter certeza de que havia me acalmado por completo. Não era certo com a minha família eu agir como um animal selvagem descontrolado, então não disse nenhuma palavra sobre o que aconteceu e Amélia também não fez questão de mencionar o que conversamos, então me lembraria de agradecê-la por isso depois. Não era do feitio dela fazer coisas que viessem a me favorecer de alguma forma, porém a situação parecia crítica o suficiente para que ela esquecesse a mesquinhez e se preocupasse com algo realmente importante.

Sean e Amy estavam em alguma das suas intensas partidas de xadrez –onde Amélia sempre perdia por ser terrivelmente ruim no jogo e Sean passava as hora seguintes tentando aplacar sua raiva– Chris e Selene conversavam sobre algo na cozinha que nunca utilizávamos e eu simplesmente me sentia perdido ali, como se naquele lugar imenso e quase sem mobília não tivesse lugar pra mim. Todos pareciam extremamente concentrados em seus parceiros e atividades, mas eu estava sozinho e confuso demais para pensar em algo para fazer. Parecia errado tomar o lugar de Amélia no xadrez ou me envolver em uma conversa com os meus pais a qual não fui convidado, então simplesmente tomei liberdade para caminhar até a grande vidraça que separava nossa casa da floresta para observar as nuances de verde e cinza entre o céu e as árvores.

—Você está bem? –ouvi a voz doce de Selene ao meu lado e a olhei dando um meio sorriso contido.

—Estou. –respondo e engulo seco sentindo novamente aquele cheiro incomum que só pertencia à uma pessoa. —Daphne está aqui.

Não sei por qual motivo a desgraçada sempre fazia questão que eu a sentisse primeiro, então minha família percebera apenas segundos antes da mulher entrar pela porta da frente como a rainha que ela pensava ser. O jogo de xadrez dos meus irmãos perdera completamente a importância quando se juntaram à mim e a viram caminhar até o meio da sala como uma mancha negra no meio de todo aquele espaço limpo. Os olhos afiados de esmeralda fixaram-se nos meus, um sorriso viperino tomando conta dos lábios cor de vinho ao encarar todos nós.

—Cheguei em uma hora errada? –ela pergunta com a voz arrastada. —Desculpe atrapalhar a reunião de família.

—Achei que havia deixado a cidade. –Amélia murmura em um tom que claramente expressa sua irritação.

—Ainda não. –ela nega e senta em uma das poltronas. —Haviam mais algumas pendências que eu precisava resolver.

—Como o quê? –dei um passo a frente e cruzei os braços, tentando entrar na mente dela da maneira mais sutil possível.

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