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"Eu me assustava com o mais baixo dos sons
E eu não podia suportar a pessoa dentro de mim"

Control — Halsey

Após a saída do senhor Michaels, havia me dado o privilégio de sentar no sofá e observar melhor os detalhes desse lugar com mais calma

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Após a saída do senhor Michaels, havia me dado o privilégio de sentar no sofá e observar melhor os detalhes desse lugar com mais calma.

Na parede atrás da TV havia uma coleção de quadros que apresentavam lugares diferentes daqui. Paris, Seattle, New York... A antiga dona parecia querer pensar em outros lugares fora dessa cidade pequena quase constantemente sobre uma camada de chuva. Um fato sobre essa cidade que terei de tolerar pelo período que ficarei aqui: quase nunca faz sol. O senhor Michaels me informara quase tudo no trajeto até a casa mais cedo, contando esse detalhe de que eu sentiria bastante falta. É sempre um cinza obsoleto e depreciativo acompanhado de chuva ou em alguns casos piores, neve. Não gostava de nenhum dos dois, mas que opção eu tinha? O sol não valia tanto quanto o meu resto de sanidade mental, embora eu o preferisse em vários momentos. Ao lado dos quadros uma janela dupla mostrava o céu tempestuoso, a cortina clara escondendo o resto da paisagem que com certeza mostrava os pinheiros altos da entrada para a floresta atrás da casa. Esfrego as mãos no rosto para afastar o cansaço que ameaçava me derrubar, levantando-me do sofá antes que optasse por dormir ali mesmo.

Pego as coisas que havia deixado no chão da entrada e subo para o andar de cima, observando um pequeno corredor com duas portas nas laterais ao chegar no topo da escada. Entro na primeira, me deparando com um belo quarto amplo. Uma cama de casal estava encostada na parede de madeira ao lado de uma pequena cômoda. Havia uma claraboia acima da cama, mesmo que houvesse uma janela na parede oposta. Observei um pequeno guarda-roupa branco no canto do quarto, assim como uma cadeira de balanço antiga e uma escrivaninha onde um computador de segunda mão estava colocado. Não havia nada que remetesse à quem morava aqui antes, o que era bom de certa forma. Coloquei minhas coisas no chão do quarto, decidida a arrumá-las depois. Abro a porta do outro lado do corredor, me deparando com um banheiro simples e aconchegante. Havia uma banheira e um chuveiro acima, a pia em mármore escuro e um espelho que parecia ter um armário atrás. Fecho a porta, voltando para o andar de baixo. O senhor Michaels havia mencionado uma garagem e o tal carro que praticamente viera de brinde com o aluguel, então decido não me deter dentro da casa e ir dar uma olhada no tal veículo e se poderia aproveita-lo.

Saio da casa e ponho o capuz, dando a volta na varanda e encontrando uma portinha de metal na lateral da casa. Pego o chaveiro no bolso e a abro, acendendo a luz. Expirei de surpresa ao ver um estonteante Mustang 1967 estacionado ali. O carro era preto e a pintura parecia minimamente desgastada, lhe dando a impressão de que era novo ou quase. Como alguém não iria querer um carro desses? Sorrio um pouco pensando no quanto meu pai amaria ver esse carro, já que é completamente obcecado por automóveis e me fez ficar apaixonada também. Se ele soubesse da existência dessa máquina faria de tudo para fazê-lo voltar a funcionar, mesmo que passássemos horas trocando as peças e tentando reanimar o motor. Balanço a cabeça e afasto as lágrimas que ameaçavam descer pelo meu rosto, não permitindo que aquela dor catastrófica retornasse agora. Meu pai não estava ali e eu não poderia me permitir ficar tendo esse tipo de pensamentos se quisesse ao menos tentar cumprir a promessa que fiz para eles. Se eu desmoronar... se eu falhar... todo o sacrifício que eles estão fazendo por mim vai ter sido em vão.

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