Então foi isso que aconteceu com ele... Por isso que ele não gosta dessas pessoas que dizem ser a família dele...Essa expressão em seu rosto, eu conheço muito bem. Esse olhar... como um olhar pode ser tão lindo e transmitir tanta tristeza como esse? Esses olhos mostram tanta coisa, muita história.
Chega um certo momento em que eu não aguento mais olhar pra ele desse jeito. O que uma pessoa pode ter passado pra deixá-la tão machucada assim?
Ele e eu, nós somos iguais. Duas pessoas perdidas nesse mundo, sem saber porquê ainda estão aqui. Duas pessoas quebradas por dentro, que estampam um falso sorriso no rosto para cobrir as lágrimas...
Eu não consigo... não consigo ver, sentir e entender o seu olhar e mesmo assim não fazer nada.
Afinal, todo mentiroso reconhece o outro.
- O que você tá fazendo? - Ele diz logo que percebe que o envolvi em meus braços, no início ele estranhou, mas aos poucos aceitou a ideia e deitou sua cabeça em meu peito.
- Desculpa, você parecia precisar de um abraço.- seus olhos ganharam um novo brilho, ainda estavam tristes, mas com um certo tipo de luz.
Ele aos poucos envolve seus braços ao meu redor, e ficamos assim por um tempo. Um tempo que pareceu uma eternidade para mim. Não sei porque mas, eu acho que precisava desse abraço tanto quanto ele.
-Pimentinha? - ele diz ainda com seus braços em volta de mim
- Sim?- Houve um silêncio e achei que ele não fosse falar nada. Será que exagerei com o abraço?
- ...obrigado.- Ele diz após um tempo.
Eu não sei porque mas... abraçar Dylan é muito bom por algum motivo. Seu corpo é forte e ele tem um cheiro reconfortante de chuva... é estranho dizer isso, mas é exatamente esse cheiro que eu sinto.
Ele aperta mais a minha cintura, e então vai alguns centímetros para trás e me olha nos olhos. Nós estamos tão perto que posso sentir sua respiração, seus olhos continuam brilhando mesmo agora no escuro, é difícil desviar desse olhar. Ele me olha de um jeito que me faz corar.
Bem nesse momento as luzes acendem e nós nos separamos ao mesmo tempo, cada um pulando para um lado do chão. A cena deve ter sido cômica pra quem visse, mas pra mim só rendeu uma dor no cotovelo que bati em algum lugar.
- Ally? É você aí embaixo?- Droga droga droga...
Alluren me chama e eu acho que tenho um "mini ataque" ali no chão, se ela me pegar aqui vai saber que nós quebramos o vaso. Eu olho pra Dylan, mas ele parece pensar o mesmo que eu.
-Ally, é sério. Se você estiver aqui embaixo eu te mato viu...- ela começa a olhar ao redor mas acho que não nos vê.As luzes se apagam e eu relaxo o corpo, ela foi embora.
- Meu deus, eu acho que vi minha vida passar diante meus olhos agora- diz Dylan e eu rio com a mão na boca para Alluren não ouvir - É sério, Ally. Quase morri ali - Ele tenta ficar sério, mas acaba rindo também.
- Eu achei que ela ia achar a gente, comecei a orar na hora - eu entro na brincadeira e começamos a rir juntos.
Depois de um tempo eu me lembro que Alluren vai me acordar a qualquer minuto pra começar o treinamento.
- Que horas são, Dylan? - eu pergunto e ele levanta para pegar o celular.
- 10 pras 6:00, pimentinha. Por que ?
- Droga, a Alluren vai ir no meu quarto daqui uns minutos pra me acordar pro treino. Acho melhor eu ir indo - eu digo me levantando e andando em direção as escadas.
- Espera, pimentinha! - ele segura minha mão e me faz olhar pra trás - Eu só queria agradecer por ficar comigo hoje, você tinha razão. Foi melhor do que não fazer nada.
Eu abro um pequeno sorriso e ele também. É a primeira vez que vejo um verdadeiro sorriso em seu rosto, e acho que nunca mais vou esquecê-lo, ele tem covinhas...
- Bom, se você não conseguir dormir à noite...- eu penso bem, e me decido. Eu quero ser amiga dele - me chama pra te fazer companhia, tá bom? Minha porta está sempre aberta, menos de sábados.- eu abro um sorriso.
- Valeu ,Ally - ele diz, um pouco surpreso com o convite.
- Não tem de quê, Dylan... Agora eu vou indo, senão a Alluren vai descobrir a gente. Boa noit... quer dizer... dia, bom dia pra você - eu digo rindo.
Logo subo as escadas e vou ao meu quarto, apago as luzes e deito na cama. Ainda tenho uns minutinhos antes da Alluren entrar aqui e me acordar, vou aproveitar. O Dylan não é tão ruim assim, na verdade ele é bem legal. Nunca conheci alguém tão parecido comigo antes, fazia muito tempo que eu não tinha uma conversa tão verdadeira como essa com alguém.
Acho que julguei ele mal, vou tentar ser mais legal com ele. Mas não muito, ele pode ser chato quando quer... que normalmente é sempre.
Espero que ninguém me escute rindo sozinha de madrugada na cama.
Eu me lembro de nós dois abraçados, seus braços em volta de mim. Que vergonha! Quando ele começou a me encarar, não sabia onde enfiar a cara. Eu nunca coro... mas dessa vez, foi difícil. Nós estávamos tão perto e eu não sabia o que fazer.
Durmo com esses pensamentos irritantes na cabeça e tenho um sonho muito esquisito. Eu estava em um campo de violetas, com um vestido branco. Na minha frente havia um homem e uma mulher, meus pais. Eu tento ir até eles, mas meus pés não se mexem e eu não saio do lugar. Eu começo a gritar seus nomes, implorando pra que não me deixem.
-MÃE! PAI! Por favor voltem, não me deixem aqui...- eu sinto lágrimas em meus olhos e logo o cenário muda.
Eu estou em meu quarto na minha casa e sinto cheiro de sushi, imediatamente penso "Alluren!" desço as escadas correndo e vou em direção a cozinha, mas quando chego lá eu não encontro nada, as paredes começam a ficar escuras e a casa começa a ficar velha e suja, eu tento encontrar Alluren e Dylan mas, todos haviam ido embora...todos haviam me deixado, de novo... sempre me deixam.
Eu acordo num pulo com lágrimas nos olhos e escuto.
- Ally! Vem logo tomar café, já ta tarde garota !- foi só um sonho...será que foi?

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O segredo dos Stygia
FantasiaAlly é uma garota de 17 anos q vive com sua guardiã Alluren e ela parece ter um passado misterioso e ninguém sabe muito sobre ela.Ela sempre se dá mal nos esportes da escola e não tem namorado,ela só tem uma amiga e não é muito popular . Mas oq não...