Remus estava calado.
Isso nunca era um bom sinal.
Tentou puxar assunto durante o restante do trajeto, mas ele apenas fazia alguns sons com a garganta ou era monossilábico, olhando para algum ponto fixo do metrô.
Isso sempre acontecia. Em um momento estavam bem e, no outro, alguém comentava alguma coisa que o deixava extremamente desconfortável e aquele clima estranho perdurava. Tonks queria dar um soco naquela senhora, por mais antiético que isso fosse.
13 anos. Era a quantidade de anos de distância que existia entre eles. Tonks tinha 25 anos e Remus tinha 38. Os dois eram maiores de idade quando começaram a namorar e não havia nada de errado naquilo. E, mesmo assim, as pessoas sempre agiam diferente quando os viam juntos.
Lembrava-se de uma vez, quando começaram a namorar, quando uma mulher os viu se beijando e ameaçou ligar para a polícia. Até Tonks explicar que tinha 22 anos, o estrago já estava feito. E a cada evento que se repetia, Remus ficava cada vez mais retraído, sempre parecendo a ponto de terminar tudo o que tinham por não ser achar o suficiente para ela.
Era um problema que enfrentavam desde o início do relacionamento. Ele sempre dizia que ela deveria arrumar alguém da idade dela, e alguém que tivesse melhores condições financeiras. Todas as vezes, ela dava a mesma resposta e isso parecia suficiente por um tempo, até acontecer mais um episódio de ignorância alheia.
Naquele dia, ela passou de "adolescente que está sendo ludibriada" para "filha".
A idosa tinha muita sorte da idade que tinha, ou Tonks já teria partido para cima dela.
Tinha escutado piadas e comentários de praticamente todos os seus parentes e amigos. Até mesmo Sirius tinha feito piadas sobre como Remus era um papa anjo e esse tipo de coisa que, definitivamente, não ajudava nem um pouco.
Talvez se ela parasse de pintar o cabelo, ou passasse a pintá-lo de cores mais escuras, como borgonha... Ou se começasse a usar maquiagem quando fosse sair, isso sempre deixava as pessoas com cara de mais velhas.
O problema seria que qualquer coisa que mudasse o faria sentir-se mais culpado, por mais que tentasse convencê-lo de que não tinha nada de errado com eles.
Qual era o problema das pessoas? Por que elas não cuidavam das próprias vidas em vez de sempre quererem opinar no relacionamento dos outros?
— Isso pararia se nós nos casássemos — murmurou.
Não era sua intenção ser escutada, mas Remus saiu de seus devaneios, olhando na direção dela, que desviou o olhar.
— Dora...
— O quê? É verdade! — ela defendeu-se.
O dedo anelar era um dos primeiros lugares que as pessoas observavam quando queriam respostas. Uma aliança no dedo e ninguém perguntaria se ela era menor de idade, já que menores de idade geralmente não se casam. Além do mais, ninguém precisaria saber a sua idade.
Se ela mudasse o seu modo de se vestir, ainda pensariam que ela era uma adolescente?
Remus a abraçou de lado, beijando a sua testa.
— Você é perfeita do jeito que é — ele adivinhou por onde seus pensamentos andavam.
Esboçou um sorriso estremecido, mas não respondeu.
Seria assim pelo resto da vida?
Podia visualizar perfeitamente como seria quando tivessem filhos. Diriam que Teddy era seu irmão? Julgariam o seu modo de agir e vestir, dizendo que uma mãe deveria se portar melhor?
Mesmo com toda a dor que isso lhe trazia, precisava fingir estar tudo bem. Porque Remus se sentiria pior se soubesse como ela estava se sentindo, e ela não suportaria se ele a deixasse por sua causa.
Definitivamente a culpa era dela. Como ele não enxergava isso?
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Prejudice
Hayran KurguExistem muitos tipos de preconceito, mas sobre o que Remus e Tonks passavam, ninguém falava.