A gota de suor em minha testa, descia para a lateral de minha bochecha e logo escorria pelo meu pescoço. Mas eu não estava nervosa.
Os outros adolescentes, sim. A fila era extensa na trilha larga de terra e o sol estava escaldante sob nossas cabeças. Sob as cabeças dos nanicos de dezesseis...Alguns deles choravam muito, outros oravam para algum deus e outros já estavam se precipitando a escrever cartas para os pais. Eles estavam nervosos com esse alistamento, mas eu, não, nem um pouco. Eu não estava nervosa.
Eu não tenho nada com que me preocupar, não tenho nada a perder.
A pior parte de quando se é maltratada e açoitada por três homens, é que você não sente medo de mais nada ao seu redor e nem com o que vai te acontecer.Minha vida é simples e básica. Não tenho nada de que gosto de comer, de beber ou de fazer...não tenho coisas favoritas. Nunca tive a chance de gostar de algo. Sou gentil e esperta, mas porque sempre procuro saber mais, mais e mais.
Tempo para mim é só um sinônimo de apanhar para valer; sempre é assim, amordaçada, amarrada, queimada, cortada, espancada, torturada, açoitada...Todos tem uma família, menos eu. Aqueles três trogloditas não contam. Meus pais morreram para o câncer quando eu tinha seis anos...tenho vagas lembranças deles.
E a última coisa que lembro de minha mãe é ela dizendo: "...seja corajosa, não deixe que tirem a sua essência e procure amar cada segundo de sua vida...". É mãe, estou tentando.Acho melhor me recrutar para o exército do rei Bryan do que ficar com aqueles três homens...ser aceita como soldada será como um prêmio para mim. Não que eu queira ser isso. Ser soldada.
O rei Bryan... não sei muito sobre ele. Apenas sei sobre seus cabelos grisalhos, seus olhos acizentados, sua arrogância e grosseria...eu escuto rumores sobre ele.
Além de ele precisar aumentar seu exército, ele ama pessoas jovens, a preferência é sempre os nanicos de dezesseis.
Alguns jovens até gostam da idéia de se alistar, você deixa de ser um pobre para ser um soldado. O meu vilarejo é pobre e imundo, e quem mora nele também é assim...pelo menos é assim que os nobre do palácio nos vêem, como pobres e imundos.O palácio fica uns cinco quilômetros do meu vilarejo. Óbvio, a família real não ia gostar de ficar perto de um lugar fedorento e imundo.
A fila de jovens avançam alguns passos. No momento estou a uns trinta metros do palácio. A essa altura já consigo escutar a voz rouca e entediante no megafone, vindo de um soldado velho e entediado. Ele deve fazer aquele serviço todo ano.
Seu dever é chamar nome por nome e aí...eu não sei mais o que acontece depois que seu nome é chamado.
Só sei que estou perto...
Posso ver o palácio daqui, alto e bravo, o tamanho é exageradamente grande e parece ser impotente com sua aparência.Dizem que a muralha que rodeia o grande terreno e as paredes do castelo são feitos de metal misturado com diamantes. Nem uma explosão quebraria aquilo tudo. É de cegar os olhos quando o sol bate em todo aquele cristal inquebrável.
Deixo de pisar em chão de terra para logo começar a pisar em chão de pedra lisa e escura. Chego perto dos portões e vejo as estátuas de dois leões...o símbolo da família real, o símbolo deles...
Estou mais próxima e meus pensamentos logo são interrompidos pela voz do soldado dizendo meu nome. Chegou a hora.
Um outro soldado moreno pega meu braço e me leva para dentro dos terrenos e para um lugar próximo ao castelo. Andamos por uns vinte minutos pelo gramado e logo vejo uma porta alta de madeira.
Entramos e me deparo com um salão enorme.O salão era um tipo de salão para soldados. Era alto e enorme, estava cheia de pessoas, jovens e soldados. Estavam armados até os dentes e logo descobri o porquê.
O rei Bryan e a rainha Nina estavam sentados em grandes tronos no final do salão, estavam distantes o suficiente para que eu não conseguisse ver os detalhes dos rostos deles.
A minha esquerda tinha inúmeras cadeiras com jovens que seguravam trages de soldados nas mãos...a minha direita tinha diversas mesas com médicos e enfermeiros. Soldados e criadas andavam agitados de um lado para o outro.O soldado que me segurava me levou até as mesas dos médicos...
Tudo ocorreu muito rápido; eles mediram minha altura, me pesaram, tiraram meu sangue, verificaram minha massa muscular, minha pressão e meus batimentos cardíacos e me fizeram responder um formulário de três páginas sobre minha vida.Tudo demorou uma hora e logo tive que me sentar em uma cadeira perto dos médicos.
Ninguém daqui quer saber quem você é ou como você está, eles só querem saber se você tem porte para lutar.Uma enfermeira se aproxima de mim.
- Alya Taylor? -pergunta a enfermeira ruiva com a voz doce como açúcar.
- Sim...sou eu. -digo a olhando.
- Parece que gostaram de suas informações e de seu perfil, o rei gostaria de te dar uma olhada de perto. -disse ela com um sorrisinho me chamando com um gesto de cabeça.
Nunca vi ele de perto...e agora ele quer me ver? Respiro fundo, seguindo a enfermeira.
Me aproximo cada vez mais e posso ver os dois nitidamente. Estou a cinco metros deles e agora eles parecem tão fortes e autoritários.
O olhar duro do rei me observa e a rainha parece estar mais tranquila. Ambos parecem estar cansados de verem tantos jovens.Faço uma reverência não muito demorada. Sou educada e inteligente o suficiente para saber que devo fazer isso para eles.
- Ajoelha. -disse o rei sem expressões, sua voz parece cortar o ar como uma chicotada. Isso é um teste? Ele está brincando comigo?
- Não. -digo levantando meu rosto para os dois a minha frente. O rosto do rei se espreme em uma careta e me observa mais.
- É corajosa o suficiente para dizer isso ao seu rei? -perguntou ele com desdém.
- Não, só estou aproveitando meus últimos momentos sendo apenas uma jovem menor de idade que não recebe ordens do rei...
- Acha que vou aceita-la como minha soldada? -pergunta o rei.
- Me achou interessante senhor, e devo confessar que sou boa nas coisas que faço...
- Não está nervosa? -agora é a vez da rainha falar algo e sua voz é doce e baixa. Ela me olha com atenção e cautela.
- Não, porque estaria?...Vossa magestade. -acrescento rapidamente ao me lembrar dos bons modos. Ela abre um sorriso pequeno e discreto.
- Acha que consegue segurar esse peso de ser uma soldada? -perguntou o rei me olhando com aqueles olhos cinzentos.
-Não sei, a gente pode descobrir. -digo dando de ombros e vejo a rainha sorrir.
- Interessante. Quero ver. Estou realmente curioso em saber se você é inteligente e forte como diz ser. -disse o rei. - Alya Taylor, será aceita no alistamento.
Eu não acredito que a primeira vez que falei com o rei e a rainha eu falei desse modo...e ainda fui aceita. Isso é bom ou ruim? No momento, prefiro estar aqui do que em casa. Se é que posso chamar aquilo de casa.
— ⚔️ —
Sou levada para os bancos com os outros adolescentes e recebo um trage preto. A seda é grossa e firme. Exatamente como um uniforme de treinamento. Está perfeitamente dobrada em minha mãos suadas.
Consegui. Não verei meus tios por um longo tempo. Deve ser por isso que minhas mãos estão suadas...sempre fica quando me lembro deles.
Recebo também um pedaço de papel...
15hrs — Protocolo
17hrs — TreinamentoOs outros também recebem esse papel. Pois bem, já tenho dever daqui a uma hora.
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ENEMIES TO LOVERS
FanficA regra é simples, ao fazer 16 anos todos os adolescentes de Wingard precisam se "alistar" para o exército do rei Bryan. Alya acabou de fazer dezesseis e já tem um histórico triste sobre seu passado, nada que goste de se lembrar; seus pais foram mo...