𝐂𝐚𝐩𝐢𝐭𝐮𝐥𝐨 𝟔𝟓

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O palácio estava irreconhecível. Tudo estava irreconhecível. O clima estava pesado e estranho. Tudo em mim estava inquieto e eu senti que aquilo tudo estava ficando cada vez mais obscuro. Meu corpo estremecia...

Guerra. O palácio estava em guerra contra o próprio rei. Eu posso sentir meu sangue latejar em todo meu corpo. Eu estou com medo sim.

Eu não senti meu corpo quando eu desci todas os degraus da escadaria do hall de entrada, eu não senti meu corpo quando eu tentava chegar até a porta alta de saída. Corpo e mais corpos esbarravam em mim porque o hall de entrada fervilhava de pessoas, soldados e guardas... e todos se espalhavam para procurar o rei.

Eu vi tudo em câmera lenta. Meu ouvido não escutava mais a gritaria, não escutava mais ninguém quando gritavam o nome da princesa. Tudo estava em câmera lenta...

Eu saí sentido o ar gelado da manhã em meu rosto e o sol começava a dar as caras.
Todas aquelas pessoas...todas elas foram enganadas.

Saio de meus pensamentos quando alguém toca meu ombro. Meus sentidos voltam e parece que o tempo voltou ao normal, todo o barulho de vozes e gritaria contra o rei retornam fortemente em meus tímpanos.

Me viro e vejo Darmanitan. Pela primeira vez o vejo com medo. As mãos dele estavam trêmulas e seus olhos estavam fixos nas armas grandes dos guardas e dos homens das aldeias. A multidão que estava alí estava sedenta pelo rei. Apenas pelo rei.

- Estou com medo. -ele teve que gritar perto de meu ouvido para que eu o escutasse. Olhei para ele. - Não gosto de barulhos altos...acho que estou tendo uma crise de pânico.

Eu puxei seu corpo contra o meu e o envolvi em um abraço. Ele me apertou forte e eu retribui a força. Sua respiração estava agitada...

- Você é a única amiga que eu tenho. -ele disse no meu ouvido. - Não me abandone como os outros...-a voz dele estava suplicante.

- Eu não costumo abandonar meus amigos. -eu respondo em seu ouvido. - Darm, o palácio está em guerra. Agora que descobriram que o rei escondia Alina querem decepar a cabeça do rei. -eu disse e Darm assentiu sério.

- Eu soube a exatamente cinco minutos atrás...-ele disse nervoso.

Peguei na mão dele e o levei para dentro. Passamos pelas diversas pessoas novamente. Percebi que os guardas e soldados estavam com mais coragem e entravam cada vez mais para dentro do palácio. Os moradores em protesto continuavam no hall. Alguns tinha a audácia de entra com os guardas...

Não demorará para encontrarem o rei.

Eu ainda puxava Darmanitan pelas mãos enquanto eu descia cada vez mais. Descia para os calabouços..Blake estava lá certo? Ele tinha que estar...onde mais estaria?

E Blake estava lá, chorando como um bebê nos ombros de Alina. Nunca o vi assim. Seus soluços eram altos e seu corpo impulsionava por causa disso. Seus olhos vermelhos, inchados e molhados me olharam e eu senti a dor dele.

Darm e eu ficamos parados ainda distante.

O que me fez sair do lugar foi eu não ter visto a rainha alí. Ela não estava no quarto, não estava alí...a rainha...onde ela está?

Me aproximei de Blake rapidamente.

- Blake. -toquei o ombro dele e ele se virou em minha direção. - O castelo está cheio de gente de aldeias próximas, elas querem matar seu pai. Os soldados e guardas também querem matar seu pai...todos pelo mesmo motivo: descobriram sobre a Alya.

- É, eu trouxe um soldado aqui para baixo quando eu desci...pedi para ele chamar ajuda e...

- E ele abriu a boca e agora parece que toda Wingard sabe! -eu disse nervosa. Os calabouços eram tão baixos que não dava para escutar nenhum estrondo sequer dali. - E sua mãe, eu não encontro ela. -eu disse por fim fazendo Blake limpar as lágrimas.

Todo o meu nervosismo e medo aumentaram e quando eu percebi...Darm, Blake, eu e Alina estávamos correndo para cima. Para a superfície.

- Darm e eu vamos procurar a rainha e você leva Alina para um lugar seguro. -eu disse alto e claro para Blake.

- Não vou deixar você espertinha. -ele disse muito sério.

- Mas terá de deixar agora. Leva ela para um lugar seguro...leve para minha casa se quiser. Ninguém sabe a existência daquela casa. -eu disse séria.

Os barulhos e estrondos ficavam mais altos a cada vez que subíamos. Quando nós quatro entramos no hall de entrada eu pude ver que os moradores protestantes estavam com os olhos vidrados no alto da escadaria.

Eu olhei para lá e vi...

A rainha. Com seu vestido rasgados abaixo dos joelhos, seus cabelos bagunçados, seu rosto sonolento e assustado. Sua barriga sangrando.

Algo havia acertado ela na lateral da barriga e havia manchado o vestido de dormir marfim. Pelo estado que ela estava parecia ser um machucado pequeno.

Silêncio. O hall de entrada estava em silêncio.

- Mudança de planos. -eu disse para Blake e Darm. - Eu vou procurar o rei, Darm leva a rainha para minha casa e leva uma curandeira com você, Blake leva Alina para minha casa também e se quiser voltar, volte. -eu disse sem olhar para eles.

Quando os olhos da rainha bateram em mim, não demorou muito para ela olhar para quem estava do meu lado. Alina.

A rainha perdeu o fôlego.
Os pés dela foram automaticamente para o degrau de baixo e logo a rainha estava descendo as escadas correndo.

Os rostos das pessoas furiosas se viraram em nossa direção. Olharam para a princesa.
Murmúrios e exclamações de surpresa. Deram passos para trás de tanto espanto. Todos ficaram lívidos. Espantados...

Quando Alina caiu dos braços da rainha, ambas caíram de joelhos no chão. As duas choravam...

Eu subi as escadas até o topo e tentei chamar a atenção de todos...
A cada segundo cada vez mais as pessoas olhavam em minha direção e quando percebi todos já olhavam para mim.

- Princesa Alina Beaumont...-eu disse alto para que todos ouvissem. - ...ela não morreu a dois anos atrás, desde então ela estava presa em um compartimento falso nos calabouços. -eu disse e logo olhei para Darm lá embaixo. - Eu sei que vocês estão mais que surpresos, eu sei que tudo isso é assustador e que todos nós fomos enganados por anos...mas agora o palácio está em guerra. -eu disse respirando fundo. - Todo o exército do rei está a procura dele neste exato momento. Soldados e guardas também estão aqui dentro. -eu disse e alguns estrondos quebraram no fundo do castelo. - Eu não quero que vocês moradores se machuquem, não quero ninguém que não saiba se defender aqui correndo perigo... então por favor...

Blake deu alguns passos para frente e algumas das milhares de pessoas olharam para ele.

- Tudo que Alya Taylor disser, é para fazerem. -ele ordenou sério e alto. - Não estarei aqui por um curto tempo e dentro disso...quero que ouçam Alya Taylor. -ele disse alto suficiente para que todos ouvissem.

Os homens que estavam em cima de cavalos lá fora entraram no hall apenas com as armas nas mãos. Eu tenho certeza de que eles ficariam. São fortes de destemidos...

Meu coração bateu cada vez mais forte.

Darm ajudou a rainha a andar e levava Alina com ele do outro lado. Blake seguiu atrás deles com uma mulher alta. Uma curandeira.

Desci as escadas e pude ver os moradores indefesos saírem do castelo aos poucos bem atrás de Alina e Nina. Como se fosse um desfile. Alguns sorriam e outros ainda estavam assustados e raivosos. Mas estavam saindo do castelo.

Deixando assim...a guerra apenas para os guardas e soldados. E para mim.

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