VI

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  Acordei cedo, eram 08h42min, e era o grande dia, 18 de Outubro, meu aniversario, eba! Não, mentira, não estou feliz com isso, meu celular não vai parar de tocar com mensagens de parabéns, minhas redes sociais vão lotar com textos gays e vou receber mil ligações dos meus parentes mais velhos que não saíram da pré-história ainda. Mas tirando tudo isso, e tirando também o bolo que sei que mamãe vai fazer e da festa do pijama mais tarde, esse vai ser um dia normal de sábado.

  Levantei da cama e fui tomar banho, escovar os dentes, coisas normais. Quando terminei fui ver se já tinha lançado o novo episodio do meu anime preferido. Já tinha no site, porem não estava legendado e eu não entendo japonês, deixa isso pra mais tarde, deitei na cama e fui tentar ler meu livro, mas eu não conseguia ler, meus olhos passavam pelas palavras, mas minha mente não as entendia, desisti de fazer isso, então desci, mamãe estava no trabalho, sentei no sofá da sala e procurei algum filme para ver, na TNT estava passando Constantine, não a série, o filme mesmo com aquele ator lindo que o nome me foge da mente agora, então fui assistir ao filme, a luz acaba. Meu dia pode piorar? Sim, pode, papai veio me fazer uma visita com sua nova esposa Emma.

  - Oi filha – ele me abraça – toma isso, a Emma que comprou.

  - Ah, obrigada – pego o presente e rasgo o papel, dizem que dá sorte, o presente é um livro, que eu já tenho e já li – eu já tenho esse livro Emma, ainda tem o papelzinho para trocar?

  - Sim querida, está dentro do envelope – essa deveria ser a hora dela me abraçar, mas ela não o faz.

  - Cadê a Yasmin?

  - Está na aula de ballet, e sua mãe, ela ainda trabalha aos sábados? – papai pergunta.

  - Sim, mas é sempre no turno da noite, mas como hoje vai ter minha festa do pijama de noite, ela pegou o turno da manhã. – pensei em o que minha mãe estaria fazendo agora, aposto que ela estaria abrindo a barriga de algum cadáver.

  - Ah sim, filha, tenho que ir embora, eu e a Emma passamos aqui pra entregar o seu presente e te dar os parabéns, mas já já vamos viajar, e a Yasmin vai passar essa semana aqui. Passei aqui ontem pra falar com sua mãe e você, mas você estava naquela sua amiga Thayna.

  - Mas vocês acabaram de chegar... – eles sempre estavam viajando, e nunca me levaram.

  - Desculpa, mas seu pai comprou as passagens pra 11h00min, temos que ir logo – ela finalmente me abraçou – voltamos daqui uma semana, por que não vai lá pra casa? Podemos fazer uma sessão de filmes ou algo do tipo.

  - Não da, depois dessa semana começam as provas.

  - Desculpa filha – ele me beija na testa – tchau, te trago algo da Europa!

  - Tchau pai, tchau Emma. – eles saem e batem a porta. – então é pra Europa que você vai levar essa vadiazinha papai? Eu sou tua filha e nem pro cinema você sequer me levou – começo a falar em voz alta. – foda-se ela e você, minha mãe é mil vezes melhor!

  O telefone toca, eu não atendo, toca novamente, o deixo tocando, toca de novo, a pessoa não desiste, eu atendo.

  - Alo?

  - Elizabeth, é você? Se não for desliga, se for não desliga. Aqui é o João, sou o irmão postiço da Juh e ela me pediu pra te falar isso, espero que seja o numero certo – ele não para de falar – “Ef., desculpa não ter te entregado isso em papel, mas não dava tempo, o corte não parava de sangrar, cortei fundo demais, e sem você comigo não sabia como parar, provavelmente quando ler” ouvir no caso. “Vai ficar com raiva, pois eu tinha jurado passar o seu aniversario contigo, mas eu não aguentava, minha vida está uma merda, eu precisava descansar, e a morte me acolheu, estou escrevendo isso com a mão esquerda já que a direita não consigo mexer, espero que quem encontre isso consiga entender minha letra, mas eu te amo muito e adeus” – ele respirou por um instante – então se for você Elizabeth, por favor, responda.

  - Sim, sou eu. – quando terminei de falar ele desligou.

  Estava confusa com o que tinha acabado de ouvir que nem percebi que a luz tinha voltado e a TV estava com o volume no talo, peguei o controle e a desliguei, subi correndo para o meu quarto e chorei depois de bater a porta, fui ao guarda-roupa e na parte escondida peguei a caixinha com as laminas de barbear, sentei na cama tremendo e chorando, levantei a minha camisola e desci o elástico da calcinha e lá onde ninguém iria ver fiz três finos cortes que arderam, mas aliviaram todo o meu inferno interno, eu não estava machucando a borboleta, não cortei no pulso, então estava tudo bem. Fiquei parada olhando para aquelas três linhas carmesins que não queriam parar de chorar, e passei meu dedo indicador nelas para limpar o sangue coagulado, que assim voltaria a sangrar, e no outro lado fiz mais três linhas com a lamina, agora eu tinha cortes gêmeos, eles ficaram sangrando por alguns minutos e eu chorando, então voltei para a realidade limpei as lagrimas e me levantei para pegar as coisas para fazer um curativo neles, eu tinha que ir comprar os doces e salgados pra minha festa do pijama.

  Depois de tudo pronto as meninas começaram a chegar, primeiro assistimos alguns filmes, depois jogamos alguns jogos e dançamos, muito, ouvimos músicas e cantamos.

  - Bora fazer uma brincadeira? - Pergunta Thay.

  - Como ela é? - Lena pergunta.

  - Cada um tem que falar uma coisa que já tenha feito, e se o outro não tiver feito aquilo tem que beber um copo de água, ou vodca se a Effy liberar a garrafa que eu sei que ela tem escondida.

  - Espera minha mãe dormir.

  - Okay - as meninas falaram juntas.

  Enquanto esperávamos mamãe dormir ficamos conversando sobre os meninos bonitos da escola até que vimos minha mãe dormindo no sofá, subimos para meu quarto e começamos a brincar, peguei a garrafa de vodca que eu tinha embaixo da cama.

  - Quem nunca sentiu atração pelo sexo igual? - Bianca (uma prima minha que tinha vindo passar o fim de semana na minha casa) fala.

  - Eu nunca! - Thay, Lena, Anna e Yah falaram juntas e depois beberam a vodca.

  - Eu já. Quem nunca viu um cara pelado?

  Todas falaram que já viram, então ficamos brincando disso até a vodca acabar, estávamos meio estranhas já então descemos e comemos uns salgadinhos e os doces que sobraram, se passaram três horas, então a Yah dormiu.

  - Vamos zoar ela? - perguntei

  Pegamos pasta de dente e maquiagem, Thay passou pasta de dente no rosto da Yah, Lena desenhou um pênis na bochecha dela com lápis de olho e eu e Bianca ficamos apenas observando, Anna estava na cozinha procurando mais bebida. Ela não tinha achado, então decidimos apenas conversar por mais um tempo, até que todas dormiram e eu fui a única que ainda estava acordada, como não conseguia dormir, fui pra varanda e fiquei observando o sol nascer, ele estava lindo.

  - Ef. - era a voz da Júlia.

  Olho para onde veio a voz e lá por um instante, vi a Júlia sorrindo.

  - Você esta mesmo ai? Eu te vi, eu vi o seu corpo, isso não é possível!

  - Eu estou aqui, e quero que você venha comigo, estou te esperando meu amor. - então ela sorri e desaparece.

Uma Figurante QualquerOnde histórias criam vida. Descubra agora