“Estou em um conto de fadas totalmente incrível, mas acontece que eu não sou a princesa que fica com o príncipe, eu sou aquela figurante sem importância.” Esse pensamento ecoou pela minha mente enquanto tentava fazer o dever de português, sinceramente, esses dias estão tão nostálgicos que me dão vontade de vomitar, tudo o que eu queria era ter uma vida normal de uma adolescente de 13 anos.
Sabe quando alguém fala com você e do nada você fica bem e esquece aquele pensamento estranho que vaga em sua mente sem nunca deixar de existir? Então, isso acontece geralmente quando algum dos meus melhores amigos fala comigo (Marcus, um menino meio gordinho, mas de rosto bonito, e Helena, uma menina mais baixa que eu, magra e linda), mas ultimamente não tem dado muito certo, porque (a) quando eles vêm me abraçar ou sei lá o que, eu desabo e choro (b) eu tenho me afastado deles ultimamente. Mas pelo menos sei que posso contar com eles, e sinceramente, eu amo isso!
- Elizabeth, Elizabeth, a professora está te chamando! – falou o menino que senta a minha frente.
- Ah, oi, me desculpe – falei e continuei a fazer o dever.
Geralmente sou boa com as atividades, mas nesses dias não estou sendo a melhor aluna, sério, com tantos pensamentos absurdos creio que ninguém seria capaz de se concentrar. Terminei o dever e peguei meu livro preferido Circulo – Mats Strandberg. Estava em uma leitura tão perfeita que não escutei o sinal tocar, e só fui me tocar quando a professora de português chamou minha atenção, sai correndo e me atrasei para a aula de matemática, e essa professora me odeia, mas hoje ela devia estar de bom humor, pois me deixou entrar na sala sem reclamar.
Eu tinha esquecido a existência dela ate me virar para ir sentar e vê-la, e é obvio que ela estava com aquele sorriso sínico que eu odeio, me sentei, mas como sempre ela estava dando uma de mimada dos EUA e deu um gritinho quando uma formiga subiu no braço dela. A professora passou um dever qualquer do qual eu não fiz, pois estava lendo meu livro, lembra quando mencionei meus melhores amigos? Então, no intervalo advinha quem me abraçou de surpresa? Foi a Helena, e ela estava com aquele casaco azul/verde que é uns três números maiores que ela, e um all-star, ela sempre estava de all-star, eu a abracei novamente e senti aquele cheiro familiar, e disse:
- Você poderia usar menos perfume. – sorrimos e fomos comprar nosso lanche. Na lanchonete tinha cachorro- quente e refrigerante, compramos o nosso lanche e fomos sentar na frente da sala de ciências para conversar:
- Cara, ele se declarou pra mim, me entregou uma carta e meu nome estava escrito duas mil vezes.
- Meu, ele realmente te ama, da uma chan... – a Yasmin (minha meia-irmã) me interrompeu, pois veio correndo em nossa direção gritando e nós mostrando o celular.
- Vocês não vão acreditar, minha mãe comprou três ingressos para aquele show, e ela disse que eu poderia levar duas amigas – ela parou de falar para mandar uma sms – e é obvio que vou levar vocês!
- Nossa bicho, que top – Helena disse entusiasmada.
- Yah, poderia ser mais discreta? Atraiu muita atenção – falei e dei meu melhor tom irônico para a frase.
Fomos procurar o Marcus, e no meio do corredor estava ela, a mimada cujo nome é Samantha, e ela estava esnobando um menino. Sai correndo para abraçar o Marcus que estava parado conversando com seu melhor amigo chamado André, consegui empurrar a Samantha antes de abraçar o Marcus, ela caiu no chão, abracei meu melhor amigo e lhe segredei ao ouvido:
- Bicho, odeio tanto ela – nós olhamos para ela e rimos – pô, desculpa, mas acho que devia prestar mais atenção – dei meu melhor sorriso sínico e sai com as meninas deixando o Marcus com o André.
Então o sinal tocou e eu me despedi das meninas e fui para minha sala, à aula de ciências foi um tanto chata, mas se eu pegasse meu livro a professora o tomaria de mim, então fiquei prestando atenção na aula.
Quando finalmente a aula acabou e eu pude ir pra casa fiquei alegre. Cheguei em casa, minha mãe não estava lá, como sempre, desde que ela descobriu sobre a amante de meu pai e terminou o casamento ela quase não fica em casa. Fui à cozinha e comi biscoito de chocolate e fui para meu quarto, peguei meu livro, joguei a mochila no chão e deitei, li todos os capítulos que restavam para acabar, quando terminei, fui tomar banho, coloquei um pijama e desci para ver se mamãe tinha chegado, ela estava assistindo TV, me sentei ao lado dela e comecei a assistir com ela, ficamos em silencio e então o sono bateu, dei boa noite e fui dormir. Pouco antes de cair no sono, pensei no quanto minha vida estava uma merda...
Acordei atrasada para minha consulta com a Andreia (minha psicóloga, uma mulher alta, magra e de rosto bonito). Ela me passou um tratamento pra me fazer para com a automutilação, de inicio achei que não daria certo, porem fiz o que ela manou, desenhei com caneta permanente uma borboleta em meu pulso, dei a ela o nome de Helena e se eu me cortasse novamente, machucaria a borboleta. Andreia disse para passar a caneta sempre que o desenho estivesse saindo. Conversamos um pouco e eu fui pra casa, chegando lá, fui fazer meus deveres de casa, quando terminei já estava de tarde, comi uma laranja e dei uma volta pelo quarteirão com meu cachorro Zeus, voltei para casa toda soada, tomei agua e coloquei comida para o Zeus, fui tomar banho, quando terminei de me vestir com um vestido verde confortável desci e fui falar com minha mãe sobre minha consulta, ficamos conversando por uma hora mais ou menos, então minha mãe foi dormir, eu fiquei na sala assistindo Harry Potter e o Cálice de Fogo, quando o filme terminou fui dormir.
Meus problemas e pensamentos diminuíram quando a Samantha mudou de escola, mas eu não esperava que outro alguém pudesse ser pior que ela, mas descobri que ele podia, ele era extremamente insuportável, seu nome era Caleb, e para piorar ele estava namorando minha amiga Thayna.
Estava na escola, porem tive que sair mais cedo, na verdade a escola toda saiu mais cedo por falta de agua, então chamei meus amigos para ficar conversando na praça de frente pra escola. Estávamos conversando quando a Lena fala para jogarmos verdade ou consequência, todos concordaram, quando digo todos quero dizer, Marcus Thay, Caleb, Yasmin e André. Perguntas acontecem, alguns beijos, e então chega minha vez:
- Thay, acredita que o Caleb te ame?
- Não – ela responde rápido – como eu também não o amo.
- Então quer terminar? – Caleb pergunta em um tom muito natural.
- Eu só estava esperando você terminar! Agora vamos continuar.
- O.K, sua vez Thay – diz Helena.
- Effy, verdade ou consequência?
- Só tenho consequência.
- Então fica com o Caleb!
- Mas... Mas vocês acabaram de terminar...
- É o jogo, beija logo Effy.
- O.k... – então o beijei e para piorar tudo, eu estava perdidamente apaixonada por ele.
Jogamos por mais uma hora e então todos foram para suas casas. Quando cheguei, mamãe abraçou-me e disse-me uma das piores coisas que eu poderia ouvir, minha melhor amiga de infância havia se suicidado.
- Acharam o corpo dela no Box... – mamãe estava tentando me falar à coisa, mas eu não conseguia prestar atenção, eu mal conseguia pensar.
Subi correndo para meu quarto, peguei o casaco roxo que ela amava, agarrei aquele casaco e deixei as lagrimas rolarem, mamãe entrou no quarto e me abraçou:
- Querida, o enterro será daqui três dias, a mãe dela pediu que escrevesse um elogio fúnebre. Coma algo amor – foi quando vi os biscoitos.
- Não quero mãe, me deixa sozinha, por favor, vou escrever o elogio.
Mamãe saiu do quarto e fechou à porta, eu não conseguia parar de chorar, estava encolhida na cama ensopando o casaco dela, fiquei a madrugada chorando, meu celular vibrava, mas eu não queria ver o que era, e foi o que fiz, não vi, ate ele descarregar, continuei chorando, não lembro quando o sol nasceu e nem como aqueles biscoitos e aquele suco apareceram lá, só sei que não conseguia comer, nem dormir, fiquei chorando ate nenhuma lagrima conseguir cair, então lavei meu rosto e fui ver a hora, 16h , perdi a aula, e isso não me importava, peguei meu diário que dividia com a Júlia, e lá escrevi o elogio fúnebre abaixo do ultimo texto que ela havia escrito, eu não tinha visto aquele texto, então fui ler, poderia ser uma carta dela explicando o porquê do suicídio, mas não era, é algo mais intenso:
“Eu poderia começar falando do teu sorriso tímido-sexy. O mais sexy do mundo, inclusive. Da forma que você mexe seu cabelo. Você me atiça Effy, atiça desejos que são tão ocultos. Não me julgue por sentir tanta coisa assim apenas por ti. As pessoas tem a mania de dividir as outras como remédio. Eu não sou um rotulo, sou apenas um ser humano cheio de desejos... e o problema é meu se prefiro ter amigos homens, se vejo mais graça em futebol do que em desfiles de moda, se meu mundo não é rosa Pink e eu não faço escândalo ao quebrar uma unha. Deixa-me falar de tu, meu. Do bem que você me faz mesmo não estando comigo. Eu iria ate o Afeganistão por ti. Sabe por quê?! Porque seus olhos acalmam qualquer inferno que meu mundo se encontrar. Estou me entregando de bandeja pra ti. Queria tanto ser cuidada da forma que vou cuidar.”
Li tantas vezes que perdi a conta, só sabia que estava chorando e não entendia porque ela me escondeu aqueles sentimentos, talvez por medo de não for correspondida, sim, eu não gostava dela, eu a amava, mas não daquele jeito, eu a amava como irmã, mas ela não devia ter escondido esses sentimentos de mim! Mamãe entrou no quarto trazendo comida, olhei pela janela que ela acabara de abrir e vi que já era de noite, mamãe deixou a comida na mesinha ao lado da minha cama, me abraçou, falou que me amava e que era pra eu tentar comer e dormir, ela me deu boa noite, saiu e fechou a porta, tentei comer, mas não dava, e dormir muito menos, então li o texto, mais vezes...
Cai no sono e quando acordei estava melhor, consegui comer e ir a escola, chegando lá meus amigos estavam me abraçando e falando:
“Meus pêsames.”
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Uma Figurante Qualquer
AcakAgora recolhida em um canto, sendo assombrada por mortes, desilusões e fantasmas, sem mencionar as vozes em sua mente, chorando e não sabendo o que fazer, Effy que era uma garota normal, boa aluna e feliz, se torna uma garota que ninguém ousa dizer...