Caça ao Tesouro

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 – Tesouros, minhas crianças, são escondidos por um dos motivos: pra que não se percam; pra serem encontrados futuramente; ou, em casos mais intrigantes, para que permaneçam pra sempre escondidos – a lareira na sala do lenhador crepitava barulhenta. Do lado de fora a noite silenciosa ventava fria e nublada. As crianças, enroladas em cobertores no tapete, escutavam atentamente Guto discorrer sua história – Onde vocês esconderiam seus tesouros?

Timóteo, Liduína, Ranta, Gadú e Zuza trocaram olhares estreitos, formulando respostas em suas mentes.

– Debaixo do meu travesseiro – Gadú, a mais novinha, respondeu – Pra ficar bem pertinho de mim.

– Não seja tola, maninha – Zuza, irmão mais velho de Gadú, se apertou ainda mais na coberta – Um baú! Eu trancaria o meu tesouro num baú. É muito mais seguro que um travesseiro.

– Eu enterraria o meu – disse Ranta.

Liduína simplesmente deu de ombros.

– Depende do tesouro – apontou Timóteo.

– Excelente colocação – o lenhador elogiou – Agora me digam, vocês esperariam encontrar tesouros nesses lugares que acabaram de falar?

As crianças encararam o jovem contador de histórias tentando compreender a pergunta, depois concordaram com a cabeça.

– Uma dica pra vocês! O melhor lugar para esconder algo, é onde ninguém pensaria em procurar. E é exatamente onde fica o tesouro da vila. Ali escondido, onde todos podem, mas ninguém vê. É um tesouro antigo, mais velho do que essa cabana aqui. E o tesouro está ali ainda hoje, esperando ser achado por alguém mais atento que a maioria, menos afobado do que todos. Alguém assim como vocês! O que acham? Acham que conseguiriam encontrar o tesouro secreto aqui da Rejo?

– Sim, tio Guto, cadê o tesouro? – Perguntou Gadu.

– Você tem o mapa? – Perguntou Ranta.

– Aposto que fica na Cabana Torta – Arriscou Timóteo.

– Imagina se tiver lá em casa e eu nunca vi! – Liduína, espantada.

– Só pode ser um tesouro muito maravilhoso pra ser tão bem escondido. Uma adaga muito afiada... Não, uma espada... Uma espada mais afiada do que todas.

Guto abriu um sorriso. Conseguiu o que queria, ludibriar as crianças e capturá-las em seus contos. Agora era só dar alguma pista falsa e mandar a meninada pra fora dali, amanhã o dia começaria cedo.

– Nada de mapas, só o que posso dizer é que tudo começa ao pé do Cabalístico.

Crianças expulsas, chá quente e cama. Mais um dia de boas histórias nos registros de Guto.

No dia seguinte, todos muito animados – bom, todos em termos, Timóteo foi praticamente arrastado por Liduína, ele queria mesmo era voltar para a cama – se encontraram ao pé do Cabalístico. As aleluias já tinham passado e se escondido, já era seguro estar lá fora. Intrigados começaram a olhar ao redor da tortuosa escultura. Nesse quarto lunar não dava para ver direito as feições do Velho, ainda mais durante o dia.

– Ih, tô achando que o Guto tava era de conversa fiada – Disse Timóteo genuinamente não desapontado – Melhor voltar pra cama.

– Para com isso, menino! Acabamos de chegar aqui, vamo procurar mais – Liduína, puxando ele por uma das pontas de seu poncho.

– Tah, mas eu já olhei tudo e não encontrei nada! Alguém tem alguma ideia? – Insistiu Zuza.

– Eu não quero mexer no pé dele, deve ter muito chulé... Mas o tio Guto falô que tava no pé dele. – disse Gadú.

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