Conversa.

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— O que você quer... Ayamaki?

O garoto parecia estar sob uma pressão tão grande que o mesmo estava tremendo. Ele deu a iniciativa de querer conversar com alguém, e agora estava sem saída.

— Ei, eu falei com você! — exclamou Keiko, dirigindo-se diretamente ao garoto.

Ela não estava entendendo nada, porém uma sensação de insegurança começou a tomar conta de sua cabeça.

— Bom, se você não tem nada para me dizer, irei pegar minhas coisas e ir para casa. — disse Keiko, que já começava a guardar seus cadernos.

Ao guardar tudo e fechar sua mochila, Keiko se levantou, sem dizer nada.

Ayamaki não aguentou:

— Por que você anda me seguindo? — perguntou o garoto, desconfortável.

Keiko ficou paralisada ao escutar o que acabara de sair da boca de Ayamaki.

— Eu... — continuou. — eu te escutei, Keiko. Eu escutei o que você disse sobre mim e percebi seus movimentos. Você não se inscreveu em um clube para tentar ficar comigo, né?

Keiko engoliu em seco.

Ayamaki, sem obter uma resposta, disse:

— Desculpa o incômodo, vou ir embora.

Ele estava prestes a se levantar da cadeira, quando Keiko interferiu:

— Eu... — começou. — eu só queria ser amiga de um garoto.

— C-como assim? — perguntou Ayamaki, confuso e com um pouco de medo.

Keiko sentou-se no seu lugar, olhando para o rosto pálido do garoto. Ela respirou fundo, e então continuou:

— Eu nunca me dou bem com os garotos, sabe? Eu sempre quis ser amiga de um, porém nenhum dessa escola teve interesse em ser minha amiga.

Ayamaki teve um sentimento de pena.

— Há 5 anos ninguém entrou na nossa classe, e como você é a primeira pessoa nesse longo período de tempo, eu fiquei surpresa. Muito surpresa.

Keiko, após dizer isso, olhou para as mãos do Ayamaki, tão pálidas quanto seu rosto. Porém ela notou algo estranho.

Havia uma mancha vermelha em seu pulso, quase coberta pela manga da blusa de Ayamaki.

Ele percebeu onde ela estava olhando, e rapidamente colocou as mãos no bolso. Nisso, ele respondeu:

— Pelo menos você tem aquelas duas meninas junto de você, e eu tenho certeza que vocês são ótimas amigas. No meu caso, eu não tenho amigos.

— Nenhum?

— Nenhum. — respondeu Ayamaki, que parecia triste após dizer isso em voz alta. — Caramba, agora que eu reparei. Eu tô conversando naturalmente com alguém, isso nunca aconteceu antes...

Keiko soltou uma pequena risada.

Eles pareciam se dar bem.

— Ei, Ayamaki, posso te perguntar uma coisa? — perguntou Keiko.

O garoto assentiu.

— Por que você anda com roupas de frio, como essa blusa e esse capuz?

O garoto não sabia o que dizer. Ansioso, ele começou a fazer um movimento repetitivo com os dedos.

— Eu... gosto dessas roupas, sabe? — respondeu Ayamaki, mentindo.

Keiko percebeu na hora sua mentira, refutando-o:

— Mentira tem perna curta, cara. — brincou Keiko. — Mas sério, por que?

Ayamaki estava sem saída dessa vez.

— Isso... isso é algo pessoal. — respondeu Ayamaki. — Não sei se você está pronta para escutar isso vindo de mim.

Keiko ficou assustada por um momento, mas em respeito, não continuou com a conversa, que por sinal já estava pessoal de mais.

Ela abriu sua mochila, rasgou um pedaço da folha de um caderno, pegou um lápis, e escreveu sua ID do LINE, para eles poderem conversar melhor. Ao terminar, ela entregou o papel para Ayamaki e disse:

— Bom, então até lá eu irei me preparar muito. — disse Keiko, sorridente.

Em resposta, ela parecia ver um pequeno sorriso se estampando no rosto de Ayamaki.

Keiko guardou suas coisas e se despediu dele. Ela ainda não havia percebido que tinha acabado de conversar com um garoto, e, quem sabe, ter feito amizade com um.

• — • — • — • — • — • — • — • — • — • — •

Ayamaki, assim que viu Keiko saindo pegou seu celular. Nele, apenas uma conversa se destacava.

A conversa com sua mãe.

Ao entrar em seu perfil, uma enorme mensagem aparecia em sua tela:

"ONDE VOCÊ ESTÁ, CARALHO?" — ela aparentava estar furiosa.

"Eu estou saindo da escola, tive que ficar um pouco mais para receber algumas orientações." — respondeu Ayamaki, mentindo.

"Humph, ok. Venha logo para casa." — digitou a mãe, insatisfeita.

"Eu tenho certeza que ela vai me matar quando eu chegar em casa." pensou Ayamaki consigo mesmo.

Antes de sair da escola, ele se lembrou do que tinha acabado de acontecer.

Keiko havia passado sua ID no LINE.

Ele abriu o aplicativo novamente, procurou pela função de "adicionar amigos". Após isso, Ayamaki pegou o papel rasgado e digitou número por número, prestando atenção em cada dígito.

Um usuário foi exibido.

Nele, havia a foto de um gato. Seu banner era uma mão, similar a de alguém familiar, segurando uma caneca de café.

Com certeza era Keiko.

Ele clicou em "adicionar", e esperou.

Em menos de um minuto, a solicitação foi aceita, e um chat apareceu para os dois perfis iniciarem uma conversa.

Ele não queria dar a iniciativa dessa vez, porém Keiko não digitou nada.

Novamente, ele estava sem saída

E com muita vergonha, desespero e um pingo de coragem, Ayamaki digitou:

"Oi, é a Min Keiko?"

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