UM

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Juliette Freire.

Eu esfreguei os olhos e as lágrimas que teimavam em se acumular ali desceram por meu rosto, já inchado de tanto chorar. Com os cotovelos apoiados na mesa da cozinha, enfiei o rosto nas mãos e assim fiquei, quieta, esperando que um milagre acontecesse e eu me livrasse de todos aqueles problemas, mas eu sabia que não seria tão fácil assim.

 Meu balcão estava repleto de faturas, contas da casa e várias outras coisas para serem feitas.

Mais uma manhã se iniciava e eu já me desesperava sem saber o que fazer com aquela vida penosa que levava há um tempo longo demais. Os problemas só se acumulavam e eu rezava ardentemente para que algo de bom ocorresse e alguma solução aparecesse. Mas meu tempo se esgotava e tudo piorava. Tentei me acalmar. Tudo ali dependia de mim e eu não podia me entregar a exaustão.

Precisava pensar e encontrar uma solução. O meu prazo se esgotava rapidamente.

Assustei-me quando bateram na porta e ergui a cabeça, temerosa. Às sete horas da manhã, aquilo devia significar problemas.

Rapidamente pensei no agiota que vinha aumentando suas ameaças e nas pessoas que eu devia e que poderiam estar vindo mais uma vez cobrar, inclusive o dono da casa. Eu estava com quase três meses de aluguel atrasado e ele vinha avisando que nos jogaria na rua. 

- Ju! - Chamou uma voz de mulher e eu relaxei um pouco. Era Carla, minha vizinha e melhor amiga. A pessoa que mais me ajudava no mundo e em quem eu mais confiava.

Sequei bem o rosto com as mãos, respirei fundo e me levantei, saindo da cozinha apertada e indo até a porta de vidro e ferro da sala. Tentei aparentar tranquilidade ao destrancar a porta, mas assim que ela me viu, percebeu o meu estado e me abraçou, com compaixão.

- Ei... Estou aqui, lembra? Não chora por favor...

- Não estou... Acabei de acordar só isso... É, entra.

- Como vão as coisas?

- Bem. - Dei de ombros, trancando novamente a porta depois que ela entrou.

- Já tomou café?

- Ainda não. - Não disse que o pó de café já tinha acabado há dias. - Senta um pouco.

- Vim tomar café com você. - Carla sorriu e mostrou a sacola de plástico que trazia em uma das mãos. Senti um misto de vergonha e agradecimento. Sem que eu pudesse impedir, lágrimas vieram aos meus olhos já vermelhos, mas eu disfarcei, impedindo que elas rolassem.

- Você não deveria gastar tanto com a gente, Carlinha.

- Deixa de besteria. Aqui só tem pó de café, um leite, algumas panquecas, mel, geleia , torradas, ovos e bacon. Eu não ia me convidar sem trazer nada, não é?

- Não sei como vou poder ter agradecer por tudo que você faz por mim.

Carla já sabia dos problemas que me desesperavam. E sempre dava um jeito de aliviar o meu fardo.

- Vem!  Vamos fazer nosso café. - Ela me puxou pela mão indo em direção da cozinha. - Como estão as coisas? - Carla se sentou no banquinho em volta da mesa.

- Tudo na mesma. - Enchi a chaleira com água e pus no fogão velho para ferver, rezando para que o gás durasse bastante e não acabasse, embora eu soubesse que isso devia estar preste a acontecer. Resolvi não me preocupar com aquilo, pois só ficaria com mais um problema sem solução.

- E a nossa abelhinha?

- Está dormindo. - Sem querer sorri, ao falar de minha filhinha de três anos de idade.

CHANTAGEM - SARIETTEOnde histórias criam vida. Descubra agora