DEZ

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Juliette Freire.

Quando ficamos satisfeitas, eu me senti exausta, mole, trêmula. Sarah tirou o dedo de dentro de mim com cuidado e rolou-me para cama a seu lado. Desfez-se do preservativo e então apoiou minha cabeça em seu ombro.

Ficamos quietas, esperando nossas respirações se acalmarem. Nuas e suadas, ainda estávamos muito ligadas, abraçadas uma na outra.

Fechei os olhos, sem acreditar em tudo o que ela me fizera sentir. Eu sempre gostara de sexo e já tivera diversos orgasmos antes. Mas nunca foi daquela maneira, intensa, louca, alucinante. Com Bil era gostoso e havia amor, mas não aquela atração puramente sexual que havia entre mim e Sarah. Mesmo agora satisfeita, eu me sentia atraída por ela, inebriada por seu cheiro e sua presença. Mal conseguia raciocinar com clareza.

Sarah levou a mão ao meu rosto e ergueu-o em sua direção. Fitamos-nos nos olhos. Os dela estavam incrivelmente brilhantes.

- Tudo bem?

Balancei a cabeça afirmativamente, não confiando em mim para falar. Podia dizer algo do qual me arrependeria depois.

- Fica comigo... Essa noite?

Percebi que eu queria ficar ali, recebendo os carinhos dela, mas a realidade estava de volta e, com ela, uma pontada de culpa.

- Não posso. - Disse baixinho. - Preciso voltar para a casa. Minha amiga está olhando Cecile e o...

Por alguma razão, dizer o nome do meu marido ali, na cama dela, deixou-me incomodada. Sarah também pareceu se tornar mais fria.

- Meu motorista levará você.

Ela me soltou e se levantou. Não pude deixar de observa-la com admiração, enquanto ela pegava suas roupas no chão e as vestia. Olhou-me sem expressão.

- Vou contatar amanhã uma agência de enfermeiras particulares e mandar algumas para você entrevistar. Escolha uma ou duas, que possam se revezar com seu marido. Quero você disponível amanhã a noite toda.

- A noite toda? - Ergui-me em um cotovelo. - Sarah, pode acontecer algo com a minha filha...

- Você se lembra dos termos do acordo, Juliette. Terá o dia todo para resolver seus problemas e se acomodar. Não se preocupe. Será apenas por um mês. - Seus olhos percorreram friamente o meu corpo nu. - Talvez menos.

Fiquei corada, me sentindo humilhada.

- Deixe anotado o número do seu telefone. Avisarei a hora em que Rodolffo irá busca-la.

- Não tenho telefone. - Disse fria.

Ela me olhou por um momento com impaciência. Depois foi até a cômoda e voltou com um celular desses mais caros, de ultima geração. Jogou-o na cama perto de mim.

- Fique com esse por enquanto. E deixe-o sempre ligado. Vou pegar o carregador e ligar para o Rodolffo. Não demore a se arrumar.

Depois que Sarah saiu do quarto, encolhi-me na cama com os olhos cheios de lágrimas, contendo a todo custo a vontade de chorar.

Que confusão eu fui me meter!

...

Rodolffo deixou-me em casa por volta das onze horas da noite, e afastou-se na Mercedes luxuosa.

Na calçada, fitei a casa em que eu vivia, com muro baixo, portão enferrujado e pintura verde descascando. Uma onda de culpa me engolfou por ter estado fazendo amor com Sarah em um apartamento de cobertura, enquanto meu marido doente estava ali, entrevado em uma cama e minha filha devia estar sentindo a minha falta.

CHANTAGEM - SARIETTEOnde histórias criam vida. Descubra agora