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2- Chutando pedras para caminhos alheios.

O clima mudara totalmente, estava muito diferente do que o do dia anterior. O frio pegava todos de surpresa, fazendo-os vestir seus agasalhos e congelarem seus pés, além de ficarem perto de suas lareiras. Muitas pessoas tinham preguiça de irem ao trabalho nesses dias apenas por estarem incapacitadas de produzir muito como sempre faziam nos dias tão ensolarados. Jimin estava nesses dias também, se sentindo completamente em seu modo ocioso. Seus olhos estavam quase grudados um ao outro, não vendo um palmo a frente. Estava com o sono prejudicado... Na noite passada, sentiu como se alguém estivesse o observando e ficou acordando e dormindo várias vezes, o que atrapalhou o seu descanso como nunca. Se sentia uma criança assustada, mas não podia fazer muito contra isso, além de esperar passar. Sua crença em acontecimentos sobrenaturais era pequena, mas não o impedia de ter um certo medo de algumas coisas. Sempre tentava manter a calma e procurar uma explicação lógica para tudo, dizendo a si mesmo para não acreditar em crendices, porém nem sempre conseguia ter tamanho auto controle.

Era muito cedo ainda, mas ele não conseguia dormir. Teria de acordar e esperar dar o seu horário enquanto assistia televisão ou algo do gênero. Talvez devesse sair para fazer algo que distraísse a sua cabeça, pois essa coisa de sempre querer se isolar do mundo estava causando mal para si.  Não podia fazer isso o tempo todo, a socialização era muito importante para todos, e ele sempre deveria por em prática tudo aquilo que sempre diziam para ele conforme ele vivia mais e mais essa sua vida tão curta e simples. Mesmo que ela fosse entediante, algum dia tudo poderia mudar completamente e trazer algo que o mesmo nunca iria se esquecer. Esperança era algo que ele alimentava como um louco, devia ser esse o motivo de ele sempre insistir nos mesmos erros de sempre: ele ainda tinha fé que as pessoas/coisas iriam melhorar, de uma forma que elas se transformariam em algo oposto do que realmente eram. Gostava dessa ideia, mesmo que elas fossem falsas com sua pessoa. "Desde que elas fossem quem eu realmente desejava, estava tudo bem..." Era esse o seu pensamento verdadeiro que ele guardava e tentava esconder do mundo todo. Na sua realidade, ele preferia que todos fossem do jeito que ele quisesse, pois assim seria tudo mais fácil e os conflitos não existiriam. Lá no fundo ele dizia que toda essa coisa de discussões deixavam-no exausto, que tudo isso não deveria existir.

Irônico, pois ele mesmo era quem queria uma diferença em sua vida (um oposto), não importasse quais seriam os custos. Na verdade, tudo isso deveria ser uma mentira. Apenas afirmava isso para que não se sentisse tão vazio e triste como ele sempre era, colocando a culpa em cima das costas de todos, menos dele mesmo. Preferia culpar todos do que sair como culpado de se fazer tão carente. Demorava a assumir seus próprios erros, era uma pessoa cheia de defeitos e não ligava tanto para isso, apesar de necessitar ter seus olhos abertos por outras pessoas. Porém, apenas uma olhada no espelho faria sua alma transcender de volta para a realidade. Assim que isso acontecesse, conseguiria caminhar direito novamente e não apenas chutar todas as pedras do caminho para o de outras pessoas como se isso fosse funcionar perfeitamente e elas não voltassem para ele.

Acordou para a vida real novamente e olhou para o relógio, vendo que havia viajado demais e estava próximo da hora do trabalho. Se levantou em um salto e correu para o quarto para pegar o seu uniforme diário. O guarda-roupa estava bagunçado, o que o fez pensar que uma faxina geral estava precisando ser feita na casa inteira, mesmo que ele não estivesse no melhor humor para isso. Não poderia deixar a casa de qualquer jeito por conta de carência ou necessidades emocionais, isso seria um completo desastre se acontecesse.  Não chegara no ponto de deixar isso acontecer ainda. Pegou o que precisava e se trocou rapidamente, pois não queria chegar em cima da hora, queria ser adiantado, pois hoje teria muita coisa a se por em prática, não podia se distrair muito. Queria fazer tudo antes de os outros funcionários chegarem também, pois assim poderia deixar tudo do seu jeito e ninguém reclamaria.

                                
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Já no trabalho, viu algumas pessoas indo de um lado para o outro e pôde sentir que todos estavam tão cansados quanto ele. O lugar não era dos melhores, então entendia perfeitamente o porquê de não existir muitos sorrisos por todos os cantos, já que era um muquifo de tão estranho. Apenas algumas partes (como era o caso da sua) eram limpas e organizadas. De resto, quase ninguém se preocupava muito com higiene. Não era algo obrigatório arrumar o seu próprio local, já que não interferia no produto final. Mas Jimin sempre fazia questão de deixar brilhando o que usou, como uma mania.

— Bom dia. — Soltou um sorriso gentil para a mulher que sempre trabalhava ao seu lado. Ela era a única que respondia o que ele falava, os dois eram quase amigos próximos. Falavam mal de algumas pessoas que não gostavam no trabalho e rezavam para que o chefe nunca ouvisse os dois comentarem sobre ele diariamente. Cada coisa que saía dali, ficaria ali. Esse era o juramento desde o primeiro dia em que conversavam, até porque os dois haviam contado segredos íntimos um para o outro. Demorou um ano e mais alguns meses para poderem confiar um no outro e agora se sentiam confortáveis para usarem e serem usados como um diário-amigo. Não totalmente, óbvio, pois certas situações não devem ser contadas, mas as vezes saíam algumas coisas mais implícitas e secretas por ali.

— Olá! Tudo está tão parado por hoje, como sempre. Mal cheguei e já queria ir embora, mas tô' aqui apenas por causa do dinheiro mensal. Pelo menos podemos conversar ainda. Nossa colega ali do lado parece que vai faltar, de novo. Não me surpreenderia se ela fosse demitida logo, logo. — Se agachou para pegar algo do chão.

— Sério? Que estranho, talvez ela esteja fazendo isso porque quer que eles a demitam. — Dei uma leve risada. — Enfim... Não consegui dormir nada essa noite. Parecia que alguém estava me olhando, sabe? Foi péssimo.

— Você deveria procurar alguém que pode te ajudar com isso. Alguém mais religioso, não sei. Ou algum psicólogo, já que não gosta tanto assim de coisas mais sobrenaturais. Lá pode ter a solução. Ou comece a ter uma rotina que te cobre mais, quem sabe você não durma melhor por motivos de cansaço.

— Religião? Talvez eu possa considerar isso em breve. Não seria uma má ideia, mas hoje eu queria apenas me distrair. Quero ir ao baile que todos estão falando.

— Hm... Tem alguém em mente para ser seu par?

— Não, nem pensar. Espero que alguém apareça por lá e me convide para passar a noite com ele, haha.