capítulo-2

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Cheguei em casa jogando minha mochila no sofá e me deitando no mesmo, tava pensando sobre as cartas talvez eu tenha me animado com a idéia, eu nunca tentei escrever uma carta nem daquelas que se declara pra alguém. Acho que nunca me declarei pra alguém.

- Já chegou? Como foi a seção?

Minha mãe aparece na sala, com um avental azul de bolinhas brancas, ela diz que cozinhar relaxa ela e não é pra me gabar por ela ser minha mãe mas ela cozinha muito bem.

- Normal, nada de novo ela me perguntou como eu tava me sentindo, perguntou sobre meu dia, minha semana sabe essas coisas.

- E você tá se sentindo bem?.- se aproximava do sofá.

- Eu nunca me senti mal, não sei por quê tenho que ir a um psicólogo.

- Isso é para seu bem Julieta, aliás desabafar não é nada demais e eu sei que você mente quando diz que nunca se sentiu mal.

Talvez ela tenha razão (mais uma vez) desabafar não faz mal algum, mas eu acho que estaria bem desabafando com as paredes do meu quarto.

- Vá se trocar e guardar essa mochila daqui a pouco seu pai está chegando e eu fiz os biscoitos preferidos de vocês.- me dá uma beijo na testa e se levanta, indo em direção a cozinha.- não demore!

Me levantei do belo sofá e subi pro meu quarto, antes de entrar no meu quarto eu tenho que passar por um corredor. Corredor esse que tá cheio de lembranças como da vez que eu desenhei minha família com giz de cera na parede e minha mãe surtou enquanto meu pai ria.

Tiro o grande moletom, e coloco uma blusa que não tenha mangas, o aquecedor está ligado fazendo a casa ficar quente. Em Vancouver estava fazendo frio fora de época, pelo menos isso é o que os jornais dizem.

Desço as escadas sentindo o cheiro de biscoitos de canela recém feitos, os meu preferidos e do meu pai também minha mãe sempre faz esses biscoitos em época de frio. E no momento está frio, perfeito para comer biscoitos de canela enquanto assistimos um programa de TV qualquer ou ouvimos histórias da velha infância do papai.

- Sinto cheiro de noite de biscoitos e chocolate quente!.- meu pai adentra a cozinha, não tinha ouvido ele chegar nem abrir a porta.

- Você sentiu certo.-fala colocando a bandeja recém tirada do forno, no balcão.

Meu pai ia colocando a mão pra pegar um, mas minha mãe lhe dá um leve tapa na mão fazendo-o recuar.

- Só depois do jantar! E nada de atacar o pote.-ela aponta pra um pote transparente de vidro com a tampa preta quase esborrando de biscoitos.

- Tudo bem mãe, eu vou cuidar pra que o pote não seja aberto, o papai não vai chegar perto desse pote.

- Você se rebelou contra seu próprio pai Julieta?.-falava como tivesse sido ofendido.

- Não seja dramático, Rodric. Tudo bem eu confio em você meu anjo, preciso de um banho o jantar hoje fica por conta de seu pai.-fala saindo da cozinha.

- Mas por que eu?

Ela não respondeu, apenas se pôde ouvir a porta do quarto sendo fechada. Olhei pra o pote de biscoitos e me direcionei até ele, e abri-lo devagar.

- É isso aí minha pequena Julieta, eu sabia que não resistiria até depois do jantar essa é minha garota.

Sorri com a convicção do mais velho.

O jantar ocorria bem, papai fez sua especialidade: espaguete

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O jantar ocorria bem, papai fez sua especialidade: espaguete. O velho não tinha muitos dons culinários, mas com certeza se eu tivesse esses dotes eu me sairia bem morando sozinha.

Não que eu não saiba cozinhar, sei fazer algumas coisas que dá pra sobreviver meus pais contam animados como foi o dia deles no trabalho e eu ouço tudo calada enquanto como. Me pergunto pra quem dedicarei minha carta, me pergunto sobre quem ou oque falaria nela.

- E você filha? Algo de novo hoje?.- ele falava com tanta esperança que me dava dó de dizer "não pai, tudo normal como sempre foi".

- Não tivemos aula de história, ficamos na quadra livres de qualquer tarefa, foi legal.-falo com desanimação.

Minha mãe me olha, como se dissesse "eu falei que não estava bem, você está desanimada e eu sei disso".

- Todos temos dias ruins as vezes, querida.

- No meu caso foi a terceira vez só essa semana.-digo olhando pros dois.

- Oque acha de ir ao shopping amanhã? Você pode comprar livros ou roupas que você goste. Deixo o dinheiro com você e depois da escola você pode ir.

Minha mãe sempre achou que pra animar alguém compras seria a melhor solução, já eu sou diferente eu acho que livros, filmes e músicas podem te deixar mais alegre. Não tem muito segredo talvez música do tipo um lo-fi animado.

- Não sei se é uma boa ideia, compras exigem dinheiro não quero que gastem comigo.

- Não há mal algum filha, sua mãe pode lhe dar uma parte do dinheiro e eu dou outra, apenas queremos ver você se divertir.

Sorri fraco para eles, sobre eu não querer que eles gastem dinheiro por uma parte é verdade. Mas por outra eu apenas não queria ir ao shopping, muitos adolescentes vão lá depois do colégio mesmo que ele seja imenso, ainda sim você corre risco de esbarrar neles.

Algumas meninas vão lá apenas pra fofocar, outras vão pra a loja de roupas íntimas experimentarem todos aqueles tecidos caros e finos. E alguns outros adolescentes, vão a um beco fumar. Um beco quase vazio onde ninguém vai, apenas eles, há guardas ali perto mas eles fingem não ver para não terem mais trabalho.

- Tudo bem.

Vejo os dois sorrirem.

Cartas para JulietaOnde histórias criam vida. Descubra agora