Mentiras

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Chego aos destroços fumegantes do helicóptero ao amanhecer. Não foi difícil encontrar o local da queda: o Falcão Negro caiu no meio de um campo aberto coberto por uma camada nova de neve. Era possível ver o brilho do fogo a quilômetros.

Aproximo-me devagar pelo sul. À direita, o sol rompe o horizonte e a foz se lança pela paisagem de inverno, incendiando um inferno cristalino, como se um bilhão de diamantes tivessem caído do céu.

O 12° Sistema está pedindo descanso, comida, ajuda com o processo de cura, esse é o objetivo de me devolver a dor.

Não. Nenhum descanso até que os encontre.

O céu está vazio. Não há vento. Fumaça sobe em espiral do helicóptero destruído, negra e cinza, como a fumaça que se ergueu do Campo Abrigo carregando os restos incinerados dos assassinados.

Especialista, onde você está?

O sol sobe e o brilho refletido pela neve se torna ofuscante e então vejo um borrão na perfeição branca a cerca de um quilômetro a oeste. Deito de bruços no chão, abrindo uma pequena trincheira com um movimento do tórax. À medida que se aproxima, a mancha escura assume uma forma humana. Alto e magro, usando uma parca pesada e carregando um rifle, movendo-se devagar na neve que chega aos tornozelos. Trinta minutos se arrastam.

Chamo-o pelo nome, mas não muito alto, o som chega mais longe no ar do inverno. A voz dele flutua até onde me encontro, aguda pela ansiedade.

— Puxa vida! - Ele caminha pesadamente por alguns metros e logo começa a correr, erguendo os joelhos bem alto e batendo os braços como um fanático por exercícios na esteira. Ele para a meio metro de distância, o hálito quente explodindo pela boca aberta.

— Você está viva — ele sussurra. Vejo em seus olhos: Impossível

— Onde está Teacup?

Ele mostra um lugar às costas com a cabeça.

— Ela está bem. Bom, acho que a perna dela pode estar quebrada...

Dou a volta nele e começo a andar por onde ele veio. Ele me segue com dificuldade, insistindo para que eu diminua o ritmo.

— Eu estava quase desistindo de você — ele bufou. — Sem paraquedas! Qual é? Você agora pode voar? O que aconteceu com sua cabeça?

— Bati.

— Ah! Bom, você parece um apache. Pintura de guerra, entendeu?

Eu o ignoro.

— Por que você acha que a perna dela está quebrada?

— Bom, eu só acho que pode estar quebrada. Com a ajuda de sua visão de raios X, talvez você possa fazer um diagnóstico...

— Isso é estranho — estou observando o céu enquanto caminhamos. — Onde estão os perseguidores? Ele devem ter marcado o local.

— Eu não vi nada. É como se eles tivessem desistido.

Sacudo a cabeça.

— Eles não desistem. Falta muito, Navalha?

— Mais um quilômetro. Não se preocupe, eu a deixei confortável e em segurança.

— Por que a deixou?

Ele me olha intensamente, atordoado por um segundo. Mas somente por um segundo. Navalha não fica mudo por muito tempo.

— Para procurar você. Você me disse para encontrá-la junto do fogo. Essa é uma instrução meio vaga. Você poderia ter dito, "Encontre-me no local em que derrubei o helicóptero. Esse fogo."

Vence quem persevera (Concluída)Onde histórias criam vida. Descubra agora