O mar infinito

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O monitor continua a piscar. Pulso, pressão sanguínea, respiração, temperatura. O garoto que nocauteei enquanto estava me trazendo para esta sala está consciente encostado na porta, uma das mãos massageando a garganta, a outra segurando arma.

— Sabe Especialista, Teacup está viva porque você está. Se você não estiver, ela também não vai estar. - uma mulher alta e magra diz enquanto pega uma seringa com um líquido incolor e trás de encontro ao meu braço — Algo para ajudá-la a relaxar. Uma pequena picada.
Olho rapidamente para câmera instalada no canto oposto do quarto, ele está assistindo? Ele deve saber que bati em um de seus guardas enquanto estávamos vindo para cá.
Então um estalo percorre pelo meu corpo. Vosh disse que a ira não era a resposta, e a ira é a única explicação pra ele me matar e acabar com tudo isso. Nunca me ocorreu que ele poderia estar blefando.

Uma voz sem corpo emerge da névoa

— E agora vamos voltar ao problema dos ratos, está bem?

Escuto o bip de um monitor a milhares de quilômetros de distância marcando os batimentos do meu coração

— Respire Especialista, você está totalmente segura

Totalmente segura. Então foi por isso que me  deram um sedativo, provavelmente meu coração teria parado devido ao choque. O efeitoé tridimensional. Consigo ouvir a voz de Vosh em um lugar onde o som não existe.

Estou flutuando, mas agora estou muito acima da terra, ênfase um negro repleto de estrelas.

Bip

— Essa é a terra como era há 66 milhões de anos. Linda, não é? Ela adoraria ter permanecido pura por outros 66 milhões de anos, livre de sua gula mamífera. A terra abundante de vida antes que vocês, roedores que são, a ter estraçalhado em pedaços para alimentar o apetite voraz e construir o seus ninhos imundos.

Bip

Agora estou na praia de um vasto mar, assistindo ao asteroide cair, um pedregulho, insignificante.

— E assim o destino do mundo está decidido por uma rocha.

Bip

O mar se agita, a névoa se move e gira: a água está fervendo e sumindo.

— E dentro dele está o enigma, a charada que você tem evitado, porque confrontar o problema abala os alicerces, não é mesmo? Desafia explicações.

Bip

— Não preciso dizer o óbvio, preciso? A questão tem incomodado você por um longo tempo.

Não posso me mover. Sei que não é real, mas meu pânico é como imenso muro de vapor e poeira

Bip

— Pulsos eletromagnéticos. Gigantescas varinhas de metal caindo do céu como a chuva. Praga viral. Agentes dormentes implantados em corpos humanos. Exércitos de crianças e submetidas a lavagem cerebral. O que é isso. Esse é a principal questão. A única que realmente importa: porque se incomodar com tudo isso quando você só precisa de uma rocha muito, muito grande?

A onda rola em cima de mim e me afogo.

Bip

— Filha

Meu pai

— Cale a boca! Eu sei que você não é real

Bip

— Tem uma coisa que quero lhe contar. Uma coisa que você precisa saber

— Não entendo porque está fazendo isso comigo, pare! - Digo a Vosh, sei que ele está me observando

— Eu perdoo você - meu pai diz

Bip

Chegamos até Cincinnati. Um pouco mais de 160 quilômetros. Então o estoque dele acabou. Ele me implorou para não deixá-lo, mas eu sabia que, se não encontrasse um pouco de bebida depressa, ele iria morrer. Encontrei, uma garrafa de vodka escondida debaixo de um colchão, depois de invadir 16 casas, se é que se pode chamar assim, já que todas as casas estava abandonadas. Fiquei tão feliz em achar que até beijei a garrafa. Mas era tarde demais. Quando voltei ao acampamento ele estava morto. 

Bip

— Sei que você não é real, sei que isso é mentira! - digo

Ele sorri. Meu pai sorri

— Vim parar lhe dizer isto. Essa é a lição filha. Isso que eles querem que você entenda.

Mão quente de encontro a dele, ele está tocando meu braço. A última vez em que senti sua mão foi no rosto com tapas fortes e doloridos enquanto a outra me mantinha imóvel. Vagabunda, não me deixe, nunca me deixe! Cada vagabunda enfatizado por um tapa.

Bip

— Primeiro, eles nos ensinaram a não confiar neles. Depois ensinaram a não confiar um no outro. Agora estão nos ensinando que não podemos nem ao menos confiar em nós mesmos - ele sussurra

— Não entendo

Ele está desaparecendo. Ele me da um beijo na testa. Uma benção. Uma maldição

— Você pertence a eles.

Então eu caí, cai em um mar, aonde ninguém mais pode me salvar.

Afundo devagar, o peso das profundezas sem luz me empurrando para baixo, espremendo o ar de meus pulmões, tirando sangue do meu coração.


















Bip





















Eu me afoguei,

























novamente em um mar infinito.

Vence quem persevera (Concluída)Onde histórias criam vida. Descubra agora