Antônio
Estacionei meu Jeep Compass na garagem de casa e travei o carro, depois de tirar minha pasta e meu paletó do banco do carona.
Estava cansado. Morto, para ser mais sincero.
Depois de um dia de trabalho puxado, no qual analisei alguns inquéritos atrasados, tive que cumprir com a promessa que fiz ao meu amigo Diego e passei no escritório de advocacia dele para uma confraternização que ele estava fazendo com seus sócios. Comemoraram a parceria firmada com um importante escritório de São Paulo, o qual passaram a representar aqui em Caruaru.
Era bom rever alguns amigos e passar um tempo fora.
Afinal, ter que aguentar um bando de advogados reunidos conversando sobre casos jurídicos era muito melhor do que chegar mais cedo em casa e ter que aturar o humor inconstante de Eduarda.
Claro que lá ainda tive que lidar com o inconveniente que era ter Valéria dando em cima de mim durante toda a noite, além de perder horas preciosas que eu poderia ter passado brincando com o meu filho, mas hoje eu não estava com paciência para as reclamações da minha esposa, e tive que sacrificar meu contato com Enrico por isso.
Não aguentava mais as maluquices de Eduarda, além do modo distante como tratava nosso filho. O garoto tinha apenas cinco anos e precisava aguentar todas as exigências da própria mãe! Em vez de dar carinho e se mostrar mais compreensiva com as limitações do menino, a mulher só o cobrava mais e mais.
Tudo isso por vergonha!
Por não aceitar que nosso filho tenha nascido com lábios leporino, mesmo já tendo feito a cirurgia para consertar o problema, e vivendo perfeitamente bem hoje. O fato de ter uma cicatriz que não escondia sua condição passada, além da voz um pouco fanha, era motivo para que ela quisesse esconder Enrico do resto do mundo.
A discussão de hoje tinha sido por querer tirar o menino das aulas de natação, porque para ela já era sacrifício demais ter que levá-lo todos os dias à escola, onde todos poderiam vê-lo.
Obviamente, não concordei, porque era um absurdo imenso ter que privar o menino de uma vida normal por conta das neuras da mãe inconsequente dele.
Não conseguia aceitar a forma como ela o tratava! Por que dar tanta importância ao que os outros pensam?
Trinquei o maxilar ao lembrar das palavras duras que trocamos mais cedo e tentei aliviar a tensão que me dominava, para não passar a impressão errada ao meu filho assim que entrasse em casa. Ele não tinha culpa dos pais desajustados que possuía.
Os erros que eu cometi junto com Eduarda não deveriam afetá-lo.
Nosso casamento foi um equívoco gigantesco e já estava fadado ao fracasso desde antes de acontecer. Essa possibilidade jamais deveria ter existido, quanto mais ter sido colocada em prática, mas quando me vi entre a cruz e a espada, com minha ficante grávida, ainda por cima de um bebê com necessidades especiais, não tive outra opção.
Agi da forma que julguei ser correta, mesmo que meus pais tivessem me aconselhado a pensar melhor. O fato de termos um filho não era uma obrigação para um casamento. Eu podia dar todo o suporte a ele e a mãe dele sendo um pai solteiro. Mas naquele momento, achei que aquela era a melhor opção, principalmente tendo Eduarda me cobrando o tempo todo.
Quando eu a conheci estava no meu último ano do mestrado. Estudávamos Direito na Universidade Federal do Rio de Janeiro e a atração foi imediata. Naquele dia, numa festa da calourada, como qualquer jovem querendo aproveitar a vida, não pensei muito nas consequências dos meus atos, apenas que precisava ficar com a morena gostosa que me encarava de forma despudorada.
VOCÊ ESTÁ LENDO
O homem que me Enganou
RomanceOBS.: Anteriormente publicada como Doce Segredo. Atualmente, o livro encontra-se disponível na Amazon Kindle com o título atual. Sinopse: "A boleira Maria Ana teria a vida quase perfeita, se não fosse por seu nome composto esquisito e uma dívida ast...