Capítulo 2- Ana

55 15 8
                                    


Ana

Pedi um Uber tão logo desliguei o celular, sentindo o nervosismo, mas principalmente a preocupação, me dominar.

Não tive tempo de explicar o que aconteceu à mainha, até porque nem eu mesma tinha essa resposta. No entanto, a acalmei dizendo que precisava resolver uma situação do trabalho e que, por isso, a deixaria em casa e em seguida iria até o local da entrega, onde Júlia e Guto me aguardavam.

Não sei o que aqueles dois aprontaram, nem mesmo se a culpa era deles, o fato é que, pela forma como minha irmã estava aparentemente nervosa na ligação, a situação não era das melhores.

E tudo se confirmou quando desci do carro, paguei a conta, deixando o troco para o motorista, e saí correndo em direção ao Times, um dos prédios empresariais mais conceituados da cidade, onde se localizam a maioria das empresas e escritórios mais famosos do momento.

Vi Júlia assim que cruzei as portas do elevador, parecendo bastante perturbada.

— O que houve? Onde está o Guto?

Percebi que os olhos dela se turvaram imediatamente, e isso só podia significar uma coisa: ou o problema era do tipo grande demais para uma pobre empreendedora endividada resolver; ou ela fora a causadora da confusão, o que eu não duvidava nenhum pouco, tendo em vista o histórico desastroso dela.

— Eu juro que não foi de propósito! O Guto está lá dentro tentando resolver, mas ela não quer saber, disse que vai nos processar. Eu... Eu sinto muito, Ana! — Seu pedido de desculpas precipitado foi o suficiente para responder minha dúvida anterior.

Tem caroço nesse angu!

Não perdi tempo brigando ou tentando descobrir qual merda ela tinha feito. Simplesmente corri para onde imaginei que fosse a copa, sem me importar em atravessar a extensa sala com vista privilegiada para o bairro mais nobre da cidade, onde várias pessoas importantes socializavam, com vestidos e ternos tão caros, que tenho certeza que seriam suficientes para pagar o empréstimo que fiz no último ano, e ainda sobraria dinheiro.

Nem me importei se estava descabelada, com a pele mais oleosa do que macaxeira frita, e as roupas amarrotadas de tanto me mexer, impaciente, na cadeira da sala de espera do consultório do Dr. Breno.

Por falar nele... Meu Deus! Que mico! Sabia que as indiretas da minha mãe um dia me colocariam em uma situação embaraçosa. A mulher não aceitava o fato de que eu precisava me realizar profissionalmente, antes de sequer pensar em me envolver com alguém, e era eu quem me ferrava por isso.

Não que o médico dela fosse feio ou tivesse algum defeito aparente. Eu só não conseguia me interessar por ninguém, principalmente alguém que fosse da mesma altura que eu. Minha prioridade no momento era apenas a Bella Doceira e minha família. Ponto.

Não tinha tempo para mais nada além disso, a prova era tanta que eu me encontrava agora, no que deveria ser meu horário de descanso, me dirigindo até algum espaço dentro desse prédio gigantesco, para tentar entender em qual merda minha irmã havia nos metido.

— Opa!

Esbarrei em alguém enquanto tentava me desviar dos demais corpos e me limitei a pedir um breve pedido de desculpas, sem parar de andar.

Não demorou muito para que eu pudesse ouvir os gritos de uma mulher e a voz calma de Guto tentando acalmá-la, sem sucesso. Não sei como ninguém lá fora estava escutando aquela confusão, porque, sem dúvidas, ela não estava fazendo questão de disfarçar.

— Com licença. Sou Ana Cordeiro, a proprietária da Bella Doceira — olhei rapidamente para meu amigo e braço direito, e pude sentir a preocupação dele apenas pelo seu olhar de desespero e o vinco entre as sobrancelhas. — O que está acontecendo aqui?

O homem que me EnganouOnde histórias criam vida. Descubra agora