Capítulo 4 - Antônio

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Antônio

Já eram quase meio-dia e eu não conseguia me concentrar na porcaria do trabalho.

Hoje, especificamente, dois fatores estavam me incomodando. O primeiro era a fome, que tinha decidido me atormentar mais cedo, já que preferi permanecer no escritório em vez de ir lanchar, a fim de adiantar o trabalho atrasado. O outro, para minha preocupação, não tinha nome, mas possuía um olhar e corpo marcante, que desde a noite anterior não conseguia abandonar a minha mente.

Eu já estava ficando estressado com isso, porra!

Não vou negar que minha vida sexual com Eduarda estava bem escassa nos últimos meses, mas ontem a coisa foi um pouco pior do que usualmente. Não que tenha sido ruim, muito pelo contrário. Minha esposa parecia bem disposta a me enlouquecer, usando de todos os truques que sabia que eu gostava na hora do sexo para me agradar e me convencer a perdoá-la.

A questão foi que, mesmo me esforçando para me concentrar no momento, todas as vezes que fechei os olhos, só conseguia pensar na maldita mulher que encontrei mais cedo, discutindo com Valéria naquela copa. E, apesar de ter meus problemas com Eduarda, não achava justo pensar em outra enquanto estava com ela.

Não sou nenhum santo, tenho consciência disso, por isso não vou mentir dizendo que nunca a traí. Para ser sincero, isso não é algo de que me orgulhe nenhum pouco, pois, apesar de ter acontecido não mais do que duas vezes, e sempre quando brigávamos por conta do Enrico, isso era atitude de covarde.

Preferi lidar com as nossas diferenças me afastando e enchendo a cara, para depois ficar com qualquer mulher que me desse mole em algum bar, do que chegar nela para termos uma conversa madura.

Fui um escroto e reconheço. Mas em todas essas duas vezes que cometi esses erros, não fui capaz de me envolver por mais do que uma noite com as mulheres, de modo que, no dia seguinte, já nem me lembrava mais delas.

Só que aquela mulher, apenas com um olhar, havia se fixado em minha mente, ao ponto de eu não conseguir tirá-la da cabeça nem durante o trabalho, quando eu me envolvia completamente com as causas que analisava, por considerar um momento sagrado da minha rotina.

E essa fixação estava me intrigando e, consequentemente, me tirando do sério por atrapalhar minhas obrigações.

— Que saco!

Afrouxei o nó da gravata, sentindo-me incomodado com todo aquele pano em cima de mim.

Caruaru, na verdade, Pernambuco como um todo, costumava ser muito quente durante a maior parte do ano, até mesmo no inverno, mas hoje estava fora do normal. Nem mesmo o ar-condicionado novo da sala estava dando vencimento no calor que estava fazendo.

Não sei se era o estresse somado à preocupação e ao clima intenso, mas o suor deslizava por minha pele de uma forma desconfortável, o que só me desconcentrava ainda mais.

Peguei o celular sobre a mesa, com o intuito de pedir meu almoço mais cedo em algum restaurante do ifood, uma vez que não sairia para tentar me dedicar aos inquéritos que não fui capaz de analisar esta manhã, mas parei ao perceber que havia algumas mensagens não lidas no WhatsApp.

A primeira delas era da minha mãe, perguntando como eu estava e reclamando por eu não ter ligado mais para ela. A última ligação que fizemos, na verdade, tinha sido há dois dias, e seu desespero aparente não se passava de drama puro.

Acabei sorrindo enquanto a respondia rapidamente, dizendo que tinha estado ocupado, mas estava bem, e, assim que possível, entraria em contato com mais calma.

O homem que me EnganouOnde histórias criam vida. Descubra agora