Ana
— Não quero tomar mais do seu tempo. Já te atrapalhei demais por hoje! Sem contar com a parte de quase te matar...
A vergonha que eu sentia, ao listar alguns dos meus erros apenas de agora de manhã, me fazia querer correr para casa e nunca mais sair de lá.
Antônio, como lembrei se chamar, me encarava atentamente, sem dar nenhuma pista do que poderia estar pensando.
O fato de me observar de forma tão profunda, como se realmente estivesse interessado em descobrir um pouco mais sobre a minha história — um fato que não gosto muito, diga-se de passagem — me deixou realmente mexida.
— Como eu disse, tenho todo o tempo do mundo. E mesmo que não tivesse, estou na minha obrigação de ajudar uma moça machucada, então o dever terá que esperar.
— Está vendo? Estou te atrapalhando! Você provavelmente deveria estar no trabalho a uma hora dessas!
Ele olhou para o caro relógio que ostentava no pulso, dando-se conta do avançar das horas. Por incrível que pareça, estávamos sentados naquela mesa há quase três horas.
— Não será o problema. Falta justificada!
— Deixa eu adivinhar... Você é empresário, dono da própria empresa e pode chegar na hora que quiser, porque tem vários funcionários tomando conta de tudo enquanto o chefe está aqui, socorrendo uma louca donzela.
Coloquei o torço da mão sobre a testa, fazendo uma pose afetada para brincar com ele. Mas quando voltei à posição normal, ao contrário do que eu imaginava, Antônio não estava sorrindo.
Seu olhar continuava focado no meu, mas dessa vez, seus olhos possuíam um brilho peculiar, quase predador, como se fosse um animal prestes a atacar sua próxima vítima.
Rapidamente, mudei minha atenção para um ponto qualquer da mesa, temendo que ele percebesse como aquele comportamento me afetava.
E o pior era que não sei se fazia de propósito, porque sua atenção para comigo era tão genuína, que acabava não ficando chateada pela forma como me encarava.
Acho até que, no fundo, estava gostando.
— Não passou nem perto.
Sua voz grossa se tornou ainda mais intensa à medida que ele tentava falar mais baixo, para que nenhum dos funcionários curiosos continuasse prestando atenção na nossa conversa.
— É, realmente. Empresário você não é, senão não estaria aqui tão tranquilo, mesmo com funcionários te auxiliando. Eu, por exemplo, não sei o que ainda estou fazendo aqui — admiti, dando-me conta de como estava sendo irresponsável por ignorar tudo para continuar ali, batendo papo com um completo desconhecido que, estranhamente, nos últimos dias parecia bem constante na minha vida. — Deixa eu ver! Pela sua preocupação mais cedo, eu vou chutar que você é médico, acertei?
— Acha que se eu fosse médico você continuaria aqui? Já teria te arrastado até um hospital para fazer uma bateria de exames, até ter certeza de que está realmente bem. — O suspiro que deu a seguir pareceu de preocupação. — Na verdade, mesmo sem ser médico, era isso que eu deveria ter feito...
Acabei me sentindo culpada.
— Não precisa se preocupar! Sério! Me conheço muito bem para saber que estou bem. Apesar de teimosa, não quero morrer nem tão cedo, então não faria sentido continuar aqui se não estivesse me sentindo bem. — Percebi que seu olhar estava fixo em minha têmpora. — Isso aqui foi por descuido meu, não teve nada a ver com o acidente, juro!
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O homem que me Enganou
Любовные романыOBS.: Anteriormente publicada como Doce Segredo. Atualmente, o livro encontra-se disponível na Amazon Kindle com o título atual. Sinopse: "A boleira Maria Ana teria a vida quase perfeita, se não fosse por seu nome composto esquisito e uma dívida ast...