Capítulo 5 - Ana

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Ana

— Ana, será que conseguimos entregar uma torta de alpino de um quilo ainda hoje? — Júlia, que além de cuidar da parte do marketing era responsável por pegar os pedidos online, entrou na cozinha, parecendo preocupada.

— Acredito que não, por conta do tempo que precisa passar na geladeira para se estruturar. Por quê?

— Acabei de receber um pedido, mas o rapaz queria para hoje. Eu disse que não dava, mas ele insistiu. Vou dizer a ele que é impossível.

Ela já ia dando as costas para voltar para a recepção, quando Guto, que parecia bem quieto hoje, disse:

— Acho que fiz uma de alpino ontem e a pessoa que encomendou não veio pegar. Está na geladeira, mas é de um quilo e meio. Se ele quiser ficar com essa...

Deu de ombros, voltando a prestar atenção na torta de morango que confeitava com o tema da Masha e o Urso.

— Fala com ele e vê se está tudo bem levar uma maior — pedi para minha irmã, preocupada. — E depois confere para mim quem foi a pessoa que encomendou e não veio buscar, porque se esse rapaz não quiser comprar essa, vai acabar se perdendo e nós que ficamos no prejuízo. O pessoal é muito inconsequente e sem respeito com o esforço dos outros. Acham que é só pedir e, se não quiserem mais, podem desistir sem nenhum problema!

Fiquei realmente chateada com a situação. Não era recorrente, mas, vez ou outra, acontecia de fazerem pedidos e não virem mais buscar. E nós que arcamos com o prejuízo!

— Já estou vendo essa questão, Ana. O jeito é começarmos a pedir a metade adiantada. Se o pedido for online, só confirmamos após o depósito ou a transferência de cinquenta por cento do valor. Senão, vai continuar acontecendo esse tipo de situação inconveniente.

Infelizmente, Júlia tinha razão. Se não exigirmos alguma garantia concreta além da palavra do cliente, as chances de continuarem desrespeitando nosso trabalho e tempo são grandes.

— Tudo bem. Depois conversamos melhor sobre essa questão.

— Beleza. Vou responder esse cliente e depois vou dar um pulinho em casa para almoçar, tudo bem?

— Pode ir. Só não demora muito, porque não posso ficar muito tempo na recepção. Ainda tenho que terminar esses pedidos, antes de começar a confeitar os outros que a Grazi vem pegar mais tarde.

Grazi era a filha de uma amiga da minha mãe e trabalhava com organização de festas. Como nos conhecíamos há algum tempo e ela confiava no meu trabalho, acabei propondo uma parceria com a empresa dela, e sempre que tinha um novo cliente, ela acabava oferecendo nossos produtos também.

Até o momento, a parceria se mostrava bem sucedida, e em muitos meses era a minha salvação para pagar todas as despesas da empresa.

Minha sorte era que mainha e painho tinham uma casa grande e de esquina, de modo que a parte dos fundos dela acabava dando para a rua lateral, o que me permitiu usar os dois últimos cômodos para abrir uma pequena recepção, além da cozinha da confeitaria. Se não fosse por isso, provavelmente teria que gastar uma fortuna com o aluguel, já que o bairro estava bem valorizado, o que tornava os preços cobrados em pontos comerciais inviáveis para o meu orçamento.

Terminei de lavar algumas espátulas e bicos de confeitaria que usei mais cedo e enxuguei as mãos, antes de tirar o avental e a touca e pendurá-los no gancho reservado para isso.

— Vou ficar na recepção atendendo os pedidos online enquanto a Júlia não volta. Depois que acabar aí, pode ir almoçar também, Guto — avisei ao meu assistente e braço direito, notando-o um pouco quieto demais hoje. — Aconteceu alguma coisa?

O homem que me EnganouOnde histórias criam vida. Descubra agora