Capítulo 12 - Ana

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Ana

— Ora, Ana! Isso lá é jeito de falar com o rapaz?

Observei, estarrecida, minha mãe sentada na antiga poltrona da vovó, enquanto Antônio, com toda aquela sua elegância e imponência, descansava sobre o esquisito sofá florido de Dona Tereza, que, por sinal, parecia muito animada, apesar do breve aborrecimento pela minha reação.

Também não era de se estranhar!

Eu sabia muito bem o que estava se passando naquela cabecinha criativa e sonhadora dela.

Com certeza eu já tinha o local, o vestido e as flores do meu casamento imaginário com Antônio prontos, uma vez que ela provavelmente o estava desenvolvendo na própria mente.

— Desculpe, eu só não esperava encontrá-lo aqui — admiti, saindo do lugar com passos lentos, para me aproximar de onde ele estava.

Ficou um silêncio estranho.

Mainha olhava de mim para ele em expectativa, só faltava unir as mãos e quicar sobre a cadeira, completamente encantada com aquela possibilidade que desenhava bem a sua frente.

Tentei não olhar para Antônio, a fim de não dar mais pano para manga, mas foi impossível. Precisava garantir que ele estava bem, que ela não tinha dito nenhuma besteira que o deixasse em pânico, pronto para correr dali a qualquer momento — não que essa última possibilidade fosse totalmente ruim.

— Bem, eu vou passar um cafezinho para você, Antônio! Veja só que displicência a minha! Fiquei conversando aqui, distraída, e nem te ofereci nada! — Mainha pulou da poltrona com essa desculpa, sem nos dar a oportunidade de contestar.

— Me desculpe por qualquer coisa que ela possa ter dito. Juro que não faz por mal! Só perde um pouco da noção quando vê qualquer pessoa do sexo masculino, que não seja meu pai, é claro, perto de mim.

Tive vontade de me enfiar em um buraco por ter que admitir isso, mas pelo sorrisinho que Antônio ostentava, ele já tinha sacado qual era a dela.

— Não culpe uma mãe por sonhar... Ela só quer o melhor pra você — comentou, divertindo-se.

— Isso aí, Antônio! Só quero o melhor pra ela!

Procurei o lugar por onde a voz da minha mãe tinha vindo, percebendo Dona Tereza escondida atrás de uma pilastra, tentando ouvir nossa conversa. Mas aparentemente tinha esquecido que deveria passar despercebida, porque se entregou totalmente.

— Mãe! — reclamei, sentindo todo o meu rosto esquentar.

Antônio estava achando toda a situação hilária, pois continuava rindo sem parar.

Bobo!

Não sei como ainda continuava ali. Eu, no lugar dele, já teria usado a primeira desculpa que surgisse na minha mente para sair correndo daquela loucura.

— Acho melhor conversarmos lá fora, se não se importa. As paredes dessa casa têm ouvidos, e aparentemente boca também! — alfinetei, já abrindo a porta da frente de casa. — Vamos?

— Claro.

— Ah, mas não vai tomar meu café?

Antes que ele pudesse sair da sala, ela surgiu apressada, saindo de vez do esconderijo, para tentar nos convencer a permanecer ali, onde poderia ouvir toda a nossa conversa.

— Não, mãe. Depois ele toma. Agora preciso resolver uma coisa com o Antônio, sem que a senhora fique bisbilhotando — fui grossa, mas era necessário para ver se ela se tocava.

O homem que me EnganouOnde histórias criam vida. Descubra agora