Quando conseguiu sair da vista dos amigos, Maia deu um suspiro. Desde que tinha visto os seus pais tudo o que queria fazer era ficar sozinha, tentar organizar a sua mente. Fai tinha percebido isso e ficou muito grata por ele não a ter pressionado; agora estava indo comer alguma coisa, e como realmente estava com fome era uma ótima desculpa para ficar sozinha.
O choque de ter visto Piper e Jason mais novos ainda era muito recente, e a garota não tinha achado que ficaria tão nervosa. Ficar algumas horas sem ninguém era do que ela precisava; sempre que tinha que pensar em algo importante ou tinha que se acalmar, ela ficava sozinha e tentava organizar tudo. Na maioria das vezes dava muito certo, então continuava fazendo isso. Chegou no restaurante e, como era self service, começou a montar o seu prato sem nenhuma presa; não tinha muita gente e ainda tinha bastante comida, que por sinal estava com um cheiro maravilhoso. Ela não estava nem um pouco atenta ao seu redor; estava tentando não se preocupar com nada, tentar deixar a sua mente respirar. Foi pesar o seu prato e, logo que ia escolher uma mesa, a pessoa que estava atrás dela disse:
-Pode colocar na mesma conta
Maia se virou, achando um absurdo que alguém que ela mal conhecia querer dividir o dinheiro com ela. Quando viu quem era, sentiu o chão sumindo dos seus pés. Jason estava logo atrás dela, com um sorriso carinhoso.
-Desculpa te assustar – disse, encolhendo o ombro - Só achei que seria legal falar com você, e como não tinha me visto ainda...
Maia não sabia o que dizer. Ela ainda queria ficar sozinha, mas também gostaria de conversar com Jason... e mandar ele embora seria muita grosseria, então ela apenas concordou com a cabeça e se dirigiu para a primeira mesa que viu. Ele se sentou na cadeira de frente, parecendo não saber direito o que falar.
-A Piper não está com você? - perguntou Maia
-Não - respondeu ele, com um sorriso – Ela tinha pensado em conversar com você depois de mim. Claro, se você quiser – acrescentou depois que viu o pequeno espanto da garota
-Por que não disseram para os outros o que pretendiam fazer?
Jason deu de ombros.
-Bem, não sei pela Piper, mas por mim, foi porque você pareceu meio... abalada lá - disse, se mexendo um pouco na cadeira – Achei que, se nós falássemos naquela hora para você, poderia te deixar mais... pressionada. E não é isso que eu quero – disse, com um sorriso tímido
Maia não soube o que falar com isso. Bem, ele estava certo; provavelmente, se tivessem falado junto cm os outros a garota poderia ter reagido da forma errada. E só o fato dele ter percebido isso, sem que eles nem tenham se falado antes, a deixou mais tranquila; na verdade, sempre que estava com Jason se sentia mais tranquila, sempre foi assim desde pequena. Aquele sorriso fofo com uma fina cicatriz no lábio sempre a deixou feliz, e ela lembra da sua mãe contando que, sempre que seu pai sorria, a bebê Maia tinha uma crise de riso automático. Era assim que a Maia de agora se sentia; com vontade de sorrir. Esse fato a fez pensar numa coisa, e teve que perguntar:
-Por que você veio falar comigo primeiro?
Jason franziu a testa.
-Para ser sincero eu não sei... só senti... que deveria chegar aqui primeiro... não sei direito o porquê - ele olhou para o seu prato, pensativo – Acho que senti que você se sentiria mais tranquila se eu chegasse agora. Sei que não faz sentido mas...
-Faz sim – interrompeu a garota – Faz muito sentido
Ele olhou para ela ainda confuso. Maia respirou fundo; falar isso em voz alta seria muito constrangedor, mas achava que precisava falar isso para ele.
-Desde pequena me sinto mais tranquila e segura perto de você - respondeu – Nunca entendi muito bem, mas sempre que você estava comigo eu me sentia mais... relaxada – e olhou para os olhos azuis dele – E é o que eu estou sentindo agora
Jason não soube o que falar. Ficou abrindo e fechando a boca, como se estivesse tentando falar mas não conseguisse. Por fim deu um sorriso emocionado e se voltou para o seu prato, pegando uma garfada da comida, e Maia fez o mesmo, tanto para se concentrar em alguma coisa tanto para comer mesmo; a aparição surpresa de Jason tinha feito a garota se esquecer completamente da fome. Maia queria conversar com ele, mas não conseguia pensar em nada para falar; então lembrou da “técnica” que sempre fazia quando acontecia algo parecido: fale a primeira coisa que vier na sua cabeça. Olhou para frente e, antes que mudasse de ideia, disse:
-Essa coisa de estar no passado está me deixando louca, nunca sei o que devo dizer, com medo de interferir no futuro e não sei como falar com vocês, porque mesmo que sejam as mesmas pessoas que conheço a sei lá quanto tempo, sinto que estou tentando conversar com um estranho – tinha falado tudo isso em um fôlego só e, quando terminou, respirou bem fundo e continuou, antes que perdesse a coragem – Eu sei que é estranho, mas não dá para explicar direito, só sinto que estou com pessoas estranhas em um lugar estranho, como se estivesse em uma festa sem conhecer ninguém e num lugar que nunca tinha visto antes
Novamente ela respirou fundo, dessa vez sem falar mais nada depois. Jason não disse nada de imediato; ficou olhando para ela, com o seu cérebro tentando formar algum comentário suficientemente adequado.
-Não é tão estranho quanto pensa – disse por fim, se recostando na cadeira – Na verdade é bastante compreensível. Tenho que admitir que, se não estivesse desse jeito, aí sim eu acharia estranho.
-Sério? - perguntou ela, meio chocada.
-Sério - confirmou Jason, sorrindo – Tudo isso é muita loucura para uma cabeça só. Faz sentido estar assim e, se me permite acrescentar, teria feito o mesmo que você fez
-O que eu fiz? - perguntou Maia, confusa
-Ficar sozinha – respondeu – ou pelo menos tentar ficar. Ajuda a organizar os pensamentos não é?
-É - concordou a garota, agora sorrindo também
Esse comentário fez com que Maia entendesse uma coisa. Como não tinha ligado isso antes? Jason olhou para ela, intrigado.
-Você parece ter entendido algo – comentou, visivelmente curioso
-Antes eu não sabia direito por que conversar com você era tão estranho. Não tinha entendido direito isso, por isso achava que era loucura. Mas agora faz sentido – disse, com os olhos iluminados – A gente acaba esquecendo que vocês são nossos pais por terem a nossa idade, então conversar fica muito mais estranho
Jason inclinou um pouco a cabeça.
-É, faz sentido – falou – Para mim então, que tive a notícia que tinha uma filha... é meio assustador – relevou, e Maia riu
-Por que seria tão assustador assim?
-Eu não consigo me imaginar cuidado da minha própria casa, imagina de uma criança - falou, meio desesperado – Eu provavelmente quase te matei algumas vezes, mas saiba que foi sem querer
Maia deu uma risada, e quase engasgou com a comida.
-Uma vez, quando estava tentando me ensinar a controlar os ventos, quase me deixou cair de um prédio de vinte andares – contou, rindo
Jason colocou a mão no rosto, como quem diz: pai amado, eu sou um fracasso.
-E Piper? - perguntou, hesitante – Ela quase me matou quando soube não é?
-Quem disse que ela sabe? Você me fez prometer que não contaria para ela, e isso foi quando eu tinha dez anos. Até hoje ela não faz a mínima ideia do que aconteceu
Jason começou a rir, provavelmente de nervoso, e Maia teve uma crise de riso. Quando conseguiu recuperar o fôlego, começou a contar mais histórias que vinham na sua cabeça, e a cada vez que contava Jason ria ainda mais.
-Teve uma vez que eu fui te dar um susto e você queimou o disjuntor de casa – contou, e ele se encolheu na cadeira com a mão no rosto – A gente ficou sem energia por umas boas horas
-Deuses – murmurou – Parece que eu fico mais desastrado mais velho, credo
-E uma vez você desmaiou quando eu, já digo que foi sem querer – acrescentou rapidamente – joguei uma concha enorme na sua cabeça
-Isso não é novidade – disse ele, rindo – Eu desmaio o tempo todo, nunca vi. Não sei se já contei, mas eu já desmaiei no meio do voo.
Maia arregalou os olhos.
-Nunca tinha me contado
-Acho que é porque eu sinto um pouco de vergonha – falou, depois abriu um sorriso - Só um pouco, claro
Eles continuaram conversando por um bom tempo, terminando de comer e saindo do restaurante depois de pagar. Maia não sabia para onde estava indo, estava só seguindo Jason enquanto contava mais algumas coisas. Ele parou de andar e olhou para ela, visivelmente de bom humor, e disse:
-Vamos conversar mais depois
-Por que depois? - perguntou Maia
Jason apontou com a cabeça algo mais a frente, e só agora a garota viu que Piper McLean estava encostada em uma parede mais ao canto, acenando para eles. Ela se lembrou de Jason ter mencionado que Piper iria conversar depois com ela, mas agora que estava se divertindo tanto com Jason não queria se afastar dele.
-Nos vemos depois, tá bom? - perguntou ele com um sorriso carinhoso
Maia balançou com a cabeça afirmativamente, se sentindo como uma garota tímida quando o pai a leva para falar com outras crianças em uma festa. Antes que mudasse de ideia, deu um grande abraço em Jason, que por alguns segundos ficou sem reação, mas retribuiu o gesto. Sentiu que estava começando a ter vontade de chorar, mas segurou essa sensação e, dando um último adeus para Jason, foi em direção a Piper. Quando chegou até ela, Piper apontou o namorado com a cabeça.
-Parece que se deram bem – disse, com um sorriso
-Ah, é - respondeu Maia meio sem jeito
Piper tirou as costas da parede e indicou a rua para ela.
-Vamos dar uma volta – falou, e as duas começaram a andar
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Herdeiros
FanfictionNessa história, traremos de volta o despertar de Gaia, mas desta vez com outras pessoas narrando. Agora, os filhos dos nossos Heróis do Olimpo foram jogados na época em que seus pais derrotaram a Mãe Terra, e agora terão de lutar para conseguir volt...