14 - MAIA

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Piper foi a conduzindo pela cidade, olhando para os lados a procura do lugar que estavam indo. Seja lá qual fosse ele. Maia andava ao seu lado, sem saber direito o que falar, então preferiu ficar olhando para a paisagem, só para dizer que estava fazendo alguma coisa. O sol agora estava menos forte, o que ela agradecia profundamente, e uma leve brisa passava pelas ruas, deixando o lugar muito mais refrescante. Tinha que admitir, Olímpia era linda, com suas lojas delicadas e os vários pontos turísticos pela cidade, dando um ar antigo mas refinado. Elas agora estavam mais para o centro de Olímpia, onde as pessoas iam de loja em loja com várias sacolas, a maioria lotadas. Por um segundo ela pensou que Piper a estava levando para fazer compras, e soltou um gemido baixo; nunca foi esse tipo de garota que amava ir ao shopping, ficar olhando as vitrines de roupas e não comprar nada no final. Piper ouviu seu gemido e deu um sorriso tranquilizador.
- Não se preocupe, também odeio fazer compras – e indicou uma sorveteira logo ao lado – Como você e Jason já almoçaram pensei que seria uma boa um sorvete
Maia abriu um pequeno sorriso em concordância, e as duas foram até o local indicado. Lá dentro não estava cheio, então não demoraram para pegar seus sorvetes, se sentando em um banco próximo, embaixo de da sombra de uma árvore. Por alguns segundos, a garota apenas apreciou o seu sorvete, sem pensar no que gostaria de falar com Piper ou qualquer outra coisa, gostando imensamente da sombra fresca que a cobria. Olhou para o seu lado e viu uma parte da vela do Argo II aparecendo, se mexendo levemente conforme o vento soprava.
- A quanto tempo vocês estão navegando? - perguntou, sem pensar muito
Piper olhou para a mesma direção que ela, e Maia notou que seu rosto tomou uma expressão de cansaço.
- Vários meses – respondeu, sem tirar os olhos do barco
- Não sente falta de casa?
Não sabia porque estava perguntando essas coisas; talvez porque, sempre que tinha perguntado antes, sua mãe dizia que tinha sentido falta, mas nada muito grande, e a garota sempre sentiu que ela estava mentindo, talvez para não fazer a filha ficar mal por ela. Mas agora ela estava junto com a mãe, na época exata da viajem, e sentia que teria, pela primeira vez, a resposta verdadeira e sincera. Piper deu um longo suspiro e olhou nos olhos de Maia, olhos idênticos se encarando.
- Tento não sentir – respondeu, e a garota viu que tinha sido sincera – Tento não pensar muito sobre isso, mas sempre que algo da errado, penso em meu pai e que... - ela parou e respirou fundo – e que não me despedi direito dele
Maia entendia. Já esteve daquela forma milhares de vezes, sempre que ia para alguma missão. Sempre parecia que deveria ter feito algo a mais antes de partir, que deveria ter tentando ficar mais tempo com eles. E, só agora a ficha tinha caído, seus pais eram mais novos que ela; eles tinham quinze, dezesseis anos nessa viagem. A sensação de ser mais velha do que seus pais era muito estranha, mas teria que aprender a lidar com isso para poder cumprir essa missão corretamente. Tudo que Piper estava sentindo agora era exatamente com ela própria estava, e isso, com certeza, ajudaria a eles se aproximarem uns dos outros.
- Eu entendo – disse ela, depois de alguns segundos de silêncio - Pode acreditar, eu entendo
A frase saiu mais cheia de emoção do que esperava, e ficou um tanto surpresa quando Piper sorriu para ela, como se só aquilo já tivesse sido consolo suficiente. Não aguentou e sorriu de volta para ela, se sentindo muito mais leve do que a minutos atrás, e voltou a tomar o seu sorvete.
- Então... talvez seja um pouco íntimo demais perguntar isso agora - começou Piper, meio receosa – Mas não pude deixar de notar... você e aquele menino loiro, filho do Percy e da Annabeth... são próximos?
Maia sentiu seu rosto esquentar, mas apenas deu de ombros, tentando parecer descontraída.
- Somos amigos a muito tempo. Desde uns sete, oito anos – respondeu, olhando para qualquer direção menos para a mãe
- E vocês se dão bem? - perguntou ela
A coisa ruim da sua mãe ser filha de Afrodite é isso: quando tem algo sobre sentimentos envolvido, não tinha como esconder nada. Maia pensou em uma resposta que não a dedurasse totalmente.
- Sim – falou por fim - Óbvio, temos discussões - acrescentou – mas no geral nos damos bem
Arriscou olhar para Piper, e viu que ela tinha uma expressão divertida no rosto, como se estivesse achando engraçado a tentativa da garota de esconder o que sentia. Isso fez Maia ficar irritada, e disparou:
- Por que está com essa cara? Disse algo tão engraçado assim?
- Na verdade, foi o fato de você não falar algumas coisas que foi engraçado - explicou ela, com um sorriso no rosto - Não tem problema admitir o que sente
- Não tenho problema com isso – murmurou a garota
- Não? - perguntou ela, parecendo confusa - Então porque não admite que gosta dele?
Maia não respondeu. Mas percebeu que era isso que Piper queria, que ela não respondesse, então perguntou, em tom irritado:
- Não acha que pode estar interpretando errado as coisas?
Ela deu de ombros.
- Talvez eu esteja mesmo errada – falou – mas sinceramente, acho bem improvável.
- Ah é? - falou Maia, sarcástica
- É - respondeu Piper, começando a ficar sem paciência - Só o fato de você ficar tão irritadinha com o assunto mostra que tem algo mais nessa “amizade” - e fez os sinais de aspas com os dedos
A garota queria responder, mas no fundo sabia que ela estava certa, então ficou calada. Piper pareceu entender que tinha ganhado a discussão, e recomeçou a tomar o seu sorvete, olhando descontraída para as outras pessoas. Não sabia muito bem porque tinha ficado tão irritada; mesmo sua mãe sendo filha de Afrodite, Maia nunca foi a melhor de falar sobre sentimentos e essas coisas. Até lidava bem com eles, mas falar sobre o que sentia era algo mais... complicado. Na verdade, ela sabia sim o motivo de não lidar tão bem com esse assunto, e achava esse motivo tão bobo e... sem sentido, que não gostava de admiti-lo. Mas já tinha contado para a sua mãe, um ano antes, sobre isso, e como ela está aqui agora, visivelmente tentando ajudá-la... respirou fundo e disse, em um fôlego só:
- Não quero me iludir e acabar me quebrando. Não quero ficar vulnerável.
Na hora sentiu que estava falando besteira, mas quando olhou para Piper, viu que ela a olhava com um olhar compadecido.
- Te entendo – disse – Te entendo até demais. Mas, a cada dia, estou tentando... viver mais – ela olhou para as velas do Argo II a distância - Ainda mais agora, que eu finalmente encontrei pessoas que realmente me entendiam... e, em poucos dias, o mundo pode acabar e não vou poder mais ver elas. Estou tentando sentir tudo. Deixar as emoções virem, sem tentar barrar elas ou controlá-las
Maia franziu ligeiramente a testa; parecia tão fácil falando, tão natural... então por que, para ela, era tão difícil?
- Não quer dizer que é fácil - acrescentou ela, vendo a expressão da garota – Estou me acostumando aos poucos, e bem lentamente. Não exige de você rapidez
Outra coisa difícil. Mas, obviamente, ser difícil não significa ser impossível.
- Para você ter noção, eu já estou bem melhor nisso – comentou Maia, com um pequeno sorriso
- Ótimo - falou Piper, olhando agora diretamente para ela – Cada dia a gente melhora um pouco. Mas cara, como é difícil - suspirou ela, se recostando no banco
- Nem me fale – concordou, olhando para as folhas da árvore logo acima
Antes que Piper pudesse comentar alguma outra coisa, Jason pousou na frente delas, fazendo o cabelo das duas se bagunçarem com o vento.
- Vamos até o barco de vocês - disse ele, como se a sua chegada tivesse sido super normal – Iremos conversar sobre como vamos organizar esse tanto de gente até Atenas
Piper levantou, ajeitando o cabelo.
- Todos já estão lá? - perguntou
- Percy foi chamar Hazel e Frank – informou Jason – Leo foi junto com Sam logo até lá. E Annabeth parece particularmente ansiosa com essa conversa
Maia deu uma risada, se levantando também.
- Pelo jeito ela não mudou muito – comentou, se espreguiçando - Bem, não sei como vai caber tanta gente no nosso barco, mas vamos dar um jeito – e olhou para o Argo II – Vai ser mais rápido se formos voando, então você poderia levar Piper – acrescentou, se voltando para Jason
- Espera, você sabe voar? - perguntou Piper, chocada
- Sei – disse, e indicou seu pai com a cabeça - Ele me ensinou
Os dois trocaram um olhar, se lembrando da conversa que tiveram mais cedo, e Maia teve que se segurar para não rir. Piper olhou desconfiada para os dois, mas antes que pudesse falar algo Jason a puxou para perto e decolou. Maia foi logo atrás, amando a sensação do vento batendo em seu rosto. Chegaram em poucos minutos no barco, e quando pousaram, ela viu Leo e Sam na proa, esperando os outros.
- E aí - cumprimentou Sam, sorrindo
Mesmo a distância Maia via o quanto estava sujo; suas roupas estavam cheias de graxa, seus cabelos oleosos por conta do óleo e suas mãos cobertas de calos e arranhões.
- Nunca te vi tão lindo – debochou ela
Sam passou as mãos pelos cabelos, com uma cara convencida.
- Muito obrigado – agradeceu, e apontou para Leo – Mas ele está bem pior
E isso era quase impressionante. Além de tudo que Sam tinha nas roupas, nas de Leo havia ainda partes chamuscadas, e algumas completamente queimadas.
- Isso são as marcas do trabalho – respondeu Leo – Se eu estou pior, significa que trabalhei mais – e chegou mais perto dela, falando em tom suficiente para todo mundo ouvir – O que é verdade
Sam fez uma cara de fingida indignação em seu rosto.
- Não de ouvidos para ele – falou, em tom de falsa irritação - Só está falando isso porque sabe que eu trabalhei muito melhor
- Deuses, vocês são idênticos - murmurou Jason, olhando assombrado para os dois
- Como se a gente precisasse de outro Leo – acrescentou Piper
Leo deu língua para ela em resposta. Logo eles ouviram passos indo até onde estavam, e Maia viu Annabeth, Call e Bella irem até eles. Dos três, Annabeth é quem parecia em um melhor estado; Bella tinha prendido o cabelo em um coque alto, e suas roupas estavam cheias de fuligem, mas parecia contente, ao contrário de Call, que, além de sujo até o último fio de cabelo, tinha uma cara irritada no rosto. Maia foi até ele, olhando-o de cima a baixo.
- Parece que foi divertido lá dentro – comentou, rindo
Call bufou.
- Não sabia o que fazer com aquelas peças, era cada coisa que eu tinha que decorar...
- Mas ele foi ótimo - elogiou a irmã - Só está reclamando porque não gosta muito
Ele murmurou mais alguma coisa que ninguém conseguiu entender. Uma gota de óleo começou a escorrer na sua bochecha e, sem pensar, Maia colocou o dedo no local, limpando. Como se tivesse levado um choque, Call parou de murmurar e ficou imóvel, olhando para ela com uma expressão petrificada no rosto. Os olhos dos dois se encontraram, e a garota conseguiu ver o seu reflexo nos olhos verdes dele. Sentindo seu rosto começar a corar, ela recuou um passo e olhou para o seu dedo agora sujo de olho.
Sinta tudo, não faça barreiras. Pelo canto do olho viu Bella com um sorriso contido no rosto, e, ao seu lado, Piper também tinha a mesma expressão. Deu um pequeno sorriso para as duas, e voltou sua atenção para os outros, tentando não olhar para Call. Nem tinha visto que os outros tinham chegado, e quando Fai viu que ela o notou, lançou uma pergunta silenciosa para ela: você está bem?
Ela deu um sorriso como resposta, e o garoto pareceu entender, concordando com a cabeça.
- Como todos já chegaram, podemos começar? - perguntou Annabeth
- Tá ansiosa é? - perguntou Leo
Ela deu um olhar fulminante para ele, e logo Hazel disse:
- Então, alguém tem alguma ideia de como vamos trabalhar juntos?

hello people! Sei q o capítulo terminou meio: MAS E AGORA, O Q ACONTECE?!?!? mas eu não vou conseguir finalizar ela ;-; eu tô escrevendo o meu próprio livro, então quero focar nele... mas muito muito obrigada por ter acompanhado até aqui. Eu amei criar todos os personagens e me apeguei a cada um. De novo, obrigada :)

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⏰ Última atualização: Jul 23, 2021 ⏰

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