10 - SAM

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Logo que entrou na passagem Sam já sentiu vontade de ir embora. Ficou tentado a falar ops, porta errada e sair correndo o mais rápido possível. O lugar tinha o tamanho daqueles gramados que se praticam lançamentos de dardos, mas era quase impossível ver toda a sua extensão por conta dos muitos muros que Hazel tinha formado. Eles se cruzavam e se completavam, formando um pequeno labirinto cheio de caos. Sam conseguiu ver Hazel e Frank de um lado dos muros e Leo e Percy do outro, jogando explosivos para o lado “inimigo”, que sempre iam alto demais e não causavam nenhum dano. Ainda dava para sentir cheiro de pipoca amanteigada, o que não era muito apropriado para um cenário de luta. Ao redor deles Nice rondava o jogo em cima de sua biga, enquanto suas NIcetes vagavam pelo labirinto de Hazel.
- Vamos nos dividir – sugeriu Maia – Eu e Fai vamos para o lado de Percy e Leo, enquanto vocês vão para perto de Hazel e Frank
Sam concordou. Maia tinha deixado Fai, ele e Bella longe de seus pais, o que com certeza foi inteligente. Fai concordou determinado com a cabeça e foi em direção ao labirinto, com Maia logo atrás. Bella girou Contracorrente na mão e se virou para Sam.
- Pronto?
O garoto pegou sua espada, tentando parecer confiante, e deu o maior sorriso que conseguiu.
- Estou sempre pronto muchacha - e correu até o labirinto
Nem deu tempo dele pensar: o que será que eu faço agora? Quando ouviu um grito mais adiante e viu Hazel cambaleando, com uma Nicete logo atrás. Pelo jeito tinha sido pega de surpresa, e agora tentava se defender enquanto a serva de Nice vinha em sua direção. Sam e Bella trocaram um olhar de concordância, e o garoto foi até Hazel, enquanto Bella ia até Frank. Ele já estava se sentindo ótimo pela possibilidade de defender Hazel quando Percy apareceu do nada na frente dela, começando a batalhar com a Nicete. Droga, o cara tinha que roubar a cena sempre? Agora Sam não sabia se avançava ou se ia até Bella, por isso ficou parado no lugar, olhando o desenrolar da luta Percy versus Nicete. Infelizmente, parecia que a Nicete estava dando a melhor. Ela começou a cercar o seu adversário, obrigando-o a recuar, enquanto Percy tentava se defender. Mais à frente seu pai estava parado na direção da biga de Nice; pelo jeito ele tinha feito alguma coisa com a deusa, que agora vinha com todo o ódio para cima dele. Por que ele simplesmente não saia de lá? Foi quando Sam viu que, preso no chão, estava um dispositivo de bronze, que o garoto sabia que deveria ser acionado pela pressão hidráulica. Quando acionado, faria a água ganhar um impulso para cima...
Sam olhou para Percy, desesperado, mas o cara estava ocupado demais tentando não morrer. Hazel estava sentada no chão ali perto, e o garoto se sentiu mal por ter esquecido dela. Chegou mais perto e se sentou ao seu lado.
- Você está bem? - perguntou
Hazel ia responder, quando olhou melhor para ele e arregalou os olhos. Olhou para Leo a sua frente, depois novamente para Sam, e de novo para Leo.
- Mas... Leo... - gaguejou, apontando para onde o amigo estava
- Eu sei, é confuso – disse Sam – mas eu não sou o Leo. Meu nome é Sam
Isso pareceu fazer Hazel ficar mais assustada.
- Sammy...
- Não - se apressou a dizer Sam - Não é Sammy, é Sam. S – A - M – soletrou para ela, o que pareceu fazer Hazel se acalmar mais
O garoto olhou para frente e viu, desesperado, a biga de Nice continuar vindo com velocidade até o seu pai, enquanto Percy ainda lutava com a Nicete. Tinha que ajudar ele, mas mesmo se fosse o mais rápido que pudesse a carruagem da deusa atropelaria seu pai primeiro. Tinha que fazer alguma coisa...
Ele olhou para mãos, depois para frente de novo. Nunca tinha feito nada tão potente, mas tinha que tentar. Se levantou, afim de ficar de frente para as costas da Nicete, e fez a mesma coisa que tinha feito mais cedo; se concentrou no calor a sua volta, e logo suas mãos pegaram fogo. Olhou para elas, determinado, e ordenou em voz alta:
- Mais. Preciso de mais
Logo seus braços pegaram fogo, e Sam sentia que ia desmaiar. Antes que perdesse mais força, se concentrou e, na mão direita, as chamas ganharam a forma de uma flecha, e, na esquerda, ganharam a forma de um arco. Ficou em posição de disparo e se esforçou para não cair no chão. Se lembrou das dicas que Fai tinha dado para ele: Respire, mire e atire. Respirar não era problema. Apontou a flecha para a nuca da Nicete, onde ele imaginava que estariam a maioria dos fios principais. Respirou mais uma vez e, usando sua última molécula de força, atirou.
A flecha foi exatamente no meio da nuca da Nicete, que começou a tremer e derreter feito uma louca, enquanto Sam caia de costas no chão, ofegante. Sua visão começou a ficar preta, mas ele piscou os olhos com força. Não ia desmaiar, não podia desmaiar. Viu pelo canto do olho Percy o observar, chocado, tendo a mesma reação que Hazel ao vê-lo: começou a gaguejar, apontando para nada em específico. Sam queria gritar com ele para parar de ficar olhando e ir logo ativar a armadilha, mas não tinha força para isso. E mesmo assim, Percy estava em estado de choque; não ia sair dali por algum tempo, o que era bastante compreensível. Sam xingou baixinho. Será que ele tinha que fazer tudo por ali? Juntou forças e gritou um nome, um nome que ele esperava que reagisse da maneira certa.
- Bella!
O grito saiu bem alto, meio agudo demais, mas alto o suficiente para a garota o ouvir. Ela olhou para ele, primeiramente preocupada (o que o deixou minimamente melhor), depois com ar de quem tinha entendido o recado. Saiu correndo tão rápido que ele, que já estava vendo tudo meio embaçado, viu ela só como um borrão. Quando ela entrou mais em foco, tinha parado do seu lado, olhando para a biga de Nice. Ela chegou mais perto e murmurou:
- É melhor você tapar os ouvidos
Sam esperava algo mais dramático e romântico, mas fez o que ela pediu; na hora a garota abriu a boca e deu um berro, e ele agradeceu por ela ter avisado antes. Na hora um jato de água apareceu bem onde a armadilha estava, fazendo a biga de Nice voar, com cavalos e tudo. Sam olhou para a amiga, que estava tão ofegante quanto ele. Se esforçou para levantar, e viu que alguém estendia a mão para ajudá-lo. Quando olhou para cima viu Hazel lhe estendendo o braço, ainda parecendo bastante confusa.
- Belo tiro – disse, um pouco contida
- Obrigado – respondeu Sam, sem jeito
Ela o ajudou a levantar, depois se virou para Bella para lhe dar apoio também. A garota se levantou e olhou para a Nicete que Sam tinha enfrentado e disse:
- Precisaria de bastante força para fazer isso e não desmaiar na hora. Você foi incrível - e se voltou para ele, com um sorriso no rosto – Sabe, você é muito mais forte do que aparenta
Sam não sabia o que falar. Sentia que estava nas nuvens, e não queria perder essa sensação. Começou a sentir o rosto ficar quente e falou, sem jeito:
- Ah, é... bem, hum... aquele jato que você provocou também foi incrível - falou, louco para mudar de assunto
Ela deu de ombros.
- Era só água. Aquela flecha de fogo foi incrível
Ele deu de ombros.
- Era só fogo
Bella riu, e Sam deu um sorriso bobo para ela. Fazer ela rir sempre o deixava feliz, como se a felicidade dela fosse a dele também. A garota parou de rir e, Sam esperava que não tivesse sido uma ilusão, deu um sorriso bobo para ele também, e eles ficaram por alguns segundos simplesmente se olhando. Ele podia ter ficado ali por muito tempo, mas Bella pigarreou e olhou para o outro lado, fazendo Sam olhar para o mesmo lugar que ela.
Maia, Fai e Frank estavam perto de Nice, que tinha sido presa dentro de uma rede. Percy olhava, ainda mais chocado, para Bella, que, quando percebeu o olhar do pai, desviou seus olhos para o chão, mexendo em Contracorrente nervosamente. Hazel ia mancando até onde Frank estava, e Leo também tinha um olhar chocado no rosto direcionado para o filho, que tentou, sem muito sucesso, não olhar naquela direção. Eles acabaram trocando um olhar, que dizia: ok, eu enlouqueci de vez
Para evitar uma possível conversa muito estranha, Sam foi até Maia e Fai, e Bella foi atrás, visivelmente feliz por ter o que fazer e desviar à atenção do pai, pelo menos por agora. Ela chegou até os amigos e perguntou:
- Ela disse alguma coisa? - e indicou Nice com a cabeça
Maia e Fai trocaram um olhar, mas quem respondeu foi Frank. Era bizarro o quão parecido ele era com Fai; o jeito de sentar, de falar, tudo era muito parecido.
- Hazel veio me perguntar a mesma coisa - começou ele – Nice disse que teríamos que pegar os batimentos do deus acorrentado em Esparta, teria uma maldição em Delos, que precisamos ir atrás da cura do médico e ir atrás do veneno em Pilos - ele olhou para cada um, parando um segundo em Fai - Vocês sabem o que isso quer dizer?
Sam, Maia e Fai olharam para Bella, esperando a resposta. Ela ficou calada por alguns segundos, depois disse:
- Não tenho tanta certeza. Sinto que já ouvi algo parecido, mas não lembro os detalhes
Ela trocou um olhar com Maia, e Sam conseguiu pegar o recado. Ela sabia o que aquelas coisas queriam dizer e tinha preferido não falar, pelo menos não na frente dos seus pais. Maia entendeu, ficando com a expressão neutra.
- Bem, pelo menos nós sabemos que temos que ir a Esparta e a Delos - falou Fai – E essa cura do médico... acho que vamos encontrar a resposta em Delos
- Tem mais alguma coisa – falou Hazel, olhando para Frank desconfiada – Ela disse mais alguma coisa. O que era?
Frank não respondeu de imediato, e para ajudar ele, Fai respondeu:
- Ela disse que... - ele engoliu em seco – que um de vocês teria que se sacrificar para conseguirem vencer
Hazel não disse nada. Ficou olhando para ele, parecendo em dúvida se acreditava ou não. Ela trocou um olhar com Frank, e ele concordou com a cabeça.
- Tudo bem – disse Percy, que Sam tinha esquecido que estava ali - nós agradecemos muito por terem nos ajudado e tal, mas... - ele olhou para cada um deles, parando mais tempo em Bella – quem são vocês?
- Sinceramente, acho que você já sabe – respondeu Sam
Percy olhou para ele com aqueles olhos verdes. Era difícil tentar entender o que ele pensava, mas pelo visto tinha entendido o que o garoto quis dizer.
- Só queria confirmação - falou, dando de ombros – Quando é só na cabeça parece ser menos possível que seja verdade, então só gostaria que alguém falasse em voz alta a maluquice
Sam não podia discordar. Bem nesse momento de tensão, NIce tentou falar alguma coisa, e pela primeira vez o garoto viu que ela tinha uma meia na boca, o que a impedia de falar. Bella olhou sem entender.
- Por que tem uma meia na boca dela? - perguntou
- Ela queria amaldiçoar a gente, e como eu não sabia se essa rede iria impedir ou não o feitiço, coloquei uma meia minha na boca dela – respondeu Frank, dando de ombros
Percy vez uma careta.
- Cara, isso é nojento
NIce começou a tentar tirar a meia da boca. Frank olhou para ela com desgosto.
- Leo, você tem fita adesiva? - perguntou
- Nunca saio de casa sem – respondeu o garoto, e começou a mexer no cinto igual ao de Sam
Logo ele tirou um rolo de fita adesiva de lá, e entregou para Frank, que começou a enrolar ela na cabeça da deusa, fazendo uma mordaça improvisada.
- Zhang, você tem estilo – falou Leo quando o amigo terminou o trabalho
- Valeu – disse Frank, e se voltou para os garotos – Bem, vocês não responderam a pergunta... quem são vocês?
Fai, Sam e Bella olharam para Maia e disseram, juntos:
- Você conta
Maia não protestou. Começou a contar a história deles, desde antes de Hera ter os jogado em Épiro. Quando contou que Sam e Bella tinham construído um barco, Leo se virou para o garoto e sorriu, orgulhoso.
- Construiu um barco em menos de dois dias? É realmente incrível
Sam sentiu o rosto ficar quente, e apenas deu de ombros.
- Teria ficado melhor se tivesse mais materiais – e se virou para Bella, acrescentando – e também tive uma ótima ajuda
- Eu não fiz muita coisa – falou rapidamente a garota, olhando para Leo – Sam fez a parte mais complicada
O garoto olhou para ela, dizendo: cala a boca! Bella apenas deu uma picadela, sorrindo, e Sam sentiu o rosto ficar mais quente, por isso acrescentou:
- Bem, não foi muita coisa...
- Ah foi sim – interrompeu Leo – Quero ouvir depois todo o processo de construção - e sorriu para ele – Pelo jeito você é bem melhor do que eu
Sam não soube o que falar. Queria dar um grande abraço nele, mas seria muito estranho, então preferiu apenas dar um grande sorriso e respondeu:
- Eu tive um bom professor
Foi a vez de Leo de ficar sem palavras. Piscou com força, como se estivesse tentando não chorar, e o seu sorriso aumentou.
Quando viu seu pai na primeira vez, achava que não conseguiria conversar com ele direito, que teria um clima muito estranho entre eles, mas agora percebia que era o contrário. O fato dos dois terem a mesma idade só as fazia ficar mais próximos, e Sam percebeu que conversar com Leo não seria difícil; ainda era o seu pai, e conseguia sentir que ele queria, tanto quanto Sam, ficar perto dele, de tentar se aproximar, de conversar. O garoto não via a hora de ficar um tempo sozinho com Leo, e se sentiu bobo por ter tentado evitar ele durante toda essa aventura. Um sorriso se formou pelo seu rosto, e, pela primeira vez, sentiu felicidade em estar naquela missão.

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