5 - CALL

25 2 2
                                    

MAS, ANTES DE conseguir atacar o gigante, tinha um pequeno problema para resolver: os basiliscos.
Graças aos deuses (ou melhor, ao seu pai) ele sabia como lutar com eles; tinha tido treinamento excluso sobre isso, e destruiu os basiliscos quase que de olhos fechados. Olhou para cima esperando uma nova enxurrada de cobras, mas Polibotes estava muito ocupado desviando dos ataques de Lavínia. Nos últimos anos, suas transformações estavam cada vez mais fluídas, conseguindo ir de uma formiga a uma girafa em apenas segundos com agilidade e facilidade.
Call correu em direção ao gigante e começou a trabalhar: deu o maior salto que podia e fincou a faca na coxa de Polibotes, usando-a para conseguir ficar pendurado. O gigante gritou de agonia, levando a mão na direção do garoto, como alguém que tenta matar um mosquito depois que este pica a sua perna. Mas Lavínia foi mais rápida; se transformou em uma águia e deu um grande mergulho, enfiando o bico afiado na mão de Polibotes, tentando atrair a sua atenção.
Pelo jeito deu certo; o gigante virou seu olhar para ela e começou a tentar golpeá-la com a lança, como se fosse uma raquete enorme de matar inseto.
Call aproveitou o momento; puxou o seu canivete (sim, ele sempre andava com um canivete no bolso. O porquê disso? Nem ele sabia; tinha virado uma espécie de hábito, e agora isso iria salvar sua vida. Quem diria não é?) e enfiou-o também na perna de Polibotes, usando as duas armas como ferramentas de escalada. Cara, escalar um gigante era mais difícil do que parecia. Imagina subir uma montanha, mas sem ter apoio para os pés e que essa montanha não parava de mexer. Então, era assim que era escalar um gigante.
Não teria conseguido fazer isso se não tivesse Lavínia lá com ele; ela sempre impedia que Polibotes desse um tapa no garoto, voando ao redor do seu rosto ou dando bicadas em sua mão. Sempre que o gigante dava algum passo repentino ou se mexia demais, Call quase perdia o equilíbrio, arrastando a faca e o canivete na perna de Polibotes, que, no final, estava com vários cortes profundos naquela região.
Com muita dificuldade, ele conseguiu chegar até a sua cintura, e enfiou a faca o mais fundo que pode no abdómen do gigante, que deu um urro de dor, tentando dar um tapa no garoto. Call conseguiu desviar do ataque, aproveitando a oportunidade e saltando no braço de Polibotes, enfiando as duas armas nas laterais para dar o mínimo de apoio.
O gigante rapidamente direcionou a sua outra mão e tentou afastar o garoto, mas novamente Lavínia o salvou: em forma de águia, deu um grande mergulho e, em pleno ar, transformou-se em um cavalo e deu um forte coice no meio do rosto do gigante, pousando delicadamente no chão. Polibotes sacudiu a cabeça, confuso, e Call pode ver uma forma de ferradura no meio de seus olhos. Aproveitou o momento de confusão do gigante e correu pelo seu braço, o que também não era muito fácil; era como correr em uma rampa muito íngreme e mal pavimentada.
Chegou ofegando ao ombro do gigante, e antes de ele percebesse, enfiou a faca o mais fundo que pode. Polibotes deu um urro, e antes que Call fosse esmagado, colocou a arma fundo em seu pescoço e depois cortou a sua orelha, pulando na hora em que a lança do gigante atingia o lugar onde estava a poucos segundos antes, sentindo a arma passar raspando por sua cabeça.
Conseguiu dar um mortal em pleno ar e pousou de pé no chão, se virando para olhar o gigante. Quando viu o desastre que tinha feito, não conseguiu conter um sorriso: a perna de Polibotes tinha muitos cortes profundos, mas a sua cabeça estava muito pior; o lugar em seu ombro e em seu pescoço que Call tinha perfurado jorravam icor dourado, e onde sua orelha devia estar, uma cachoeira de sangue caía descontroladamente. Mas o garoto não pode admirar o seu feito por muito tempo.
Lavínia se transformou em um rinoceronte e atacou, mas Polibotes foi mais rápido; segurou o chifre do animal com as duas mãos e jogou-o do outro lado da sala, como se fosse um frisbee. Lavínia bateu de costas na parede com um barulho horrível, e várias rachaduras apareceram. A garota bateu no chão e voltou a sua forma normal, se encolhendo com as mãos na cabeça e gemendo. O gigante aproveitou o momento e avançou na sua direção. Mesmo mancando, chegaria até ela primeiro, e Call não podia deixar ela morrer.
- Ei! - gritou para Polibotes – Achei que você queria me matar? Você é tão covarde que não consegue me enfrentar pessoalmente?
O gigante parou e se virou para ele, com os olhos brilhando de raiva.
- Covarde? Acha que eu sou covarde? - ele deu uma risada que ecoou por todo o cômodo - Quem você pensa que é?
- O cara que vai acabar com você de uma forma fenomenal. Não estava na cara?
Bem, vamos olhar para o lado bom: Polibotes desistiu de atacar Lavínia. A parte ruim é que agora ele vinha com toda a sua raiva para cima dele. O gigante desceu a lança para atingi-lo, mas Call caiu de costas do chão daquele jeito que os caras dos filmes de ação fazem quando a porta está quase fechando. A arma passou raspando por sua bochecha e o garoto ficou debaixo do gigante, cortando a perna de Polibotes, que deu um protesto raivoso. Call saiu rapidamente de baixo dele, se preparando para mais um ataque. Mas ele ouviu um barulho e seu coração quase saiu do peito. Lavínia estava tentando se levantar, mas ainda estava muito fraca: se apoiava totalmente na parede, com os olhos um pouco abertos e gemendo alto demais. Polibotes também percebeu a movimentação, se dirigindo até a garota com um sorriso triunfante no rosto.
Dessa vez nenhuma provocação que Call fizesse iria adiantar. Cada passo que o gigante dava era equivalente a vinte do garoto, então ele nunca chegaria a tempo. Call olhou para a parede a sua frente, depois para Polibotes e depois para a parede novamente. Ele teve uma ideia. Era muita loucura. Ok, praticamente tudo o que ele fazia era loucura, mas isso era um pouquinho mais. Se desse errado, seria um errado terrível e provavelmente ele morreria. Mas se desse certo... bem, se desse certo seria uma realização e tanto, e aí a possibilidade de morrer era um pouquinho menor.
Respirou fundo e tomou distância da parede. Olhou para o lado e viu Polibotes se aproximando ainda mais de Lavínia. Não tinha tanto tempo. Respirou fundo mais uma vez e correu o mais rápido possível até a parede. Quando chegou perto o suficiente, usou-a como apoio e ganhou impulso, saltando em direção ao gigante no parkour mais arriscado de sua vida. 
Call se imaginou caindo de cara no chão, com as costelas esmagadas feito panquecas. Que jeito heroico de morrer, pensou. Mas pelo visto não ia morrer, pelo menos não agora. Sei lá como, ele tinha conseguido dar um grande impulso, atingindo a parte de trás do ombro do gigante. Call escalou rapidamente e, antes que Polibotes percebesse, cravou a faca o mais fundo possível em sua nuca. O gigante urrou, e um jato de icor dourado saiu do ferimento, sujando toda a calça do garoto, mas ele não se importou. Tinha coisas mais importantes para pensar.
Enquanto Polibotes se mexia feito um maluco, Call verificou a faca. Estava cravada bem firme. Então, com toda a força que conseguiu reunir, puxou a arma para si, mas não para tirá-la; estava tentando puxar o gigante para trás. Polibotes recuou um, dois, três passos cambaleantes. O garoto deu uma espiada em Lavínia, e não conseguiu conter um suspiro de alívio: ela tinha conseguido levantar, e parecia menos confusa. Sua pele estava branca feito papel, mas não se apoiava mais na parede para ficar em pé e agora seus olhos estavam bem abertos, que dirigiram um olhar de ódio para o gigante. Mas o garoto não conseguiu ficar aliviado por muito tempo. Ficou alguns segundos distraído, mas isso foi suficiente para Polibotes lhe dar um tapa com a mão, atirando Call de seus ombros, que começou a cair rapidamente em direção ao chão de pedra.
Sentiu que tinha sido atropelado por três ônibus escolares, sua cabeça girando e sua visão ficando turva, com pontinhos brilhantes dançando a sua frente. Não, não posso desmaiar agora, pensou. Sentiu que estava se aproximando do chão, mas não tinha força para tentar absorver a queda. Começou a se preparar para o impacto quando duas garras o seguraram, jogando-o para as costas de alguma coisa peluda. Ele conseguiu abrir um pouco os olhos e viu quem o estava carregando; um leão grande estava correndo com ele nas suas costas. Esse leão não estava lá antes não é? Aos poucos começou a processar o que tinha acontecido; pelo visto, Lavínia tinha conseguido se transformar a tempo de agarrá-lo, jogando-o nas suas costas e o salvando de quebrar todas as suas costelas. Call fez uma nota metal de, se saíssem dali, iria agradecer a garota por o ter salvado. 
Ela o colocou delicadamente na parede mais distante, e correu até Polibotes, se transformando no meio da corrida em um elefante e empurrando o gigante para a parede, formando uma rachadura ainda maior. Se tivesse outro impacto, ela desabaria, junto com todo o resto do cômodo.
Call fez esforço para levantar, e mais pontos dançaram na sua frente. O garoto fingiu não se importar e foi mancando até a pequena passagem, torcendo para que o astrolábio estivesse seguro. Quando chegou, soltou um suspiro de alívio; o instrumento estava intacto no mesmo lugar que tinha deixado. Olhou para trás e viu Polibotes e Lavínia lutando, com o gigante segurando as duas presas da frente do elefante enquanto este tentava empurra-lo novamente para a parede.
Por alguns minutos pareceu que a garota estava perdendo, mas Lavínia tinha tudo sobre controle. Deixou o gigante arrastá-la até onde queria e se transformou em uma formiga, e Polibotes deu uma arrancada para frente, dando tempo para ela se transformar novamente em elefante e, com uma força impressionante, jogou o gigante exatamente no meio da rachadura na parede. Logo em seguida ela desabou, o teto começou a cair e o chão começou a tremer.
- Lavínia! - gritou Call, pegando o astrolábio - Temos que sair daqui! Rápido!
A garota se transformou novamente em leão, desviando com agilidade das partes do teto que desabava. Chegou até a passagem e fez um gesto de cabeça para o garoto, como se falasse: Sobe! Call subiu nas suas costas e Lavínia disparou caminho a dentro, e antes que se afastassem demais, o garoto conseguiu ouvir o cômodo desabando e o urru de raiva de Polibotes.

Mano, eu levei um século pra escrever esse capítulo, então please coloquem nos comentários o q vcs acharam. Eu sei, ficou maior do q o normal, mas por favor leiam tudo pq demorou pra fazer
~ Mari 🌊💕

Herdeiros Onde histórias criam vida. Descubra agora