4 - CALL

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CALL ALCANÇOU o pégaso rapidamente, ficando ao seu lado.
- Vai me dizer para onde está me levando? - perguntou
O cavalo não disse nada. O garoto continuou achando-o nervoso, sempre ficava olhando para os lados como se estivesse procurando por algo.
- Tudo bem - resmungou Call - Não me conte então
Já estava acostumado a pégasos falarem com ele, mas normalmente eram mais receptivos. Foram se aproximando de uma das grandes ruínas que Call tinha visto antes, e o pégaso pousou no meio da construção. O garoto o seguiu.
Ele desceu do grifo, mas antes que ele pudesse ir embora disse:
- Nem pense em falar para seus amigos onde estamos. Se fizer isso, bem, posso não ser tá legal com você quanto fui da última vez
O animal bufou, provavelmente dizendo como se você tivesse sido legal da última vez, e voou para longe. Call esperava que o grifo não o desobedecesse; tinha a impressão de que não teria um caminho muito fácil pela frente. Ele olhou para a ruína que o pégaso tinha lhe trazido.
Era como qualquer outra; vários blocos de pedra dispostos em pilhas, alguns quebrados ou rachados, outros completamente inteiros. O chão também era de pedra, e a parede que ainda restava tinha um arco formando uma passagem, que descia em uma escada de pedra até o subsolo. Provavelmente era para lá que iria, o que não era um bom sinal; coisas ruins normalmente se escondem no subsolo. Ele ouviu um bater de asas acima e se virou para olhar.
Outro pégaso vinha em sua direção, e logo atrás vinha uma águia muito familiar. Quando pousaram, a ave se transformou, e de pé no seu lugar estava Lavínia. Ela olhou para ele como se falasse tem alguma ideia de onde estamos? Ele balançou negativamente a cabeça. Lavínia estudou o lugar, se detendo por um tempo na passagem que ia para baixo. Depois olhou para ele e disse:
- Não tem coisa boa lá embaixo
- É bem, isso eu já tinha sentido – respondeu Call – Mas tem alguma armadilha ou algo do gênero?
Lavínia balançou negativamente a cabeça.
- Sinto que essa escada leva para um outro cômodo, mas não consigo sentir nenhuma ameaça muito eminente
- O que quer dizer com “uma ameaça muito eminente”?
Ela franziu a testa, irritada.
- Não sei... com certeza lá embaixo não tem armadilhas como veneno ou algo parecido, porém... não sei, sinto que tem algo estranho, mas não consigo identificar com firmeza o que é
Call olhou para a passagem. Além do que Lavínia falara, sentia que tinha algo lá dentro que era importante... mas o pégaso ainda o incomodava. Ele continuava inquieto, e agora o outro tinha se juntado a ele, os dois batendo os cascos impacientes e nervosos.
Venham disse o que trouxe Lavínia, se dirigindo a escada de pedra
Os dois garotos se olharam.
- Se mantenha alerta – falou a garota – Eu vou na frente, para tentar detectar alguma coisa
Call concordou. Lavínia passou por ele e desceu as escadas, com o garoto logo atrás. Sua faca de bronze emitia uma luz dourada na passagem, e a spatha dourada da amiga aumentava a claridade. Os cavalos andavam na frente, ainda parecendo ansiosos. Depois de descerem vários níveis de escada, Call se viu diante de um cômodo do tamanho de uma quadra de basquete. As paredes eram de pedra, com o teto tão alto que o garoto não conseguia vê-lo. Os pégasos pararam a alguns centímetros na frente deles, e o que trouxera Call bateu um casco no chão, revelando um compartimento bem no meio do piso. Dentro dele, um pequeno astrolábio estava dentro, pousado delicadamente, e o garoto se perguntou como os cavalos conseguiram por ele lá dento, sendo que não tinham mãos. Lavínia ofegou.
- Esse astrolábio...
- Você conhece ele? - perguntou o garoto
- Você também conhece – respondeu a garota – Olha mais de perto
Call não queria se aproximar muito; ainda achava o comportamento dos pégasos suspeitos. Então estreitou os olhos e colocou o corpo um pouco para frente, tentando ver melhor. O instrumento parecia gasto, com algumas queimaduras do lado, e parado junto a ele tinha um pedaço de cristal. Tinha uma impressão de já ter visto ele, em uma oficina no acampamento...
- É aquele astrolábio que o Leo mostrou para gente? - perguntou Call
Lavínia concordou com a cabeça.
- Bem, se não for é muito parecido. Só não entendendo como ele veio parar aqui...
Os cavalos relincharam.
Hera o colocou aqui para vocês pegarem disse o que trouxe Call
Ah, foi assim que ele foi parar naquele compartimento, pensou o garoto. Bem, o astrolábio era igualzinho ao que tinha visto lá no bunker 9, e se ele realmente fizesse o que Leo tinha dito naquele dia, seria muito útil na viagem. Mas ainda assim, alguma coisa não estava certa. Não podia ser tão fácil assim. Call olhou para os cavalos. Achava que não ia adiantar de muita coisa, mas não custava perguntar.
- Tem alguma coisa errada não tem?
Os cavalos bateram os cascos. Lavínia olhou receosa para o astrolábio, depois para o seu redor. Então ela arregalou os olhos e se transformou num cavalo, relinchando:
Precisamos sair daqui
Ela parecia realmente nervosa.
- Por que você se transformou em um cavalo? - perguntou
Para poder falar com você sem ninguém ouvir - respondeu, como se fosse óbvio
- Ok... então, pode explicar melhor o que você me disse? - ele tentou não revelar a quem quer que estivesse ali o que estavam planejando
Tem alguém aqui, um gigante, tenho certeza respondeu, nervosa
- Tudo bem – disse Call, tentando parecer relaxado – Sabe por que... hum... só me disse isso agora?
Porque agora ele está mais perto - respondeu - bem perto
- Certo – disse Call, se virando para o astrolábio - Bem, ele vai nos ajudar na viajem então... vou pegá-lo
Ele se dirigiu ao compartimento, lançando um olhar a Lavínia que dizia fique alerta. Foi o mais lentamente possível até o instrumento, e quando esticou a mão para segurá-lo, uma lança passou rapidamente em sua direção, e se não tivesse tido um bom reflexo, a arma teria perfurado a sua mão. O garoto puxou sua faca, olhando na direção que veio o ataque, e Lavínia se transformou novamente em humana, puxando sua spatha.
Mais duas lanças vieram, atingindo o pescoço dos dois pégasos, que caíram no chão com um barulho horrível, totalmente imóveis. Uma sombra enorme surgiu atrás de onde os cavalos estavam, revelando um dos gigantes mais feio que Call já tinha visto.
Ele tinha dez metros no mínimo, com pernas escamosas iguais a de um dragão, usando uma armadura verde-água da cintura para cima. No peitoral estavam desenhadas fileiras de monstruosos rostos de bocas abertas. Seu rosto era humano, mas seus cabelos eram verdes e desgrenhados, e quando balançava a cabeça várias cobras caíam dos seus dreadlocks. Call ficou muito decepcionado ao ver que as cobras eram basiliscos; só mais trabalho pela frente, como sempre. Olhando para o gigante, achou que sua aparência era familiar; nunca tinha lutado com ele, mas já tinha ouvido histórias...
- Polibotes – disse, e o gigante sorriu, fazendo uma mini reverência
- Que bom ver que você me reconhece – falou – Isso só vai fazer sua morte ser mais maravilhosa
- Por que quer me matar? - perguntou Call - Você mal me conhece
- Ah realmente – respondeu Polibotes – mas conheço o seu pai
Call suspirou. Era sempre assim. Por que seu pai tinha que ter matado tantos monstros?
- Então você quer me matar para ter vingança, porque se eu morrer, meu pai vai ficar devastado, etc e tal – falou, cansado
- Isso mesmo – respondeu – Pedi para esses pégasos trazerem o filho de Percy Jackson que estivesse mais próximo, que foi você
- Como sabia que estávamos aqui? - perguntou Lavínia
- Eu vi Hera trazendo isso daí - falou Polibotes, indicando o astrolábio - Ela explicou a questão para os pégasos, e pensei que isso daria uma ótima armadilha. E aqui estamos!
- Então por que matou os pégasos se eles te ajudaram? - perguntou Call
- Ah, eles não me ajudaram totalmente. Trouxeram ela – respondeu, indicando Lavínia com a cabeça - Provavelmente acharam que poderia te ajudar, tendo um bom senso de direção no subterrâneo. E já que está aqui, seria um desperdício deixá-la viver
Polibotes avançou, mas Lavínia foi mais rápida; se transformou em um grande elefante, empurrando o gigante contra a parede, formando uma grande rachadura. Isso deu a Call uma ideia. Polibotes tinha sido pego de surpresa, e depois de vários tapas de tromba do elefante, ficou muito tonto, quase inconsciente. O garoto chamou Lavínia, que veio com cara de quem diz: Você me atrapalhou! Queria ter destroçado aquele panaca!
- Não temos muito tempo, ele vai acordar daqui a pouco – falou Call, abaixando a voz – Consegue ver alguma saída rápida daqui?
A garota se concentrou, e olhou para o canto direito da parede logo a frente.
- Tem uma pequena passagem logo ali – disse, apontando para o local que estivera observando - Dá pra nós dois passarmos de boa.
- Se esse lugar destruir, a passagem vai desabar junto?
Lavínia olhou sem entender para ele.
- Não... ela foi construída separadamente – e então ela pareceu entender o seu plano – Ah... isso é bem...
- ... arriscado – completou Call, sorrindo – Mas os melhores planos são assim. Pronta pra esmagar esse gigante?
Ela sorriu.
- Achei que não ia perguntar – e se transformou novamente em um elefante, justo quando Polibotes começava a levantar
Call correu até o astrolábio, o pegou e foi até a passagem. Ela era realmente pequena, e ficava bem escondida. Colocou o instrumento delicadamente no chão e se virou para o gigante, com a faca na mão.
- Você quer me matar não é? - perguntou, tentando parecer confiante – Espero que não se decepcione quando seu plano falhar
E correu o mais rápido possível até Polibotes.

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