Capítulo 01

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Manhã de segunda feira na cidade de Engenho Açu, no interior do estado do Paraná. Gabriela organizava a mesa para o café da manhã. Colocou torradas, pães, bolachas, o bule de café. Foi até a escada e gritou.
– Vamos Léo. Assim você vai chegar atrasado na escola meu filho.
– Calma mãe. To indo.
Gritou o garoto do seu quarto no andar de cima.
Gabriela foi até a geladeira, pegou a manteiga e assim que a colocou sobre a mesa um barulho chamou sua atenção. Ela correu desesperada. Não deu tempo. O leite havia derramado sobre o fogão.
– Mais que droga. – Resmungou enquanto limpava.
Leonardo sentou-se na cadeira ainda amarrando o calçado.
– Mãe. Posso comer a pizza que sobrou de ontem.
– Não. Isso não é hora de comer pizza. Seu leite está quase pronto. – Disse colocando o que restou em uma caneca.
A campainha toca.
– Léo. Vê pra mim quem é. Enquanto isso eu vou colocar chocolate no seu leite.
O garoto saiu e logo entrou de novo.
– Mãe é a polícia.
Gabriela deixou a caneca cair espalhando leite e cacos de vidro por toda cozinha.
– A polícia?
Junto com o filho ela foi saber o que havia acontecido. Dois policiais em frente à casa aguardavam. Assim que ela apareceu um deles se pronunciou.
– Bom dia. A senhora Gabriela Dantas?
– Sou eu. Bom dia.
– Sou o investigador Haravena e este é o meu colega, investigador Ramalho. Temos um assunto muito delicado para tratar com a senhora. É sobre Daniela Dantas.
– Minha tia. O que aconteceu com ela? – Quis saber o menino.
– Já disse ser assunto delicado senhora. – Disse o policial olhando para o garoto.
Gabriela entendeu a indireta.
– Léo meu filho, vai lá dentro assistir televisão. Preciso conversar em particular com o policial.
– Ah mãe. Eu quero saber o que aconteceu com a tia Dani.
– Leonardo isso é uma ordem. Você pode comer a pizza também.
A palavra pizza pareceu mágica, o menino disparou para dentro de casa. Gabriela fechou a porta e voltou sua atenção para o policial que disse.
– Lamento ser portador de uma notícia tão desagradável...
Gabriela demostrou ficar nervosa com a demora dele para falar.
– Poderia ir direto ao assunto investigador.
E Haravena continuou.
–... Essa madrugada a Daniela foi encontrada morta na sua residência.
– Morta! Como assim morta? Não pode ser.
Gabriela colocou as duas mãos sobre a boca, respirou fundo duas vezes, mesmo assim, não conseguiu segurar as lágrimas que escorrem pelo seu rosto. Ela ameaça um desmaio e é amparada por Haravena. Com ela um pouco mais calma Ramalho se adianta.
– Recebemos uma ligação de uma vizinha dizendo que havia barulho e uma movimentação estranha na casa, quando fomos averiguar encontramos o corpo dela.
– Como foi que ela morreu?
– Tudo leva a crer que ela foi assassinada a facadas.
– Meu Deus! Quem faria uma coisa dessas com ela?
– É isso que nós vamos tentar descobrir. A perícia já está na residência recolhendo pistas e iremos investigar o caso. É preciso que a senhora vá ao IML fazer o reconhecimento do corpo.
– Preciso me arrumar e ver onde vou deixar meu filho, despois irei ao IML.
Os policiais vão embora, Gabriela entra em casa tranca a porta e chora encostada nela. Acabara de perder sua irmã mais nova. Leonardo deixou o resto da pizza sobre a mesa e se aproximou da mãe.
– Por que você chorando mamãe? O que os policiais disseram?
Gabriela abaixou e abraçou o menino.
– Presta atenção no que a mamãe vai falar: A tia Dani foi morar com o Papai do céu.
– Ela morreu?
Gabriela não respondeu levantou e puxou Leonardo pela mão.
– Vamos. Hoje você não vai à escola. Preciso sair para resolver umas coisas e vou deixar você na casa da sua avó.
– Obaaaa.
Comemorou o garoto já se esquecendo do motivo pelo qual faltaria a aula.
Depois de deixar o filho na casa da sogra ela seguiu de carro para o IML. Durante o percurso foi inevitável pensar na irmã, lembrar das coisas boas que fizeram juntas, da alegria de Daniela, do seu sorriso. Quem poderia ter feito a barbaridade de tirar a vida de alguém que adorava viver.
Na recepção do IML ela se identificou e recebeu um saco transparente com alguns objetos. Dois anéis, um par de brincos, um relógio, uma gargantilha de prata e um celular com capinha de urso panda. Gabriela se emocionou ao ver os pertences da irmã, principalmente o par de brincos e a capa de celular que fora presente seu.
Uma funcionária a encaminhou até uma sala enorme onde havia várias mesas de mármore e sobre algumas dessas mesas havia corpos cobertos com pano branco. A funcionária parou mais a frente diante de uma mesa com um corpo coberto. No dedão do pé uma etiqueta informava: Daniela Dantas.
Gabriela andou lentamente e parou. Saber que o corpo sem vida da irmã estava a poucos metros de distância a fez suar frio. Por um momento não queria estar ali. Pensou em sair correndo daquele lugar.
– Senhora. Tudo bem?
Perguntou a funcionária ao ver que ela estava pálida e tremia.
– Sim. Está... Tudo bem. Vamos resolver isso logo.
Gabriela se aproximou e foi instruída sobre o lugar onde ela deveria ficar ao lado da mesa, a funcionária calçou as luvas e segurou a lateral do pano branco, olhou pra Gabriela e sussurrou.
– Está preparada? Posso?
Gabriela respirou fundo e com um aceno de cabeça concordou.
A funcionária puxou o lençol até a cintura da falecida. Gabriela fechou os olhos e mordeu os lábios. Seu coração batia descompassado, não queria olhar para a irmã naquele estado. Aos poucos foi abrindo os olhos até poder ver o cadáver na sua frente. O busto de uma bela mulher de cabelos negros e compridos, pele clara, nariz arrebitado e boca grande. Parecia dormir profundamente sem tatuagens ou cicatrizes, destacando as fendas que as facadas haviam deixado no tórax.
Gabriela ficou incrédula encarando a defunta, depois se virou para a funcionária e gritou.
– Que tipo de brincadeira é essa?
– Desculpe senhora, não entendi.
– Está não é minha irmã.
– Como não? A senhora não é irmã de Daniela Dantas?
– Claro que sou. Mas, essa não é a Daniela Dantas. Não é ela.
– Os documentos confirmam que essa pessoa é a Daniela Dantas.
Gabriela rasga o saco plástico e confere os documentos, o celular, o comprovante de endereço e os objetos.
– Sim. Tudo que está aqui pertence a minha irmã, porém a foto do documento não é a dela. Quem é essa pessoa morta e o que ela fazia com as coisas da minha irmã? E onde está Daniela Dantas?
– Acalme-se. Vou chamar o responsável para ver o que está acontecendo.
– Quero saber onde está minha irmã?
Gabriela corre por entre as mesas arrancando o pano que cobre cada um dos cadáveres deixando todos expostos. Cansada e ofegante ela encosta-se à parede, senta no chão e chora abraçando as próprias pernas. Sua irmã não estava ali.
A funcionária deixa a sala e em seguida retorna com um médico legista que veio falar com Gabriela.
– Bom dia senhora Gabriela sou o Doutor Eusébio. A senhora tem certeza de que não reconhece aquela mulher?
Gabriela fica de pé e se altera.
– Lógico que tenho. Agora quero saber onde está minha irmã?
– Essa mulher foi encontrada morta com todos os documentos e na casa dela, deixando claro, ser a Daniela Dantas.
– Eu já disse que essa não é minha irmã. Vou chamar a polícia.
– Calma senhora. Faremos novos exames de papiloscopia e de DNA para saber o que pode estar errado. Se é que há alguma coisa errada.
Nervosa ela avança contra o médico.
– Está dizendo que não reconheço minha própria irmã, ou que esteja louca.
Gabriela contida por funcionários foi convidada a se retirar do IML.
Na volta para casa ela ficou pensando no que teria acontecido com a irmã e quem era aquela impostora que seria enterrada no seu lugar. Uma sensação boa percorreu seu corpo. Pensar que Daniela poderia estar viva.
Depois de tomar um bom banho, ela preparou algo para o almoço e pouco tempo depois a campainha tocou. Gabriela atendeu. Haravena e Ramalho aguardavam do lado de fora. Assim que a porta abriu Ramalho se aproximou.
– Boa tarde. Nós viemos acompanhar a senhora para fazer a coleta de material para o exame de DNA.
– Tudo bem. Vou pegar minha bolsa.
Gabriela entra no carro e eles seguem.
Depois de ser colhido material para exame de DNA os investigadores levariam Gabriela para casa. Algum tempo depois ela percebe que o trajeto feito é o caminho de onde sua irmã morava. Estava certa. O carro para na frente da casa de Daniela.
A área estava isolada e dois policiais faziam a segurança do local. O investigador Haravena desce do carro e abre a porta para Gabriela.
– A senhora gostaria de me acompanhar?
Gabriela desce do carro e não demonstra vontade de querer ir até a casa da irmã.
– Isso é mesmo necessário investigador?
– Queria que a senhora desse uma olhada na residência. Quem sabe encontre algo que possa nos ajudar nas investigações.
Contrariada ela se dirige a residência.
Na casa tudo parecia normal, nada fora do lugar, tudo bem limpo e organizado, ela conhecia bem aquele lugar.
Gabriela olhava tudo e quando chegou na sala parou e ficou por um momento olhando um retrato sobre a estante, tirou o quadro do lugar e mostrou ao investigador.
– Essa foto é da morta do IML.
Haravena se aproximou de Gabriela com outro retrato na mão.
– Acredita agora porque não desconfiamos de nada. Tudo parecia óbvio.
– Queria saber quem é essa pessoa. Está por toda a casa, mas, não é a minha irmã.
– Nós vamos investigar o caso e descobrir o que aconteceu.
– Espero que não demore.
– Um objeto encontrado na cena do crime deixou os peritos confusos. Gostaríamos de saber se foi deixado pelo assassino ou se pertencia a sua irmã.
– Objeto. Qual objeto?
– Um pequeno dado vermelho. Ele foi encontrado em meio a poça de sangue. Parece ter sido colocado ali com muito cuidado.
– Pelo que eu saiba Daniela depois de adulta não brincou mais com jogos. Acho que não pertencia a ela.
– O assassino então deixou uma pista de propósito. Vou levar você até sua casa e depois volto para a delegacia. Preciso falar com o delegado. Urgente.
 
 
 
 
 

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