O relógio digital em cima do criado mudo ao lado da cama marcava três e dez da manhã. Tudo estava no mais absoluto silêncio, quebrado às vezes pelo barulho do ronco de um homem gordo que dormia no quarto.
Ao lado do relógio, um celular toca de repente assustando o homem que no escuro e com os olhos fechados tateia a procura do aparelho. Quando o encontra, ele encosta o telefone na cara.
– Oi... Alô... Dr. Queirós falando.
– Dr. Queirós, aqui é o investigador Souza.
– Souza. São três da manhã o que você quer?
– O senhor me pediu pra entrar e contato se aparecesse algum problema grave.
O delegado senta na cama e posiciona o telefone direito no ouvido.
– O que foi que aconteceu?
– Uma mulher caiu do oitavo andar de um prédio. O resgate foi chamado, mas, ela não resistiu e morreu no local. Não sei dizer se estamos diante de um suicídio ou um homicídio.
– Havia outra pessoa no apartamento quando vocês chegaram?
– Apenas o marido da vítima, aliás, foi ele quem chamou o resgate.
– Ele pode ser o culpado?
– Talvez. Não posso afirmar. Ele chegou aqui desesperado gritando pelo nome da esposa, quando viu o rosto dela ensanguentado teve um piripaque e desmaiou, agora está sendo cuidado pelo resgate que ele mesmo chamou.
– Assim que estiver melhor leve ele para a delegacia. Quando eu chegar vou tomar seu depoimento.
– Farei isso Dr. Queirós.
– Tá okay Souza, até daqui a pouco.
– Dr. Queirós. – Chamou Souza. – Ainda há um detalhe que esqueci de comentar. A mão esquerda da vítima estava fechada e segurava algo, quando verificamos havia um objeto entre seus dedos.
– Que objeto?
– Um dado vermelho.
– Por que não disse isso antes? Daqui a pouco estou chegando aí.
O delegado pulou da cama e começou a trocar de roupa, derrubando coisas e fazendo barulho. Acordou sua mulher.
– O que está acontecendo Maciel?
– Preciso ir querida. Tenho coisas importantes para resolver no trabalho.
Colocou os sapatos, beijou a testa da esposa, pegou a arma, as chaves do carro e saiu do quarto abotoando a camisa.
Não foi difícil encontrar o local do acontecido, era noite e as luzes de duas viaturas iluminavam o prédio. Assim que chegou, Dr. Queirós se encontrou com Ramalho e Haravena que ele mesmo chamou enquanto dirigia até ali.
Além de curiosos em volta, pessoas nas janelas dos prédios se debruçavam para ver o que havia acontecido. O corpo da mulher estava caído de bruços no hall de entrada do edifício, parecia jovem por volta de vinte cinco anos. Pele parda, cabelos pretos encaracolados, usava um pijama amarelo. Na palma da mão o dado vermelho.
– É Dr. Queirós. Parece que estamos diante de mais uma vítima dos crimes do dado vermelho. – disse Ramalho.
– Será que é mais uma desconhecida. Morta com o nome de outra mulher? – comentou Haravena.
– Acho que não. Pelo que eu saiba, ela estava sozinha com o marido dentro do apartamento antes do crime. Vamos falar com ele e saber o que foi que aconteceu.
O homem ainda estava sendo amparado pelos socorristas, parecia paranoico, chorava e gritava loucamente.
– Tainá. Meu amor. Volta para mim. Tainá. Eu te amo Tainá. Tainá.
O delegado tentou conversar com ele.
– Sou o delegado Queirós. Preciso fazer algumas perguntas. Pode me dizer como foi que a Tainá caiu lá de cima? Havia mais alguém com vocês no apartamento?
O homem parecia delirar. Pulava, batia palmas, chorava e continuava a chamar pela mulher.
– Tainá. Traz ela de volta para mim. Tainá. Eu não consigo viver sem você. Tainá.
O investigador Haravena sem paciência com aquela choradeira se aproximou do homem e lhe deu um tapa no rosto.
– Deixa de frescura e pare com essa ladainha.
Dr. Queirós surpreso olhou para o investigador com cara de quem não concordou com aquela atitude. O homem alisava o rosto dolorido. Pelo menos ele parecia mais calmo agora. O delegado continuou.
– Qual seu nome?
– Carlos Eduardo.
– O que aconteceu lá em cima Carlos?
– Não sei. Está tudo muito confuso.
– Conte apenas do que se lembra antes do ocorrido.
– Tainá e eu jantamos, fiquei na sala para assistir ao jogo de futebol e ela foi para o quarto. Assim que terminou o jogo eu fui me deitar e ela já estava dormindo. Me ajeitei na cama ao lado dela adormeci em poucos minutos.
– E o que aconteceu depois?
– Eu acordei no meio da noite e Tainá não estava na cama. Ela tem costume de levantar para ir ao banheiro ou tomar água. Mas, um grito seguido de um barulho de vidro quebrando me chamou atenção. Pulei da cama e fui procurá-la. Não encontrei ela no apartamento e assim que olhei pela sacada vi seu corpo caído aqui embaixo. Chamei a emergência.
– O que você fez depois de chamar o resgate.
– Fiquei apavorado. Com medo de perder minha esposa. Não queria descer e vê-la nesse estado. Ao mesmo tempo desejava muito saber se ela estava bem, se estava viva.
– E então?
– Depois que o resgate chegou eu me acalmei um pouco e resolvi descer. Quando cheguei aqui embaixo vi a expressão negativa no rosto dos socorristas. Tive a certeza de que havia perdido o amor da minha vida. Foi aí que me surpreendi com outra pessoa morta.
– Outra pessoa?
– Não era a Tainá. Fiquei apavorado. Mesma roupa, a mesma pulseira, a aliança exclusiva de casamento, até o cabelo é parecido. Mas, quando olhei o rosto vi que ela não era Tainá. Não era a minha esposa que estava ali. Morta.
– Saberia dizer para onde Tainá possa ter ido?
– Também gostaria muito de saber. Se ela foi sequestrada. Se está viva.
– E aquele objeto na mão da morta. Você reconhece?
– O dado vermelho. Nunca vi. E tenho certeza que Tainá também não. Ela odeia jogos e enigmas.
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O Enigma dos Dados Vermelhos
Tajemnica / ThrillerMistério na pequena cidade de Engenho Açu no interior do Paraná. Uma mulher é encontrada morta na sua casa. A polícia investiga o crime como um suposto homicídio, até um objeto deixado de propósito ao lado do corpo se tornar a pista principal deste...