Capítulo 19

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Para sua surpresa havia dezenas de fotos dele. Imagens com sua esposa Marta em diversos momentos da sua vida. Na igreja, quando fizeram os votos e trocaram alianças de casamento. No teatro e no Museu, onde sempre gostava de ir com Marta aos finais de semana. Na rodoviária, quando pegava o ônibus e viajava para visitar seus parentes no capital. Na livraria, adorava comprar livros para dar de presente. Fotos antigas dele com Ana Flávia e fotos da escola onde ele estudou.
Foi difícil segurar a emoção. Saber que sua vida estava sendo vigiada a algum tempo. Causou um constrangimento, um sentimento de invasão de privacidade e insegurança. Logo ele, que seria quem deveria passar segurança estava se sentindo perdido.
Os presentes comovidos com o amigo, se aproximaram e tiraram a mala de perto dele. Com palavras de incentivo, levantaram a estima do delegado.
– Nós vamos pegar quem está por trás de tudo isso Dr. Queirós. Seja quem for. – Disse Souza.
– Meu amigo. Sempre vou estar do seu lado. – Fred abraçou o delegado.
Dr. Queirós enxugou as lágrimas e fechou a mala.
– Temos que descobrir quem está se passando por Enigma Begald. Onde está Haravena.
– Ele disse que precisava resolver um assunto pessoal e que mais tarde estaria de volta. – Respondeu Souza.
– Eu vou até o IML saber se eles têm algo novo sobre os acontecimentos. Fred você quer ir comigo?
– Vamos sim.
– Investigador Souza, assim que o Haravena e o Ramalho chegarem coloque-os a par dos acontecimentos e avise para que eles fiquem de prontidão. Qualquer novidade entro em contato.
– Pode deixar comigo delegado.
Fred e o delegado foram até o IML. Eles procuram o médico legista para um assunto particular.
– Conseguiu alguma coisa? Sim. O teste que você me pediu ficou pronto. Aqui estão os resultados conclusivos.
O delegado olhou tudo e mostrou para Fred.
– Olha isso meu amigo. Percebi que o funcionário do aeroporto usava luvas para trabalhar. Guardei a mala e trouxe ela direto para cá. Pedi um exame das digitais que estavam na mala o resultado é isso que você está vendo.
– Não acredito no que estou lendo aqui, Queirós.
– Isso mesmo Fred. Eu tinha uma desconfiança e o exame de papiloscopia comprovou o que eu suspeitava. Eu sabia que o Jogador não poderia estar fazendo tudo o que aquilo sozinho.
– Nem no melhor filme eu conseguiria imaginar isso.
– Vamos voltar para a delegacia imediatamente.
Dr. Queirós liga para a delegacia.
– Aqui é o delegado Queirós. Haravena e Ramalho apareceram?... Tudo bem avise o Souza que estou chegando e preciso falar com ele... Entendi. Avisa os policiais disponíveis para estarem preparados pois a qualquer momento vamos precisar deles.
 Ele desliga o telefone e incrédulo fala com o amigo.
– O Souza não está lá mais. Disse que saiu para tomar um café e não voltou. Haravena e Ramalho também não voltaram ainda.
Assim que guarda o aparelho celular uma mensagem chega. Enviada por um número desconhecido.
 
Delegado Queirós se você quiser salvar seus amigos vá até a siderúrgica velha.
 
O delegado liga novamente para a delegacia.
– Avise quem estiver disponível para ir até a siderúrgica velha.
Depois de desligar o celular ele procura alguma coisa embaixo do banco da viatura. Um revólver. Conferiu se estava tudo funcionando e carregado. Entregou para Fred.
– Pegue isto.
Fred não sabia nem como manusear uma arma direito.
– Mas?
– Somos só nós dois por enquanto. Se tiver dúvida aponte e atire. Depois faça as perguntas.
Sem outra opção ele concordou com um aceno de cabeça.
A siderúrgica velha, há mais de um ano foi fechada pela justiça por conta de um acidente. Uma explosão ocorrida em uma das caldeiras onde morreram cinco pessoas, ferindo outras três. Distante da área urbana, o acesso era feito por uma estrada de terra. Alguns minutos e a viatura estacionou em frente a siderúrgica.
Fred e o delegado com armas nas mãos passam pelo portão da cerca que protege a siderúrgica. Poucas luzes estavam acesas, nenhum barulho. O portão principal estava destrancado, eles empurraram e entraram. O lugar é enorme, a pouca luz produz sombras assustadoras nas paredes.
Uma voz distorcida num alto falante chamou a atenção deles.
 
– Dr. Queirós. Vejo que o senhor veio acompanhado. É bom que seu amigo inteligente esteja com você. Talvez precise dele.
 
Fred e Queirós se olham e conversam baixinho.
– Ele está aqui.
– E está nos observando.
– Fique calmo. Vai dar tudo certo.
Eles caminham devagar olhando tudo. Atentos a qualquer barulho. Uma caldeira com um líquido incandescente clareava a parte baixa da siderúrgica.
Algo chama a atenção de Fred.
– Queirós. Olha lá.
Havia dois corpos pendurados em uma ponte rolante sobre a caldeira onde havia aço derretido. Eles estavam encapuzados e amarrados. Não era possível ver quem eram, se estavam se movimentando ou mesmo se estariam inconscientes.
Andando devagar com a arma apontada para frente e acompanhando o mecanismo que mantinham as duas pessoas penduradas o delegado encontrou um relógio que mostrava um cronômetro com um minuto travado.
A voz retorcida surgiu novamente no alto falante.
 
– Ao lado do cronometro existe um painel digital com espaço para seis dígitos. Se colocar a senha correta, o contador vai parar o tempo e você poderá salvar seus amigos. Se senha estiver errada o contador acelera e quando zerar eles cairão na caldeira com ferro derretido a mil e quinhentos graus Celsius. Se não fizer nada e o cronometro zerar eles caíram do mesmo jeito. Boa sorte delegado Queirós.
 
Depois de ouvirem tudo atentamente, Queirós e Fred olham para o cronometro parado. De repente ele mudou. Caiu para 59, 58, 57...
– E agora. O que vamos fazer Fred?
– Temos que tentar salvar quem quer que esteja pendurado ali.
– Como vamos saber qual é essa maldita senha?
O cronometro vermelho continua. 51, 50, 49...
– Com certeza essa senha tem algo a ver com tudo isso que está acontecendo.
– É isso Fred. Os dados vermelhos.
– Os dados vermelhos? É uma sequência. Será que esse maluco seria tão obvio?
Enquanto eles conversam os números piscam. 44, 43, 42...
– Não sei. Mas, temos que tentar alguma coisa. Não podemos deixar que eles morram sem pelo menos tentarmos.
– Então digite logo esses números.
Com as mãos tremendo e suando muito, não só pela tensão do momento como por conta da proximidade com a caldeira fervendo. O delegado começa a digitar os números dos dados na sequência de cada morte.
Um, dois, três, quatro, cinco, seis.
Antes de apertar o confirmar ele começa a andar em círculos.
– E se não for isso Fred. Nunca vou me perdoar.
O cronometro continua piscando. 29, 28, 27...
­– Não me lembro de outra possibilidade de números em tudo que eu vi durante as investigações.
– Mesmo assim. Eu não vou conseguir confirmar isso.
– Não temos outra opção meu amigo. Se você quiser posso fazer isso por você. – Fred coloca a mão sobre o painel.
22, 21, 20... O delegado começa a pensar na possibilidade de dar a ordem para Fred apertar o botão. Antes começa a pensar nas mortes na residência, no salão, no hospital e uma e uma lembrança vem a sua mente.
– Espere!
Fred tira a mão do painel.
– O que foi?
– A quarta morte. O dado não foi colocado na cena do crime, estava na mão da vítima quando ela caiu do apartamento. Não podemos garantir que seja o número quatro.
– E agora? O que faremos?
13, 12, 11... O delegado começa a ficar desesperado.
– Temos que pensar em alguma coisa Fred.
– Queria muito te ajudar meu amigo, mas não tenho ideia de como fazer isso.
O delegado vai até o painel e apaga os números e começa a digitar novamente.
Um, dois, três. Fica pensativo no que colocar na quarta casa. Seus olhos enchem de lágrimas.
06, 05, 04... Fred permanece em silêncio, com as mãos na cabeça. Queirós enxuga as lágrimas e digita os três números restantes. Dois, cinco, seis.
03, 02... Queirós bate a mão no botão e confirma. ...01

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