Capítulo 10

52 12 0
                                    

Com os dois sentados na sua frente, Fred começou suas explicações.
– Vou falar devagar e sempre que não entenderem vocês podem interromper tudo bem?
Ambos concordaram e Fred agrupou as peças, pegou o bloco e o lápis e iniciou.
– Bom, fiz várias tentativas e depois de algum tempo cheguei a um resultado interessante. Vamos lá. Essas seis palavras de alguma forma estão ligadas a jogos. Resolvi transformá-las em números.  Cada uma foi modificada de acordo com o que representava. Por exemplo a tesoura, no Jo-Ken-Pô ela é representada por dois dedos então coloquei o número dois. O papel segue o mesmo raciocínio ficando então cinco. Estão entendendo?
Os dois balançam a cabeça positivamente e Haravena lembra.
– O senhor ainda comentou sobre isso delegado.
– Foi mesmo.
Fred continua.
– O cavalo foi um pouco mais complicado, obvio que seria do xadrez, no início pensei na quantidade de casas que ele percorre no tabuleiro.  Quatro, mas, a conta não dava certo até eu perceber que o gesto do movimento do cavalo equivalia a um sete.  Depois disso foi fácil. Uno é um jogo de cartas e significa um. Damas é a décima segunda carta do baralho ou doze e a quadra na maioria dos jogos é o quatro. Chegamos ao ponto.
Fred mostrou o bloco de anotações cada palavra ao lado do seu número correspondente.
Tesoura 2 Papel 5 Cavalo 7 Uno 1 Dama 12 Quadra 4
2-5-7-1-12-4
Haravena demostrou estar ainda mais confuso.
– Não consegui entender esses números. Não se parece com uma data, nem número de telefone, seria uma coordenada geográfica?
Fred pega o bloco novamente.
– Os enigmas não seguem uma linha correta. Às vezes você tem que ir e voltar para saber o que está escondido ali. Simplificando, eu transformei os números de volta em letras, só que dessa vez usando o alfabeto em sequência que ficou assim: Dois B, cinco E, sete G, um A, doze L, quatro D. Resultado foi BEGALD.
 Dr. Queirós dá um soco na mesa espalhando as peças de dominó e derrubando duas no chão, Haravena e Fred se assustam. O delegado se afasta da mesa com as mãos sobre o rosto. Fred recolhe as peças e Haravena tenta saber o que houve.
– Dr. Queirós. Algum problema?
– Não acredito que isso está acontecendo de novo. Só pode ser um pesadelo.
– O que está acontecendo? – Quis saber Haravena.
O delegado se aproximou de Fred.
– Você deve ter se confundido. Tente novamente.
Fred se levantou e foi até o painel.
– Também acreditei errar, mas, olhando esse painel veio a comprovação.
– Como assim?
O delegado se aproximou de Fred. Haravena sem entender nada também olhava o painel.
– Os nomes das mulheres desaparecidas, preste atenção. Daniela, Amélia, Neila, Tainá, Olivia e Natasha. A letra inicial de cada nome. DANTON. Temos Danton Begald.
– Impossível. Não posso acreditar. – O delegado dá um soco no painel.
– Opa. Perdi alguma coisa. – Ramalho chega.
– Alguém pode me dizer quem é Danton Begald? Haravena estava confuso e curioso.
Sentado e após de tomar um pouco de água, Dr. Queirós se acalma e começa a esclarecer algumas dúvidas.
– Há cerca de vinte anos um homem espalhou pânico pela cidade de Engenho Açu e deixou nossa delegacia de cabelo em pé. Danton Begald era um psicopata que adorava jogos e enigmas. Foi difícil capturar esse criminoso que matava e deixava pistas ocultas para a polícia. O Fred aqui foi de grande ajuda para tentar entender todos aqueles números, senhas, códigos etc. Homens e mulheres foram vítimas da sua mente doentia. Era um assassino em série.
– Como foi que conseguiram capturar esse louco? – Perguntou Ramalho.
– Não foi nada fácil. – Dr. Queirós se levanta e anda envolta da mesa. – Ficamos semanas periciando os locais dos crimes e tentando decifrar as pistas deixadas por ele. Fred descobriu muita coisa, até mesmo o nome dele, mas, era preciso estar à frente do maníaco. Ele nunca repetiu a forma de matar. Por outro lado, suas vítimas eram parecidas. Todos eram donos do seu próprio negócio. Resolvemos colocar uma isca e a investigadora Ana Flávia foi escolhida. Com ajuda de um colega da televisão, foi feita uma reportagem falando sobre uma empresária em ascensão. Depois disso esperamos o ataque que só ocorreu cinco dias depois. O psicopata invadia a casa da nova vítima enquanto ela dormia, tentou enforcá-la usando uma corda de violão. Os policiais que faziam a vigilância entraram na residência e deram voz de prisão. Begald pegou Ana Flávia como refém, com uma pistola no pescoço dela ele exigia sair dali. Os dois entraram num carro e seguiram pela Rodovia PR-376, houve perseguição, a refém foi jogada para fora do veículo a mais de cento e quarenta quilômetros por hora. A perseguição continuou e com os pneus furados ele teve que parar e se render. Foi assim que prendemos o Danton Begald.
– O que aconteceu depois com ele? – disse Haravena.
Dr. Queirós olha para as próprias mãos, apoiado no encosto da cadeira ele respira fundo e continua.
– Quando voltamos descobri que a policial Ana Flávia não tinha resistido e morreu na beira da rodovia. – O delegado abaixou a cabeça por um instante. Quando levantou seus olhos estavam marejados. – Ela era a minha melhor investigadora. Perdi a cabeça, fui até o camburão da viatura e arranquei o cretino de lá e na presença dos meus colegas matei ele com cinco tiros. Três na cabeça e mais dois no peito. Meus amigos me ajudaram a fazer um relatório confiável. Fui tratado pela mídia como um herói. Com licença preciso ir ao banheiro.
O delegado sai da sala deixando Ramalho e Haravena espantados. Frederico se aproxima dos dois e fala baixinho.
– O que ele não falou para vocês é que Ana Flávia estava grávida de três meses – respirou fundo e concluiu – e que ele seria pai.
Os investigadores se comovem. Um momento depois, Dr. Queirós retorna, bem mais calmo ele fica de frente para o painel e fala com os presentes.
– Está claro que não é o verdadeiro Begald que está cometendo os crimes, mas, existe alguém usando seu nome e nós precisamos descobrir a identidade desse psicopata.
 

O Enigma dos Dados Vermelhos Onde histórias criam vida. Descubra agora