Diferente

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[N/A: Tô acostumando vocês muito mal! Capítulo todo dia! E acho que já começamos a segunda metade da história faz um tempo! Obrigada pelo carinho e espero que curtam! Amo vocês!]

Tinha falado para ela que estava indo, de forma que Ethel estava esperando. Viu a senhorinha franzina abrir a porta e apertar os olhos sob aqueles óculos de tartaruga para enxergar melhor. Estava um calor desagradável, então ela estava com um vestido azul que mais parecia uma camisola. Apoiada sobre uma bengalinha e mais curvada do que nunca, Ethel Ann passava dos oitenta e cinco, e não tinha envelhecido tão bem assim. Steve subiu os degraus da casa dela, e a abraçou na porta.

"Steven." ela disse, sem especial carinho, mas solícita de qualquer forma. Encerrou o abraço com três tapinhas surpreendentemente fortes para uma senhora tão franzina.

"Entre, entre."

Ele entrou na casa que tinha frequentado algumas vezes durante a infância. Continuava exatamente a mesma coisa. Até mesmo o gato da avó ainda era o mesmo de quando ele era adolescente.

"Como a senhora está?"

"Cada dia mais velha." ela riu, seca. "E você? Está bonito com essa cara de homem. Finalmente parou de parecer um bebê grande. A barba te cai bem. Como está Lucy Ann?" a avó sempre tinha feito piada com o fato que ela e a nora tinham o mesmo segundo nome.

"Bem. Trouxe uma torta de maçã daquela padaria que eu ia com a Carol quando éramos crianças."

Ela pegou a embalagem com as mãos trêmulas.

"Faz um tempo que não vou até lá." observou, pesarosa. "Soube que a Caroline teve um bebê. Me mostrou por essas ligações com vídeo. É uma bebê magra, mas é bonita."

Steve sorriu. Ethel sempre tinha sido daquele jeito; amorosa, mas pouco carinhosa. Havia grande diferença entre uma coisa e outra.

Se sentou à mesa junto com a avó e começaram a conversar sobre os últimos anos. Eles não tinham se encontrado no funeral do pai dele, pois ela não quis ficar até o enterro - Steve só tinha ido para aquela parte.

O gato gordo da avó pulou no colo dele, e instantaneamente lembrou de Liho. Sentiu uma pontada de saudades de Nat.

"Por que dirigiu nove horas, Steven? Quero dizer, agradeço sua visita a esta pobre velha, mas deve ter algo mais."

Ela o olhava com os mesmos olhos azuis dele, furando-o.

"Eu queria saber se a senhora sabe me explicar por que meu pai era daquele jeito."

Ethel parou e o olhou por cinco segundos, sem expressão alguma. Então, se virou para cortar outro pedaço da torta, lentamente. Steve achou que ela sequer fosse responder, até que ela disse de uma vez.

"Não, Steven. E pode acreditar que me perguntei mais de uma vez a mesma coisa."

Ela limpou os óculos na barra da toalha de mesa e voltou a encará-lo.

"O Grant sempre foi uma pessoa sensível e criativa. Sempre, desde criança. Não tinha o menor jeito para o ofício do pai, e isso foi uma das grandes decepções de Charles. O sonho dele era ter um filho homem, e já tinha se frustrado quando a Elizabeth nasceu. Quando seu pai veio, achou que ia ter alguém para ficar nas oficinas junto com ele. Só que Grant gostava de desenhar e escrever, e Charles considerava estas atividades pouco masculinas, e se sentia envergonhado. Ele bateu no seu pai mais vezes do que consigo me lembrar. Ambos morreram jovens, e ambos foram levados pelo álcool. Me lembro de nunca ter visto meu filho plenamente satisfeito com nada do que conquistou na vida. Todo mundo o amava por coisas que o pai odiava, e ele nunca aprendeu a lidar com isso. Eu disse várias vezes que não podia se deixar definir por um trauma ou pela cabeça fechada de uma pessoa, mas Grant nunca me escutou."

Starboy - RomanogersOnde histórias criam vida. Descubra agora