Capítulo 8 – Prímula
"Inconstância"
❁
O amanhecer tenta, em vão, passar pelas pesadas cortinas de meu quarto. Não deve passar das sete horas e já me encontro desperta, mas ainda deitada confortavelmente em minha cama dentro do abraço de Clara. Desde que voltara da missão com Alex, Clara todos os dias ao fechar sua loja vem em minha casa para passar a noite comigo.
Clara se mexe levemente, despertando.
— Bom dia! — diz tirando o braço debaixo de mim para se espreguiçar.
— Bom dia. — retribuo sorrindo.
Se aproxima de mim beijando-me docemente e se levanta.
— Vou preparar o café da manhã, quando estiver pronto te aviso, pode ficar na cama mais um pouco. — comenta ao se trocar. Beija-me novamente e sai do quarto.
Levanto-me indo em direção a janela onde abro a cortina e a janela, observando o dia lá fora, passaram-se dez dias desde que finalizara o pedido de Alex. O mundo está silencioso, nenhuma notícia sobre tritões, a única notícia que correu por alguns dias foi que o veleiro da marinha Cisne Branco fizera uma simulação de treinamento em alto mar causando um acidente com um de seus marinheiros novatos. Mas não é uma coisa extraordinária o bastante para ser comentada por vários dias.
O pai de Alex fora solto duas horas depois com a explicação que imaginei que daria "não sabia quem eram, me obrigaram a ajudá-los". Enviei Laima com uma carta dizendo-lhe da proposta de Alex de se encontrarem uma vez ao ano naquele local.
Ouço Clara mexendo na cozinha, daqui de cima sinto um delicioso cheiro de café e bolo de chocolate no forno. Deixo o quarto indo ao banheiro onde faço minhas necessidades, percebo que a pior semana do mês chegara para mim, o que me deixa em alerta. Tomo um banho para me lavar. Volto ao meu quarto para me vestir e ajeito um absorvente. Como sempre escolho um vestido, é o mais prático, só enfiar no corpo e pronto. Esse vestido de alças vermelho com pequenas flores não é meu favorito, mas o visto mesmo assim.
Olho-me no espelho atrás da porta, penteando os cabelos brancos, antigamente eram pretos, mas acho que vivi demais e apesar da aparência de vinte e poucos anos, meu cabelo sofreu com todo estresse e se tornou branco. Não me importo com isso, acho até bonito, o que me incomoda mas nem tanto é que apesar dos muitos anos, o "mar vermelho" não cessou. Agora que tenho noção de sua vinda, leves cólicas me atingem, mas nada muito ruim.
Com os cabelos penteados e roupa trocada, desço as escadas para reencontrar Clara e a ajudar com o café da manhã. Ela se encontra na pia, lavando o que sujara para preparar o bolo. Vou até ela e a abraço por trás, enfiando a cabeça em suas costas. Clara seca suas mãos no avental e as coloca nas minhas.
— Está tudo bem? — pergunta com carinho.
— Está sim, só quero você um pouquinho. — respondo.
Continuamos assim, em silêncio, apenas sentindo uma a outra por mais alguns minutos e então Clara se vira e me beija delicadamente.
— Ah! Alma! — grita pegando meu rosto com as mãos, amassando minhas bochechas. — Você é tão bonita! — esmaga-me em um abraço de urso.
— Você é mais! — dou risada retribuindo o abraço.
Me solta e me encara, com seus olhos sugestivos e beija-me com gosto, saindo de minha boca e indo ao meu pescoço.
— O seu bolo vai queimar. — digo sorrindo e encolhendo o pescoço, impedindo-a de continuar. — E não me provoque, você tem trabalho daqui a pouco.
VOCÊ ESTÁ LENDO
A Bruxa das Flores
RomanceAlma realiza desejos que consistem em mudar arrependimentos des pessoas em troca de flores. Cada caso leva a clarear o que a trouxe até ali. Uma história sobre flores e seus significados e desejos realizados ou não.