Corações, Remendos e Henry

CAPÍTULO 1

"Qual é o ponto de viver se o meu coração fica partido? (...)
Eu sinto sua falta
Mas prefiro ficar sozinho
Para me impedir de ter
Coração partido e dor de cabeça
O doutor disse que eu fui diagnosticado com dias de merda e erros
mas eu ficarei bem..."

(Painkiller – Ruel)

A orbe solar iluminava e esquentava aquele final de tarde, a areia úmida e áspera em contato com a minha pele me proporcionava um leve formigamento, o vento batia em meu rosto delicadamente enquanto as ondas do mar oscilavam nas suas idas e vindas. A movimentação da praia não me interessava, eu me sentia sozinho e pretendia ignorar a presença dos outros até estar completamente isolado e distraído dos malditos e irônicos problemas do coração.

Já se passara duas semanas e meia que eu estava em Santa Mônica, uma praia na Califórnia, e ainda não sentia o mínimo ânimo para aproveitar minhas últimas férias de verão antes da Universidade. Agora, depois de me alojar na casa de praia de Ethan Young, eu decidi dar uma caminhada a beira-mar, enquanto os outros viviam seus romances e fantasias. 

Eu havia concordado em passar o verão inteiro, pois uma certa loira insistente não largou do meu pé até eu ceder, e seus argumentos - como sempre - eram ótimos (não que eu não quisesse ter vindo, só pretendia passar menos tempo e não três meses), a UCLA - Universidade da Califórnia em Los Angeles - que eu tanto lutei para conseguir bolsa, ficava a 8,3 quilômetros dali e eu poderia conhecê-la melhor...

Enquanto andava e observava o abundante mar me lembrei de alguns estudos sobre meu antigo amigo despedaçado... O coração lança 5 litros de sangue no corpo em apenas um minuto; em uma hora, são 400 litros. Afinal, quantas batidas de um coração movimentariam o mar?

Me deitei sobre a areia e encarei o Sol intensamente, como se a estrela solar e eu estivéssemos em um duelo, o objetivo era não desviar o olhar, pelo menos assim eu concentrava a minha atenção em algo não pensante.

Acontece que nos livros e filmes raramente se fala de amores de inverno, mas Katherine Evans foi o meu. Ela chegou com o seu sorriso doce e olhar de cachorro pidão naquela enfermaria e tomou meu coração por completo, mas quando decidiu que era hora de partir, o levou com ela. Ela se foi junto com o inverno, e agora... bom, agora é verão.

Não posso soar dramático ou agir como vítima, pois fui eu quem decidiu se afastar antes de estar envolvido demais. Eu decidi não lutar.

Frequentemente a conversa que tive com Jose Evans - mãe de Katherine - gira na minha mente e não consigo evitar os pensamentos seguintes - que ela me disse para não pensar -, as possibilidades do que poderia ter sido.

− Querido, eu não quero te magoar, mas tem coisas que precisam ser ditas, pois, servem como aprendizado para situações futuras... − ela fez uma pausa e eu sabia o que viria a seguir − Naquela época, talvez se você tivesse dado a menor das possibilidades de um futuro para a Katherine, se você não tivesse desistido tão fácil, o Richard não teria chances com ela, ela tinha olhos apenas para você, Henry. Katherine era completamente apaixonada por você - no início - e teria largado tudo para ficar contigo, todos sabíamos disso, por isso Ethan e Rick ficaram tão intimidados por você, eles sabiam que era uma palavra sua e ela teria a certeza da qual precisava. Mas meu querido − pegou minha mão −  essa era apenas uma possibilidade com verdades que não foram concretizadas. Vocês são novos demais... tem que aprender que sempre tem um "mas, porém, entretanto e todavia". Tudo tem um propósito e talvez isso apenas prorrogasse o coração partido. Algumas pessoas estão destinadas a partir e ter o coração partido até encontrarem a pessoa certa. E eu sei que a sua pessoa não demora a chegar. Por isso, não fique pensando nisso, pois sei que você já tinha essa ideia dentro do seu interior, o talvez mata mais do que mil palavras.