CAPÍTULO 4

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Parece uma noite perfeita
Para se apaixonar por estranhos
Estamos felizes, livres, confusos e sós da melhor forma
É miserável e mágico
Oh, sim
Está é a noite em que esqueceremos os corações partidos

( 22 - Taylor Swift )


A festa era numa casa de dois andares em frente à praia, ela era toda azul e branca com milhares de luzes de natal piscantes. Os adolescentes bêbados estavam por todos os lados, assim como a música crescente - parecia que tinham auto falantes espalhados por toda a casa - e o cheiro de álcool. Dez horas da noite, era essa a hora em que tudo começava, e isso não melhorou em nada o meu humor, eu preferia muito estar estudando, assistindo ou dormindo durante a noite, mas cá estou eu, numa festa de verão. 

Mais cedo naquele dia, Katherine e Zoe não largaram do meu pé até eu vestir uma roupa decente (conforme os critérios delas) e passar duas borrifadas de perfume (não uma, pois o perfume sairia. Não três, pois ficaria forte e explícito demais. Apenas duas, o ideal. E eu achando que já era sistemático o suficiente).

Sendo assim, agora eu vestia um shorts de praia com estampa de folhas azuis e brancas, uma camisa branca com as mangas arregaçadas e com os três botões de cima abertos e um chinelo de talas de tecido.

— A camisa aberta fica melhor — Katherine dissera me observando enquanto Zoe discordara.

— Fechada fica melhor...

— Meio-termo, que tal? — Katherine fez uma contra-proposta que Zoe concordou e ambas ignoravam a minha presença. — Ok, mas ainda falta alguma coisa... — ela deu dois passos para trás, me analisou de cima a baixo e saiu correndo pelo corredor.

Depois voltou com uma sacolinha de presente na mão e me entregou.

— Eu ia te dar no seu aniversário, mas eu encontro outra coisa até lá. Vai Henry, abre!

Retirei do embrulho uma pequena caixa preta e olhei para Katherine que estava ansiosa para ver se eu gostaria do seu presente. Dentro continha uma corrente de prata que atravessava o pingente no formato de um retângulo fino e comprido na vertical, o pingente possuía quatro lados e, girando-o, uma frase talhada na prata se formava.

"Some people are part of our life, but other people become part of us" (Algumas pessoas fazem parte da nossa vida, mas outras pessoas se tornam parte de nós).

Eu sorri e a abracei, não poderia esperar um presente mais perfeito que aquele, principalmente vindo dela.

— Ele é incrível, eu o amei, muito obrigado! — agradeci de coração.

— Fico feliz que tenha gostado! — ela o colocou no meu pescoço e eu sorri.

— Nunca mais vou tirá-lo.

Agora eu estava ali, parado na praia sem a mínima vontade de entrar na festa. Todos já haviam penetrado naquela multidão de pessoas bêbadas e me deixado para trás,  convencidos - por mim - que eu havia combinado de esperar Collen na frente da casa.

E como ela tinha uma boa dedução das minhas ações, andava distraída pela areia molhada com as sandálias nas mãos, me esperando. Naquela noite eu percebi que a personalidade de Collen não estava apenas no seu interior, ela estava estampada em cada parte do seu corpo até as suas roupas. 

Ela usava uma calça flare branca de cós alto, uma blusa de tricô de alcinhas na cor terra e um kimono boho azul estampado por fora e listrado em tons de terra, caramelo e vinho por dentro com umas cordinhas desfiadas nas pontas.

Ela estava... apresentável.

— Que mania chata que você tem de observar os outros hein — comentou sem tirar os olhos da água oscilante que banhava seus pés.

— Que mania chata que você tem de achar que as pessoas estão sempre olhando para você — retruquei rapidamente, andando devagar em sua direção.

— Mas elas estão! — virou-se para mim com os olhos bem abertos — Você nunca teve a sensação de que estava sendo observado?

— Não tanto quanto você, imagino.

Ela inclinou a cabeça um pouco para o lado e me encarou indignada, depois levantou a sobrancelha e se voltou para o mar. 

— Você tem duas moedas, Henry? 

Estranhei sua pergunta, mas mesmo assim passei a mão nos bolsos em busca da minha carteira.

— Duas moedas de cinco centavos servem? — perguntei observando que além das notas de dólares, só haviam às duas pequenas moedas.

— Claro!

Entreguei-as a ela e guardei novamente a carteira.

— Vem comigo — Collen me puxou pela mão para dentro da casa e só parou de andar quando ambos estávamos na frente da piscina. — Agora faça um pedido e jogue a moeda na água.

— Mas a piscina não é um poço dos desejos...

— Ela pode ser se você acreditar que ela é. Veja bem, seu desejo pode não ser realizado se você jogar essa moeda num poço, já que não acredita nesse tipo de coisa. Como tem, também, a probabilidade de ser realizado se você jogar nessa piscina fingir que ela é mágica. Afinal, um poço é apenas uma terra escavada que contém água parada em algum lugar. Não vai mudar se for lá ou aqui, agora, faça um pedido e jogue a moeda.

Até que a sua lógica era interessante e convincente, então a obedeci, querendo muito que suas palavras fossem reais.

Então eu fiz o pedido sem pensar tanto, pedi para o destino, a moeda, a piscina, o universo, pedi até para Deus que aquela essência e vida que Collen tinha permanecesse na minha vida para sempre, afinal, eu já havia perdido aquele lado sonhador e positivo há algum tempo, e queria ele de volta.

Sem perceber, eu havia desejado ela para aquela moeda, ou pelo menos, desejado a presença inebriante dela.

A gente sente quando uma pessoa vai se tornar importante na nossa vida, mas eu não deixaria que ela soubesse - pelo menos por enquanto -, continuaria agindo como um babaca e, se ela gostasse de mim ainda assim, talvez eu pensasse na possibilidade de me abrir para uma nova amizade.

— Qual foi o seu pedido? — ela perguntou curiosa.

— Como alguém que propôs os pedidos, você deveria saber das regras sobre os desejos... — ela continuou me olhando esperando a resposta — Eles não se realizam se nós contarmos.

— Bom, se é assim... — ela deu de ombros. — E então, o que acha de uma bebida agora?

— Se você me deixar bêbado vai ter que ter responsabilidade, cuidar de mim e me levar até em casa, pois eu não costumo beber. — avisei.

— Isso não vai ser problema, vem! — me puxou para dentro da casa.

Corações, Remendos e HenryOnde histórias criam vida. Descubra agora