CAPÍTULO 3

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Memorizá-lo foi tão fácil quanto saber todas as palavras

Da sua velha canção favorita

Brigar com ele foi como tentar resolver palavras-cruzadas

E perceber que não há resposta certa

(Red - Taylor Swift)


Na minha vida existe um certo equilíbrio que eu notara apenas agora.

Um tempo as coisas ficam paradas, é apenas dor, sofrimento e estudo, uma monotonicidade inquebrável. Até que, do nada, alguém pede gelo para a cabeça ou tropeça no seu tornozelo e tudo muda. De repente você está fazendo brigadeiro na casa desse alguém ou tentando estudar enquanto a outra pessoa canta e dança incansavelmente pelo seu quarto.

Collen não era muito de palavra, pois a única condição que eu colocara ela estava quebrando naquele mesmo segundo.

Depois de me seguir até em casa, ela insistiu e entrou para "bolarmos" mais o plano, que para mim, já estava bem claro, era apenas para ela me ligar quando precisasse. Mas ainda assim lá estava ela, cantando a plenos pulmões. 

Quando chegamos a casa estava vazia, não tive muita escolha, já que a loira tinha um dom com a manipulação e palavras, a chamada lábia. 

No meu quarto, eu estava deitado de bruços sobre a cama, tentando focar em biologia celular, desviei os olhos das minhas anotações quando Collen chegou perto do refrão da música Red da Taylor Swift, como eu observara antes, ela tinha uma voz incrível, mas mesmo assim eu estava incomodado com a sua presença.

Ela cantava com os olhos fechados, parecia sentir cada palavra, enquanto dançava feito louca os cabelos soltos exalavam um aroma de mar, protetor solar e uma fragrância adocicada e cítrica ao mesmo tempo. Não pude deixar de observá-la, eu queria muito parar, mas os meus olhos não desviavam, era frustrante. Talvez ver a felicidade dela fosse fascinante, talvez ela me fizesse sentir coisas - como divertimento - que eu não quisesse admitir, a única certeza que eu tinha em relação àquela garota era que a presença dela era intrigante.

— Cuidado, se você continuar me olhando por muito tempo pode se apaixonar sem nem perceber — Collen falou tirando os fones de ouvido.

— Tenho coisas mais importantes para fazer, como estudar — gesticulei apontando para os livros — e você está sendo muito impertinente, ainda mais depois do nosso acordo. Você não tem que ir lá no mar dar uma de surfista e cantar um Let it go?

— Let it go é da Elsa e não da pequena sereia, você está meio desatualizado, não? — se sentou na cama e cruzou as pernas, certamente ela não sairia de lá tão cedo.

— Desisto, o que você quer de mim? — fechei os livros, muito irritado de não conseguir me concentrar.

Eu estava a ponto de jogá-la sobre os ombros, levá-la até a praia e arremessá-la no mar. Meu auto controle estava de parabéns.

Collen sorriu, novamente. Parece que a repulsa que ela sentiu de mim lá no quiosque já havia desaparecido, assim como a lembrança do que ela concordara fazer.

— Qual é... vamos começar de novo! — ela estendeu a mão — Sou Collen Moore, tenho dezoito anos, sou professora de surf - para crianças - e passei na UCLA em biologia marinha, gosto muito de cantar e você nunca vai estragar o meu bom humor.

Admito que me surpreendi com o seu currículo, ela estava começando a ficar fascinante aos meus olhos, mas eu nunca confessaria isso a ela. Além de bonita, a garota era inteligente, e bem humorada, talvez não fosse tão ruim me abrir para ela, eu adoraria ter uma amiga, mas ainda tinha medo de me abrir e perder alguém novamente.

Apertei a sua mão.

— Henry Shurmann, tenho dezoito anos, trabalhava em uma farmácia e era estagiário da enfermaria do colégio até o fim da primavera, jogo basquete, passei em medicina na UCLA e meu humor já foi melhor.

— Talvez eu goste de você, pelo menos uns vinte e cinco porcento, depois que você deixou de ser grosso e passou a ser mais sociável.

Eu já ia abrir a boca para me explicar, mas ela foi mais rápida.

— Eu sei, estudo e foco, mas você nunca vai saber se tem um amigo atrás do rosto de um desconhecido se não abaixar um pouco essas barreiras e ser menos arrogante.

— Ok, você está certa.

— Eu sempre estou certa. — ela disse sem um pingo sequer de sarcasmo.

Era interessante como qualquer frase que seria facilmente descrita como mal-educada, na boca dela, saia como as palavras mais doces da terra.

Uma batida na porta me fez despertar dos pensamentos sobre Collen Moore. 

— Entre — balbuciei sem pensar previamente.

— Henry você não sabe o que aconteceu... — Katherine entrou toda animada, mas parou dois segundos depois de ver Collen e ficou sem graça. — Opa, desculpa, não sabia que estava ocupado... — ela se desculpou, mas logo se virou para Collen e a cumprimentou gentilmente — Sou Katherine, a amiga sem noção de privacidade do Henry...

Collen sorriu como se Katherine fosse sua melhor amiga.

— Collen — se apresentou — a garota que chutou a canela dele na praia. — Katherine riu.

— Aconteceu algo parecido quando eu conheci ele também. Mas enfim, — retornou ao assunto que queria me dizer anteriormente — um amigo do Ethan vai dar uma festa hoje a noite, eu vim te convidar, e estendo o convite para você também Collen.

— Estarei lá, com certeza.

— Perfeito! Vou avisar para o pessoal que vocês vão, até mais tarde — Kathe deu um beijo no rosto de Collen como se fossem velhas amigas e foi embora.

Collen se voltou animada para mim.

— Uma festa! Essa noite você vai tirar essa carranca e se soltar, como dizia minha amada Taylor Swift: sim, está é a noite em que esqueceremos os corações partidos. — cantou a última frase.

— Vou tentar ser mais sociável, o resto é por sua conta, eu não vou beber.

— Isso é o que nós vamos ver!

Seu olhar era desafiador, mas eu esperava muito que as palavras dela e da Taylor estivessem certas, eu queria mesmo esquecer o coração partido. A parte de Collen que discordava de mim era libertadora, eu sei que não sou fácil, mas ter alguém que me desafie a fazer coisas novas pode ser interessante nessa parte da minha vida, nessa nova fase.

Talvez aquela desconhecida merecesse uma chance, pois digna ela já havia se provado.

— Agora, me diga, o que você acha que eu devo vestir? 

— Sou péssimo em fazer escolhas.

— Você fez uma boa escolha quando escolheu a Katherine para partir seu coração. — retrucou sem maldade.

— Eu nem vou te questionar mais sobre como você sabe das coisas, se você fosse a Alice de Crepúsculo que previsse o futuro, eu não me espantaria. 

— Se eu fosse a Alice Cullen eu teria previsto que viria a te conhecer e diria que você me deixou esperando um tempão, mas por agora, eu prefiro dizer que você é péssimo em esconder as emoções.

Corações, Remendos e HenryOnde histórias criam vida. Descubra agora