CAPITULO 2

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"Ele não para de falar
que agora a gente namora,
só esqueceu de me avisar,
Eu não sei se você sabe
mas eu tenho que aceitar..."

(Esqueceu de me avisar –
BFF Girls)

– Um suco de morango, por favor – Collen pediu ao atendente.

– Você não queria suco de laranja? – franzi o cenho.

– Ah, qual é Henry... Estamos no século XXI, eu tenho o direito de mudar de escolha!

– Não está mais aqui quem falou – imitei seu gesto anterior e levantei os braços, em sinal de rendição – Dois sucos de morango, por favor.

Collen semicerrou os olhos na minha direção.

– Eu te devia um favor, não dois.

Revirei os olhos.

– Haha, você não perde uma – respondi em tom sarcástico.

– Você sempre foi tão amargo assim ou alguém quebrou seu coração? Aposto dez dólares na segunda opção.

Collen era mais do que direta, em outros tempos eu citaria essa e mais qualidades que ela tinha (sinceridade) como algo admirável e atraente, mas agora eu só conseguia pensar no quão irritante era a perfeita dedução que ela tinha da minha vida em apenas vinte minutos de conversa (ela fala muito mesmo, e eu ainda não decidi se isso é um ponto positivo ou negativo).

Analisando bem a situação, era até que um problema óbvio, já que a maioria das pessoas tem o primeiro coração partido na transição da fase da adolescência para a fase adulta. E, infelizmente, eu não escapara desse desagradável número crescente.

– E eu aposto dez dólares que você não consegue ser mais indiscreta, insensível e intrometida. – retruquei, tentando ocultar - miseravelmente - o meu desconforto.

Collen sorriu.

Aquela garota era um mistério!

Ela devia ser do contra, só pode!

– Toquei na ferida, não foi?! – ela sorriu mais abertamente quando viu minha cara de irritado.

Francamente! Eu não sei o porquê de estar aqui ainda. Ver a Katherine e o Richard dormindo agarrados na rede de praia da casa de Ethan parecia bem mais saudável do que continuar aquela conversa monopolizada por Collen.

– Acho que esse suco não vale tudo isso... – disse sério para Collen e me levantei para ir embora.

– Espera!

Me virei para ela e esperei o que diria a seguir. Novamente seu olhar foi levado para um ponto atrás de mim. Me virei descaradamente e encontrei Brian com o braço ao redor de uma garota, provavelmente Sophie.

Voltei meu olhar para Collen, com um sorriso cínico no rosto e voltei a me sentar.

– Você é um debochado, arrogante e cínico! – essa foi a vez dela de resmungar.

– Parece que eu descobri o seu ponto fraco também.

Ela olhou novamente para o casal com uma cara de nojo, depois voltou-se para mim.

– Eu não gosto de você.

– Eu percebi, não faço questão também e afirmo que é recíproco. – respondi estranhando a declaração súbita, porém, dela eu poderia esperar qualquer coisa.

– Dito isso, eu te faço uma proposta...

Levantei a sobrancelha, interessado para ver onde aquilo ia levar, mas com certeza de que não queria me envolver. Fiquei calado, apenas esperando que ela continuasse, por pura curiosidade.

– Você quer ser meu namorado de mentira?

Eu caí na gargalhada.

Piadista, eu poderia colocar na lista de adjetivos de Collen.

– É sério! – ela me interrompeu frustrada – Preciso me livrar daquele cafajeste do meu ex namorado, e você pode me ajudar com isso...

– E por que eu iria querer fazer isso?

– Bom... – ela disse pensativa – posso te ajudar com essa sua ferida aí. Com a garota, eu digo.

– Não.

Katherine estava visivelmente feliz, e isso era o que mais importava para mim. O brilho nos olhos quando ela olha para o Rick, as bochechas vermelhas de vergonha quando ele a provoca, o beijo caloroso que eles trocam quando pensam que não tem ninguém observando... Ela já fora assim comigo, um dia.

Eu sabia a sensação, eu a perdi.

E não sou egoísta a ponto de querer que ela perca isso também.

Os dois se completavam, eu podia ver isso quando não estava com dor-de-cotovelo.

E a última, e mais importante decisão que eu já havia tomado em relação a esse assunto, eu decidira ser amigo dela. Amigo de verdade, não só forçando pela frustração do que não deu certo.

– Por favor Henry... – ela implorou e eu percebi que o casal se aproximava.

– Com uma condição... – sussurrei e me sentei ao seu lado.

Collen sorriu, não sei se por atuação ou por alívio.

– Qualquer coisa – concordou.

– Collen, nossa, você mudou esses últimos tempos – a garota falou com um tom de deboche.

– Verdade – entrei na conversa – minha namorada está cada vez mais gata, não é Brian? – provoquei e ele deu um sorriso sem graça.

– Ahn... claro. – coçou a cabeça.

Sophie se virou para ele, visivelmente enraivecida.

– Mas é verdade! – ele se defendeu e ela saiu marchando dali.

Brian correu atrás da namorada e eu voltei novamente para o meu lugar.

– Obrigada. Mas, então... – o atendente nos serviu os sucos – Qual a sua condição?

Tomei um gole do suco enquanto parava para pensar.

– Se isso vai durar até o seu ex largar do seu pé... Imagino que tenha que ser o mais verdadeiro possível... – ela confirmou – Provavelmente vamos passar um tempo juntos, o que eu já deixo claro que não é do meu agrado. Então, quando o seu ex não estiver perto, você vai me deixar em paz, essa é a condição. A minha prioridade é estudar e eu não quero me envolver com seus dramas pessoais, mesmo já estando enrolado nisso.

– Você está querendo me dizer que a sua condição é apenas te deixar em paz?

– Isso, e sem envolvimentos pessoais. Afinal, não te conheço e não sei que tipo de garota é, você pode estar me fazendo essa proposta por ser bem astuciosa...

– Você é muito paranoico! –  fez careta – O tipo de garota que eu sou? Sou do tipo que está apenas tentando se ver livre de um cara nojento. 

Ela havia ficado visivelmente irritada com a minha declaração, e não era para menos. Eu havia insinuado coisas que não deveria, mas não podia concordar com algo sem fazer que ela me "odiasse" um pouquinho. Eu estava fechado, Collen era uma mulher bonita, mas eu não queria nem a sua amizade, isso já me trouxera problemas outrora.

– Estou começando a achar que você é assim também – suas feições sorridentes haviam sumido.

– Ótimo, porque para isso funcionar, o carisma e simpatia devem ficar apenas para as mentiras.

Ela ergueu a sobrancelha e tomou um gole de suco, provavelmente analisando o meu ponto de vista. 

– Ok, eu oficialmente não gosto de você. – Collen estendeu a mão e eu a apertei.

– Nem eu de você!  

Corações, Remendos e HenryOnde histórias criam vida. Descubra agora