Corações, Remendos e Henry

CAPÍTULO 7

Eu sei que acontece com você também
Não negue para mim que você se sente bem
Eu sei que você
Você sente algo por mim
Porque negar esse amor?
Se os seus beijos confirmam tudo

(Bajo lá mesa - Morat e Sebastián Yatra)

COLLEN MOORE

Eu o conhecia a apenas quatro dias e achava estranha a sensação de estar perto dele.

Porque no início ele estava fechado, era mal-humorado e aí de quem chegasse perto dos muros altos que havia construído com tanto esmero ao seu redor.

Agora Henry Shurmann estava diferente, me tratava com delicadeza, atenção e humor, claro que seu lado sarcástico e irônico aparecia às vezes, mas era com menor frequência.

Era estranho eu não lembrar de nada daquela noite, os últimos flashes de memória que me atingiram foi de Henry me carregando pela praia, e só.

Agora, vez ou outra eu me pegava pensando em como teria sido o beijo que dei nele, e como foi que ele reagiu, eu queria me lembrar da sensação...

Depois daquela manhã, não o enxerguei mais como ignorante e arrogante, de certa forma, ele conquistou um respeito e admiração por mim, pelos gestos pequenos - e ao mesmo tempo grandiosos - que fez para cuidar de mim. Agora eu também sabia que podia confiar nele, que sempre estaria segura com ele, pois mesmo sendo grosso às vezes, ele jamais me faria algum mal.

— Ô tia — voltei minha atenção para Clara, minha mais nova aluna de surf — estou com dificuldade naquela manobra que você me ensinou.

— Tudo bem querida, é normal, você precisa de muito equilíbrio e no início é difícil mesmo, o mar é violento demais, vá lá, tome uma água e depois recomece com mais calma, ok?!

Ela assentiu e saiu saltitante em direção a mochila que estava na areia.

Estava um dia ensolarado e quente, algumas pessoas caminhavam por ali, mas não tinham muitos aproveitando o mar.

De longe, vi uma silhueta familiar se aproximar. Brian. Ele nunca me deixaria em paz?

Já não bastava ter me traído com a minha melhor amiga, agora ele me queria de volta? Homens são um mistério para mim, de verdade, e ainda dizem que mulher é complicada...

Forcei o sorriso mais cínico que pude e esperei para ver o que ele diria dessa vez.

— Collen, que coincidência...

— Coincidência? Eu trabalho aqui e você sabem muito bem disso. — cruzei os braços sem paciência.

— Bom... Na verdade... — Brian sorriu de um jeito bem cafajeste e ousou colocar a mão no meu ombro direito — eu vim te ver.

Será que se eu chamasse Henry em pensamento ele apareceria do nada?

Retirei a mão dele de mim, com uma expressão nada agradável no rosto.

— Perdeu seu tempo, pode ir embora agora.

— Amor...

— Eu estou sendo bem gentil com você, querido. E se você usasse pelo menos um pouquinho da sua inteligência, iria embora. Se não, aquele soco que te dei pode ser multiplicado, e você não vai querer esse seu belo rostinho de patife deformado... — ameacei nada simpática.

— Olha aqui...

— Algum problema com a minha namorada, Brian? — Henry, obrigada, eu te amo.

Virei em sua direção aliviada por enxergá-lo e o abracei.

— O que você quer que eu faça? — ele sussurrou perto do meu ouvido.

Então, eu decidi me aproveitar daquele momento para sanar as minhas dúvidas. Afinal, eu podia pensar em duas coisas ao mesmo tempo, certo?

Beijei Henry delicadamente, talvez pela surpresa, ele demorou uns segundos para retribuir, e quando eu senti que sua mão se aproximava do meu pescoço e o beijo iria se aprofundar, me afastei.

Reprimi os lábios e desviei o olhar de Henry a todo custo, meu coração batia na cabeça e eu estava completamente desequilibrada, as pernas estavam moles e meu corpo todo arrepiado, o que ficava bem visível já que eu usava apenas um shorts jeans e biquíni.

— O Brian já estava indo embora — afirmei, o mesmo revirou os olhos e voltou pelo caminho que viera.

Fiquei estática olhando para o mar, aquela sensação ainda percorria o meu corpo. Bom, pelo menos minhas expectativas haviam sido superadas...

— Collen? Tudo bem? — Henry me chamou e tocou no meu ombro, mas um segundo depois se afastou.

— Tudo, tudo, porque algo não estaria bem, não é mesmo? Está tudo ótimooo —  sorri e Henry riu.

—  Estava passando por aqui, e te trouxe um suco. Garanto que ele está ótimooo —   frisou na última palavra, ainda sorrindo.

Peguei o suco de morango e tomei quase metade dele de uma vez.

— Humm ótimo — sorri sem graça.

— Okay — Henry ergueu as sobrancelhas — então eu vou indo... 

Ele se virou para ir embora, deu dois passos e depois voltou.

— Olha, o pessoal vai fazer uma reunião na casa do Ethan hoje a noite, e eles meio que pediram para eu te convidar... — coçou o pescoço. Henry estava sem graça?

 — Tudo bem, eu vou. 

Henry acenou com a cabeça, sorriu sem jeito e se virou para ir embora. Mas dessa vez, eu o chamei de volta.

— Henry... Obrigada.

— Pelo suco — falei e ele sorriu — e pelo beijo...

 — Sabe, esse é o meu trabalho. Servir de cobaia enquanto você me beija não está sendo tão ruim quanto eu pensei. — Deu de ombros e eu engasguei com a minha saliva.

Henry gargalhou perante o meu surto de tosse.

— Te vejo a noite, namorada.

— Até lá, cobaia...

Ele saiu rindo enquanto eu ficava sem fôlego totalmente paralisada.

 Afinal, Henry Shurmann estava gostando de toda essa mentira?