Corações, Remendos e Henry

CAPÍTULO 9

Mas o problema é justamente esse

Cupido atirou, eu tava sem colete

E olha que é difícil despertar meu interesse

Mas às vezes a vida dá dessas

Amores só de ida, você vai e só se ferra

Quando cê menos espera, o coração

Batendo tipo o relógio que eu não paro de olhar

Desficava - GIULIA BE

Collen estava com a cabeça repousada no meu peito e rodeava a minha cintura com os braços, cansada de esperar, ela decidiu me usar como apoio, e agora estava praticamente deitada sobre mim. Eu só esperava que ela não pudesse ouvir o meu coração que estava levemente descontrolado com aquela cantoria.

Se eu fosse um pescador no mar, e ela uma sereia, certamente eu cairia nos seus encantos antes mesmo de olhar seu rosto.

Ajeitei as costas e recostei a cabeça na parede.

— Caramba, seus amigos nem sentiram a sua falta! — soltou mal-humorada e eu ri.

— Nem o seu irmão. — retruquei.

Ela ficou em silêncio por um tempo, mexendo distraidamente nos botões da minha camisa e, consequentemente, me causando arrepios.

O ambiente estava totalmente escuro, eu não conseguia enxergar nem um palmo à minha frente, mas sabia exatamente onde Collen estava, e aquilo me causava uma sensação estranha, como se meus dedos coçassem para tocar aquele cabelo que pareciam mais como raios de sol ou simplesmente cobiçassem deslizar sobre a pele exposta do seu braço.

Eu estava ficando louco alí dentro daquele cubículo.

— Você viu algum fósforo ou isqueiro por aqui? Não enchergar nada está me deixando apavorada — perguntou ainda grudada na minha cintura.

Tateei o balcão atrás de mim na procura de algum objeto parecido, mas sem sucesso. Me desvencilhei dos braços de Colen e tentei novamente puxar a porta.

— Não é possível que eles não possam nos escutar, não tem muitas pessoas nessa festa, e agora que a luz acabou, a música também... — comentei — Vou tentar chamar alguém.

Avisei antes de começar a gritar nomes aleatórios, não sei quanto tempo se passou até que ouvi outra voz pelo lado de fora da porta.

— Henry? O que aconteceu? Estávamos procurando por vocês — falou David.

— A porta deve ter enferrujado por causa da maresia, o trinco saiu aqui, não consigo abrir a porta por dentro — respondi.

— Tudo bem, se afastem da porta, vou chutá-la.

Peguei pelo braço de Collen e a puxei para o mais distante da porta, mesmo que fosse difícil num espaço de três metros quadrados. Quando David deu o primeiro chute, a garota, que quando conheci parecia o exemplo da autossuficencia e coragem, me apertou num abraço forte como se um boneco assassino estivesse tentando arrombar a porta para nos matar. Eu sei que posso ter um humor questionável, mas agora não era hora de brincar com os medos dela, mesmo que fosse fofo e contraditório, então a envolvi em meus braços, colocando uma das mão em sua cabeça, para protegê-la caso algo saísse voando por alí.