Dia da Visita

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   Às três horas, a primeira pessoa que apareceu, óbvio, foi o Ezequiel. Escutei o portão da frente bater.
- Boa tarde, Liam. -falou pro meu primo que atendeu a porta.
- Oi, Zequi! Seja bem vindo. Entre, entre. -Liam parecia um pai coruja, mais animado com a situação do que eu.
Eu estava no meu quarto. "Agora, eu tenho que receber os convidados!", pensei.  Desci a escada bem devagarinho colocando a cabeça pra baixo pra ver quem havia chegado.
- Ezequiel? Só veio você? -perguntei claramente decepcionada.
- Como assim, só eu? Eu cheguei cedo, porque moro na outra esquina. Os outros vão chegar já.
- Laura -falou Liam pegando uma bolsa da cadeira e subindo as escadas. -, eu tenho umas tarefas pra corrigir. Por que você e o Zequi, não estudam um pouco?
Nos entreolhamos, e depois olhamos pro Liam.
- Boa ideia. Vou pegar meu livro.
- Ah, não precisa. -falou tirando um livro da bolsa; -Tome o meu.
  Peguei o livro meio surpresa. Liam subiu pra fazer estudar, eu acho, enquanto o Ezequiel e eu ficamos esperando os outros com o livro de física.
- Você tem alguma dúvida?
- Mmm... Desde o sumário até a última página. -respondi rindo junto com ele.
  Quinze minutos depois, chegaram as meninas junto com o loiro.
- Uau, Laurita! Sua casa é enorme!
- Ela é do meu primo. E para de me chamar de Laurita! É chato.

  Ezequiel baixou a cabeça, com a cara de "ela nunca me disse isso...". Dei uma risada.
- Puxa, me desculpa. É que o Zezé te chama assim... Achei que gostasse.
Olhei pro clima pesado que eu havia criado. Fiquei meio vermelha de vergonha. "Eita, acho que fui grossa..." pensei.
- Então, posso te chamar só de Laura? -perguntou Alexander, segurando minhas mãos firmemente e se aproximando do meu rosto. Arregalei os olhos.
Neste mesmo, Ezequiel se levantou e me separou dos braços do Loiro rapidamente, dessa vez, segurando mimha cintura mínima.

- Ops.
Olhei bem pro seu rosto. Estava totalmente diferente, ameaçador. Nunca tinha visto ele assim.
- É que tinha um bicho no seu cabelo! -falou Suzana, a de trança, apontando pro meu cabelo.
Ficamos nos olhando por um tempo.
- La-Laura! Cadê seu saxofone?  Trás cá pra gente ouvir você tocar! -sugeriu Mei, a de cabelo loiro e cacheado.
- Boa ideia! -concordei tentando aliviar a tensão, como as meninas estavam fazendo; -Vou lá em cima pegar. Se comportem, ok?
  Subi as escadas correndo, pensando no acontecimento. Aquilo era normal entre amigos? Se abraçar pela cintura sem mais nem menos...?
Dei de cara com o Liam que estava lendo um gibi de 18+. Acho que era de terror... O que mais poderia ser, né?
-  Ué, cê tá vermelha, prima! Aconteceu alguma coisa? -falou fechando seu material de leitura.
   Acho que fiquei mais ainda, quando olhei no rosto do Liam.
- An? Ah, não! Eu só vim pegar o saxofone! Eles queriam me ouvir tocando!
- Oh. -suspirou, reabrindo o gibi pra maiores, na página anterior -Sendo assim, tudo bem.
  Peguei o sax no quarto e desci, dessa vez devagar, na esperança de já estar tudo bem.
- Ei, pessoal! Cheguei com o saxofone!
  Eles estavam sentados quietinhos olhando pra mim.
- Ah, ela voltou. -disse Mei sentada no canto do sofá.
- Que música vai tocar pra gente? -perguntou Suzana, curiosa.
   Toquei nas protuberâncias do belíssimo saxofone, me prepando pra tocar. Toquei uma música fraca, porém, intensa. Suave e tocante. Essa música me lembrava meu pai. Fora ele quem havia me ensinado a tocar. Lembrava dos momentos que passamos juntos, felizes. Nao pude segurar uma ou duas lágrimas.
- Uau. -declararam todos em coro.
  Dei um sorriso fraco, mas sincero. Meu rosto, certamente estava um bagaço. Olhos molhados e bochechas vermelhas. Parecia até uma franguinha...
- E então? Vai pro colégio amanhã? Você vai, não vai? -perguntou Mei.
- Vou, claro! -respondi, ainda com o sorriso lerdo no rosto, que não queria sair de jeito nenhum.
      E assim, aquela tarde terminou.

Laura SaraivaOnde histórias criam vida. Descubra agora