Algo estava muito errado. Por um segundo eu achei ter visto o...
- Laura!
Voltei minha atenção para a porta do banheiro. Era a Mei.
Os olhos da Mei estavam alargados e bem abertos, como se sentisse pavor do que estava vendo. Eu, talvez.
- La-Laura... -gaguejou. - Tudo bem?
Tentei voltar a mim, balançando a cabeça loucamente para os lados. Estava decidido: Eu não havia visto nada.
- Tudo ótimo -confirmei. - Por que não estaria?
Ela caminhou até se encontrar ao meu lado, apoiando a mão em meu ombro.
- Você viu, não viu? -seu olhar era de piedade e preocupação. Ela sussurrou. - O Demetrius.
Arregalei os olhos do pavor que era ouvir esse tipo de frase. Comecei a tremer por inteira, me agachando e segurando o topo da cabeça com força, enroscando os dedos nos fios desgrenhados. Fiquei apavorada só de relembrar da cena macabra que havia acontecido a dois anos atrás, na qual eu lembrava perfeitamente bem.
- Não... Não... Não... -repeti incansavelmente, até que penetrasse em mim mesma.
Mei estava sem reação ao meu comportamento bizarro e tão estranho. Ela não poderia imaginar que meu trauma teria tal capacidade destrutiva.
Eu sentia calafrios por todo o corpo, só de lembrar ele retirando seu pirulito da boca, com seu chapéu fazendo sombra nos olhos. Se me perguntassem, eu diria que o Demetrius é imagem do Seifador Sinistro. Eu estava com medo. Morrendo de medo.
**
Não sei quanto tempo eu passei abaixada alí, mas a Mei não estava mais ao meu lado. Eu me encontrava sozinha, já que as meninas que queriam fazer suas necessidades no cômodo, desviavam seu caminho por causa de mim. Eu ainda estava surtando sozinha lá, murmurando coisas sem sentido e comum olhar de dar medo. Provavelmente por isso, eu não vi alguns homens correndo rapidamente.
- Senhorita!? -alguém chamou-me.
Levantei os olhos bruscamente e pude ver um homem de cerca de quarenta anos, usando uma farda composta azul escura, com alguns distintivos pendurados. Um chefe de polícia, talvez?
- Oh - exclamei envergonhada, levantando e limpando automaticamente a sujeira de meus joelhos, sorrindo feito uma boba. - Me desculpe se estava no seu caminho...
O homem analisou meu rosto estranhamente, parecendo pensativo e acusativo ao mesmo tempo. Com seu polegar e indicador começou a alisar seu bigode.
- Hmm...
- Tu-Tudo bem... - eu disse, dando passinhos pra frente discretamente, tentando sair dalí. - Eu-Eu vou indo, então.
- Você... -ele me parou com suas palavras. - Você estava chorando?
- Ah... -eu disse, passando os dedos nas minhas pálpebras molhadas. -Não foi nada. Sabe como são os namorados... -menti.
- Não. -ele disse com força. -Eu não sei.
Por incrível que pareça, ele me fez rir um pouco. Me despedi e comecei a caminhar normalmente até a sala.
- Laura! - Mei estava vindo pelo mesmo caminho com uma garrafa de chá na mão. Quando me viu, derrubou-a e correu em minha direção. - Me desculpe a demora, por favor! Eu só queria ter te dado um pouco de chá verde para te acalmar...
Encarei seu rosto de alívio e auto decepção até sorrir calma.
- Tudo bem -eu disse, alisando seu cabelo brilhoso. - Já esta tudo bem, sério.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Laura Saraiva
RandomLaura é uma adolescente normal de 15 anos que perde sua família, após um crime gravíssimo cometido pelo seu irmão mais velho. Agora ela mora com seu primo e vai ao colégio normalmente, porém, ela se esconde do assassino que anseia terminar seu traba...